quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Entre ‘O Rito do Pão’ e ‘O Que É Feito de Nós’ – David F. Rodrigues, uma voz poética singular

  

Usarei aqui duas categorias que não são estéticas mas que me servem para situar um pouco a poesia de David F. Rodrigues. Passo a explicar: assim como existem pessoas «muito dadas» e outras, mais fechadas, mais reservadas, tenho para mim que existe uma poesia moderna e contemporânea que se  mais e outra que, em contraste, reclama do leitor um esforço maior de leitura e releitura, considerando que nitidamente esta segunda apresenta mais pontos de indeterminação semântica do que a primeira. Vou dar exemplos. Dão-se mais, permita-se a expressão, as escritas dum Régio ou dum Joaquim Namorado, dum Sebastião da Gama ou dum António Gedeão, duma Sophia de Mello Breyner Andresen ou dum Manuel Alegre; dão-se menos a escrita paùlista e interseccionista de um Pessoa, os Poemas Surdos de um Edmundo de Bettencourt, o surrealismo de um António Maria Lisboa, a poesia dum António Ramos Rosa ou mesmo dalguns poetas de Poesia 61, como Fiama Hasse Pais Brandão, isto para não falar no Carlos de Oliveira de Pastoral ou em Herberto Helder. Esta espécie de asserção introdutória não envolve, sublinhe-se, um juízo de valor crítico nem a em relação a uma tendência nem em relação à outra. 
    A poesia de O Rito do Pão (2.ª ed. reescrita e acrescida, 2021) e de O Que É Feito de Nós (2.ª ed. actualizada, 2022), cujas primeiras edições datam de 1981 e 1988 respectivamente, está mais próxima desta segunda categoria de poetas, até por razões geracionais. Embora jovem de mais para pertencer ao tempo do grupo de Poesia 61, certo é que David F. Rodrigues (n. 1949, Ponte de Lima) colhe ainda destes poetas certa obsessão pela opacidade da linguagem, na procura duma não discursividade, numa escrita contida e depurada que acabará por ser levada a um limite por poetas duma geração posterior (como é a de David F. Rodrigues), também por alguma influência dum poeta admirado pelos de Poesia 61, ainda que mais velho do que eles: António Ramos Rosa – talvez não por acaso convocado, por via duma pequena epígrafe a modos que posfacial, para fechar O Rito do Pão. Em alguns destes poetas a que me refiro, o cuidado posto na combinação da sintaxe poética com o ritmo e a dicção tornará a sua linguagem mais opaca e antidiscursiva ainda, nomeadamente pelo recurso a elementos estilísticos que, em David F. Rodrigues, aliás são recorrentes: o hipérbato, em suas diversas formas, e a elipse, e, ao nível versificatório, o enjambement. No poeta que aqui nos ocupa, o abandono das convenções pontuacionais assim como a opção pela minusculação reforça, é certo, este traço, mas também põe deliberadamente em evidência a palavra na sua nudez cristalina e na sua assumida pobreza (leiam-se os versos já referidos de Ramos Rosa (v. Rodrigues, 2021: 59) e a alusão que faz à «pobreza» da sua própria «escrita»).
    Dito isto, importa abrir um parêntese para precisar que se a poesia de David F. Rodrigues, nestes livros, é como estou a procurar caracterizá-la, já o seu autor, esse, considero-o uma pessoa particularmente dada e afectuosa, isto é, um bom amigo e um colega excelente, de temperamento convivial e bondoso. Uma pessoa que muito prezo e admiro. Tal como admiro a sua produção literária, quer como poeta e autor de narrativas quer como ensaísta e investigador.
    Voltemos então à poesia para acrescentar que esta espécie de empenho na criação duma linguagem outra, apostada na contenção discursiva, cheia de pontos de indeterminação, de termos e de passos de cariz polissémico e até de ambiguidades de sentido, deriva, por assim dizer, de uma desconfiança – radicada já no simbolismo e nos modernismos, atravessando a segunda metade do século XX e chegando aos nossos dias – em relação à fiabilidade comunicacional da palavra e à correspondência entre pensamento e verbo. Decorre ainda de um cansaço relativamente ao lugar comum, ao desgaste da palavra nos média, no discurso utilitário quotidiano e no discurso político. Por isso, a poesia de David F. Rodrigues pretende ser sempre resgate do cristal da palavra, como se desejasse, assim o queria Mallarmé (referindo-se a Poe) «donner un sens plus pur aux mots de la tribu». É isto que em parte explica a bela epígrafe de Raul Brandão que abre O Rito do Pão: «É com palavras, que são apenas sons, que tudo edificamos na vida. Mas agora que os valores mudaram, de que nos servem estas palavras? É preciso criar outras, empregar outras, obscuras, terríveis, em carne viva, que traduzam a cólera, o instinto e o espanto» (cit. por Rodrigues, 2021: 7).
    Constituída por dezassete poemas, a primeira e principal parte de O Rito do Pão é em boa verdade um hino magnífico e sentido ao ciclo do pão, sem dispensar certa implicação erotizante envolvida no maneio da terra, hino em que o poeta saboreia amorosamente não apenas o seu referente mas também os signos de maravilhosa ressonância poética a que deita mão, na sua rigorosa arte combinatória: húmus, semente, leito, alfobre, leira, soagens, relhas, vessadas, leivas, grade, arado, espiga, forno, arcas… Permito-me destacar esse poema belíssimo que é: «o lençol decora as leiras…» (Rodrigues, 2021: 12). A esta parte intitulada precisamente «o rito do pão» segue-se, mais curta, «o vagar da uva», cujos sete poemas se mantêm num registo semelhante aos da primeira parte e com ela, de certa forma, se articulam, nesse binómio de algum modo inseparável e de repercussões bíblicas e crísticas que é o pão e o vinho. Com composições de inegável beleza e sugestividade, o terceiro momento, «o corpo gémeo» – em que o campo léxico-semântico de corpo está representado em quase todos os poemas – reforça a ambiguidade do conjunto, naquela medida em que tanto nos confrontamos com uma sedutora conversão do mar em poema e do poema em mar (e David F. Rodrigues, como aqui se comprova, não é apenas um homem da terra e do rio, sendo também a sua escrita uma adicta da natureza costeira e do oceano) como nos sentimos voyeurs de uma aventura que o desejo tece na forma de palavras em sua ligação a um corpo amado. Dois exemplos belíssimos, neste aspecto, são os poemas oitavo, «o orvalho acende pela manhã…», e nono, «o rio cresce até à boca…» (Rodrigues, 2021: 48 e 49).
    Avançando pelas mãos de metáforas originais, da vertente aforística e de versos próximos do haiku que já marcam algumas composições de O Rito do Pão, chegamos a O Que É Feito de Nós
    A segunda obra surpreende, desde logo, pela sua natureza de livro de poesia ilustrada (trinta desenhos), tarefa gozosa de que se encarregou o pintor Francisco Trabulo. O traço, as formas e cores, o seu claro-escuro fazem sonhar o texto e, consequentemente, convidam o próprio leitor a sonhar, ao mesmo tempo que destacam elementos concretos do poema e enfatizam sentidos. 
    Sendo uma obra porventura mais reflexiva e filosófica, sem perder em sensualidade verbal, mais uma vez a polissemia atravessa todo o livro, a começar pelo título, permitindo-nos, como vários críticos antes apontaram, ler nós seja como pronome pessoal sujeito seja como substantivo significando laço apertado e unidade de medida da velocidade marítima/fluvial, entre outros valores semânticos. Esta característica, a par duma ambiguidade controlada, surgem, por vezes, activadas também pela partição de palavras em final de verso ou doutras maneiras. Agora há poemas muito breves que se aproximam ainda mais do haiku do que os do livro anterior, como o texto 2 (Rodrigues, 2022: 12), o 24 («o nenúfar agora seja / consentido barco ou porto / horizontal ao sonho indelével das águas») ou o 26 («um fio azul de fonte e / justo / o suicídio dos salmões») (Rodrigues, 2022: 56 e 60), e confirma-se o que a epígrafe de Saint-John Perse e o primeiro poema do livro, também muito breve, já anunciavam: a presença recorrente da água (esse elemento de forte ressonância materna), nomeadamente por meio de palavras da sua esfera léxico-semântica, como rio, termo aqui relevante.
    Mas, à medida que vamos progredindo na leitura, apercebemo-nos de alusões a cenas de infância, à mãe, à descoberta do corpo e do amor, à relação humana com outros e com a natureza, a um desabrochar, se quisermos a um crescimento comparável ao do próprio rio. E começamos a eventualmente compreender o título de uma obra que fala de um nós, logo de um eu e de outrem, ao mesmo tempo que se refere aos nós-laços que ligam o sujeito a outros, ao tempo que é o seu e ao mundo, ou aos mundos. Os que o constroem e os que ele próprio constrói. 
    Difícil eleger uma composição, tão belas e comoventes várias delas são. Mas fixo-me num dos poemas à mãe («discreta levantas da arca…» – Rodrigues, 2022: 32), um quase-soneto estrategicamente situado num quase-centro do livro, a pouco menos de metade deste corpus textual formado por trinta composições.
    Quase a terminar, lembro que também este livro, inicialmente surgido em 1988, sofreu depurações várias, como eliminação de maiúsculas (repare-se que ambos os títulos são, nestas reedições, grafados com minúsculas, tal como na capa o nome do poeta) e supressão de pontuação – aspectos que não o são apenas de grafismo, possuindo implicações semânticas e de identidade estilística e autoral. O escritor quis ainda reunir, numa segunda parte do volume, uma coleção de textos breves produzidos por diversas vozes críticas quando da saída da primeira edição de O Que É Feito de Nós. O conjunto aclara a leitura mas sobretudo dá conta da recepção crítica feliz da obra à época em que veio a lume pela primeira vez. Contudo é principalmente o prefácio de Mário Cláudio, a pp. 5 do livro, o texto que lança luz sobre a série dos trinta poemas, ao afirmar: «é de uma nação tribal que nos conta, sobretudo, esta curta saga, povoada pela frágil meninice portuguesa, a que no “pão terno das camisolas” se reconhece, na genuinidade dos sentidos praticados pela desvairada inocência do homem que em amor os traduziu. Daí que se abracem estas folhas como um corpo verídico, de sangue circulante nas artérias do nevoeiro, tão próximo e tão longínquo como os que ao poeta autêntico foi dado experimentar».

    Magnífico «corpo» e espírito, acrescentarei eu, em viagem pelo rio da vida. 


Referências bibliográficas

Rodrigues, David F. (2021), O Rito do Pão, 2.ª ed. reescrita e acrescida, Porto: Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. 

Rodrigues, David F. (2022), O Que É Feito de Nós, 2.ª ed. actualizada, Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo (ilustrações de Francisco Trabulo).

Ponte de Lima, 19-11-2022


José António Gomes

Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais (IELC) do INED da Escola Superior de Educação do Porto

 

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Coração Modelado em Labareda: autoficção e um certo Portugal de 50 e 60

Como a ficha técnica assinala, o título da obra de Domingos Lobo em apreço parte dum verso de Egito Gonçalves – pertencente à chamada segunda geração neo-realista e associado a uma poesia da resistência ao status quo salazarista, nos primeiros livros do poeta. Coração Modelado em Labareda – Diário marginal de um adolescente no país do “botas” (Lobo, 2022) – é esse o título acrescido de subtítulo – abre as primeiras pistas de leitura, remetendo para a ideia de formação, de modelação de uma personalidade, uma modelação não neutra, morna ou tranquila, mas muito a quente e marcada pela inquietude e pela tensão. Por outro lado, o subtítulo abre a probabilidade de um discurso de primeira pessoa, produzido por um sujeito que narra a sua própria vida durante a adolescência ou até à adolescência. «Marginal» porquê? Um diário à margem da vida, logrando apenas captar, fragmentariamente, parte dela, como todos os diários? À margem da literatura – como sempre estiveram os diários? Escrito por um jovem à margem do seu próprio núcleo familiar ou do establishment escolar fascista? Por último, a referência ao «país do “botas”», ou seja, a Portugal, no tempo do ditador Salazar. Precise-se um aspecto mais: constituído por quarenta e seis capítulos curtos, precedidos de um poema em que se alude a Nagosela («espaço da memória essencial», p. 15), cada título desses capítulos remete o leitor para um ano em particular, havendo sempre, sobre cada ano, mais do que um capítulo. A acção é narrada respeitando a ordem cronológica dos acontecimentos. Encontramos, portanto, uma acepção alargada de «diário», que reenvia não para dias mas sim para anos ou para partes de anos – embora o narrador nos diga em certo passo do texto que, efectivamente, mantém um diário.

Que nos conta, então, este Coração Modelado em Labareda? Muita coisa. É simultaneamente a história da vida de um rapaz da pequena burguesia lisboeta, entre os seis e os dezanove anos, com relevo maior conferido aos períodos da infância e a adolescência. É ele o protagonista, é ele o narrador, em todos os capítulos, excepto no trinta e nove, no qual é concedida voz à criada Rita, em simultâneo amante do pai. E cresce, forma-se no confronto natural com os que o rodeiam e que são muitos.

Diria que essa história do tempo do «botas» foca dois complexos temáticos fundamentais. Por um lado, o despertar da sexualidade e o seu desenvolvimento, indissociável dum conflito com a «moral» estreitíssima – hipócrita, cheirando a sacristia e a mofo – e com a questão dos costumes, tal como formatados no contexto da ditadura fascista. Por outro lado, a narrativa é a pequena, mas em vários aspectos tensa e dramática, história da família do protagonista e do seu entorno social, ora em meio urbano ora em quadro rural. Uma família que habita na Rua do Arco do Cego (e cujos ancestrais, do lado materno, são de Nagosela): Maria Lobita (mãe), Armando (pai), Ramiro (irmão), o avô materno e ainda Rita (criada e mãe duma criança cuja paternidade é ambiguamente atribuída a Armando); são mencionados ainda dois irmãos mais velhos que não vivem na mesma casa. Amigos ou companheiros do protagonista, como Álvaro (sobretudo este), Pedro, Perneta (em Nagosela, a simbolizar sonhos de voo-escape) e outros ainda, gente como o primo Mário (de Nagosela), o professor Anselmo (cruel e de «ar azedo», p. 99) ou, também em Lisboa, o La Minute, fotógrafo gay, e Fortunato, o marçano assassino, são algumas das outras personagens que rodeiam o herói. Alguém que sabemos ser Lobo, de apelido, tal como o autor.

Temas como a escola salazarista, seus pretensos valores, suas práticas antipedagógicas e desumanas; o anti-salazarismo e a perseguição fascista dos opositores (quer o avô quer o pai são viscerais opositores, no plano estritamente individual, sem qualquer acção organizada contra o regime, ainda que o pai venha a ser preso por algum tempo); a repressão pidesca e a censura; as eleições presidenciais fraudulentas de 1958; o início da Guerra Colonial em 1961; e outros temas ainda marcam o cenário histórico do início da segunda metade do século XX em que decorre a vida deste narrador-personagem e da sua família até à morte do avô, até ao emergir de um rumo vocacional e até à procurada saída para um mundo de liberdade, por via de uma primeira viagem a França por volta dos dezoito-dezanove anos. Será uma das primeiras fugas passageiras à opressão do Deus-Pátria-Família fascista (evocado em vários momentos da narrativa e no capítulo 44, já perto do término da obra) e ao peso de «uma família a desmoronar-se» (p. 155).

Direi, contudo, que o anseio de liberdade é talvez a força motriz quer deste herói «modelado» na «labareda» do seu tempo histórico (labareda sociopolítica e de cariz sexual) quer do próprio romance. E utilizo, finalmente, aqui este termo, porque o vi usado pelo próprio escritor num epitexto (mas já lá iremos à qualificação genológica deste texto). E, a ser assim, parece-me que existem neste livro traços do chamado romance de formação.

Não se pense, contudo, que esta atmosfera de tensão abafa outras componentes fortes do livro. Bem pelo contrário, tonifica-as e potencia-as. 

Aprecio, em primeiro lugar, o saber detectável na construção das personagens, marcantes e verosímeis figuras de-carne-e-osso e não apenas de papel. Quer as planas, como La Minute ou Fortunato quer as modeladas como a mãe e principalmente o avô (a grande referência-para-a-vida assumida pelo narrador protagonista). 

Refiro-me, em segundo lugar, à dimensão humorística, que é recorrente na obra, e que passa pelas vertentes do cómico de carácter, do cómico de situação e do cómico de linguagem. E também à presença duma estética do grotesco – que mereceria desenvolvimento particular a propósito desta obra e, se calha, doutras de Domingos Lobo –, a qual, por exemplo, me leva a sinalizar a «atracção por cenas mórbidas» (p. 130), pela deformação, pelo hiperbólico em Coração Modelado em Labareda. Outro aspecto, articulado com o que acabo de mencionar, e até com o cinema (amiúde convocado e homenageado neste livro), prende-se com certa inclinação para os episódios rocambolescos de recorte popular. Este aspecto projecta-se depois no plano da própria linguagem, tanto a usada pelo narrador como a que se escuta na boca das personagens (registo, de passagem, o talento de Domingos Lobo enquanto recriador do discurso oral e da linguagem de rua). E, neste ponto ainda, não consigo deixar de evocar alguns antecedentes nobres como o Dinis Machado do extraordinário romance-tão-de-Lisboa O Que Diz Molero (1977), que marca a ficção nacional do pós-25 de Abril; ou o Mário Zambujal da Crónica dos Bons Malandros (1980), aliás convocado numa das epígrafes; ou como certos textos de Aquilino Ribeiro, beirão de cepa (como os Lobos), não por acaso certeiramente lembrado, a páginas 89 deste livro. Termino com uma proposta de leitura do texto enquanto narrativa enquadrável no campo da chamada autoficção. 

Com efeito, temos, neste livro, um sem número de elementos que nos orientam para a aceitação de um pacto autobiográfico, o principal dos quais é a identidade onomástica entre o autor e o narrador-protagonista (autodiegético), para não falar das questões da localização espacial, em que, além de Lisboa e da zona do Arco do Cego, se destaca Nagosela onde o próprio Domingos Lobo nasceu, como o tal espaço de «caminhos de pedra ferida / de lagares de granito / odores antigos / a mosto e a resina no esconso dos assombros» (p. 15), a que alude o poema inicial. Nagosela: para o protagonista, lugar de múltiplas descobertas, lugar do despertar do corpo e do desejo, lugar maternal e matricial por excelência. Mas também evidência da pobreza, do desamparo social e do analfabetismo que grassavam no país, em especial em regiões mais deprimidas do interior.

Por outro lado, o próprio autor, num «Aviso prévio» (p. 11), nos alerta para a condição ficcional da sua obra, «baseada em alguns factos reais e históricos».

Vejamos, então, com o auxílio da estudiosa e crítica brasileira Anna Faedrich, algumas, apenas algumas das diferenças entre autobiografia e autoficção. Na noção de pacto, «a autoficção se diferencia da autobiografia e do romance autobiográfico. Na autoficção, se estabelece com o leitor um pacto oximórico (Jaccomard, 1993), que se caracteriza por ser contraditório, pois rompe com o princípio de veracidade (pacto autobiográfico), sem aderir integralmente ao princípio de invenção (pacto romanesco/ficcional). Mesclam-se os dois, resultando no contrato de leitura marcado pela ambiguidade, em uma narrativa intersticial. A noção de pacto é fundamental para esclarecer o conceito de autoficção, diferenciando práticas distintas dentro do campo da “escrita do eu”.» (Faedrich, 2015: 57)

E a mesma estudiosa prossegue: «a autoficção tem uma forma específica de construção da ambiguidade entre realidade e ficção. Embora a mistura entre realidade e ficção se encontre também em romances históricos e romances autobiográficos, na autoficção é intenção deliberada do autor abolir os limites entre o real e a ficção, confundir o leitor e provocar uma recepção contraditória da obra. A ambiguidade criada textualmente na cabeça do leitor é potencializada pelo recurso frequente à identidade onomástica entre autor, narrador e protagonista, embora existam variações e nuances na forma como este pacto se estabelece» (Faedrich, 2015: 57). 

Não querendo aprofundar neste momento mais o assunto – embora outros aspectos houvesse a considerar –, ouso afirmar que é isto que se passa na narrativa de Domingos Lobo, como penso que o leitor poderá ele próprio comprovar. E por isso Coração Modelado em Labareda talvez deva ser considerado como exemplo de autoficção – aliás uma das tendências mais fecundas da ficção contemporânea. 

Concluo com um convite à leitura deste texto de léxico rico e sugestivo, prenhe de humanidade, de graça e de capacidade de nos pôr a reflectir, de modo aprofundado, sobre o que foram os anos do fascismo e sobre o modo como eles marcaram negativamente muitos e muitos indivíduos, a vida das famílias e dos lugares e a sociedade como um todo.

Domingos Lobo, romancista, dramaturgo, poeta e crítico reconhecido e várias vezes premiado na poesia, na ficção e no teatro, merece que aceitemos o desafio para a leitura da obra e aprendamos a desfrutar deste livro. 


 

Referências

Faedrich, Anna (2015), «O conceito de autoficção: demarcações a partir da literatura brasileira contemporânea», Itinerários, n. 40, Araraquara, Jan./Jun., pp. 45-60.

Lobo, Domingos (2022), Coração Modelado em Labareda – Diário marginal de um adolescente no país do “botas”, Lisboa, Página a Página.


José António Gomes

IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais do InED da ESE do Porto

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Ana Luísa


Ana Luísa Amaral (1956-2022) não foi apenas uma poeta de alta, bela e reconhecida voz, em Portugal e no estrangeiro (a sua poesia está hoje reunida em O Olhar Diagonal das Coisas, 2022), e uma autora de livros para a infância e a juventude que devem ser lidos e apreciados: Gaspar, o Dedo Diferente e Outras Histórias, 1998; A História da Aranha Leopoldina, 2000; Auto de Mofina Mendes de Gil Vicente (adaptação), 2008; uma adaptação de A Relíquia de Eça de Queiroz, 2008; Como Tu, 2012; Lengalenga de Lena, a Hiena, 2019. Publicou ainda o romance Ara, 2013, e foi uma excepcional estudiosa de poesia (conhecedora de poetas das mais diferentes latitudes) e uma divulgadora igualmente excepcional, generosa e persistente. Deste ponto de vista, sinto uma dívida enorme em relação a’«O som que os versos fazem ao abrir», na Antena 2, e ao seu notável trabalho de investigação académica (designadamente no campo dos Estudos Feministas), importando lembrar outras intervenções radiofónicas suas, a par das muitas conferências, cursos e oficinas – era uma incansável e entusiástica trabalhadora das letras. Também como ensaísta e como tradutora (da sua paixão, Emily Dickinson, mas também de Shakespeare, de John Updike, de Louise Glück, de Margaret Atwood e de muitos outros poetas, para não falar das suas traduções de John Locke, de Virgina Woolf e de Wesker) fica o país a dever-lhe imenso. 

Mas Ana Luísa foi, além disso, uma mulher muito corajosa e livre, que ousou pôr publicamente o dedo em muitas feridas – e que, silenciosamente ou não, acabou às vezes sendo penalizada por isso, como sucede com todas as pessoas de coragem. Foi (e ainda bem) uma poeta com intervenção cidadã e política – o que hoje é cada vez mais raro. Para alguns, quase imperdoável. E isto sem nunca perder a doçura e afabilidade do olhar, da voz, da maneira de estar. 

Tive sempre com Ana Luísa um relacionamento muito cordial. Lembro-me de termos sido colegas na faculdade, em Germânicas – embora, nessa fase, apenas nos conhecêssemos de vista. Tínhamos uma amiga comum, Ana Gabriela Macedo, que foi quem primeiro me falou da sua poesia. Há muito, muito tempo. Foi membro do júri das minhas provas de doutoramento, em 2003, na Universidade Nova de Lisboa, e membro do júri das minhas provas para professor coordenador de Literatura Portuguesa, na Escola Superior de Educação do Porto, em 2006. Impecável em qualquer destas duas situações. Colega de irrepreensível trato, correcção e amabilidade. E de enorme qualidade, no plano académico. Devo acrescentar que foi boa e justa professora de ambos os meus filhos, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.


Escrevi sobre livros seus para a infância e, na minha faceta João Pedro Mésseder, reencontrámo-nos em 2005-2006, com outros escritores portugueses e galegos, no projeto Estafeta do Conto da Xunta de Galicia e da Direção Regional de Cultura do Norte (promovido por Xavier Senín Fernández e Helena Gil Coutinho), o qual deu origem à publicação de duas novelas juvenis bilingues. A de Ana Luísa: Passos de música, caminhos de água/Pasos de musica, camiños de auga (em co-autoria com Fina Casalderrey, Vergílio Alberto Vieira e Xabier Docampo – um grande escritor e amigo também já desaparecido). Tempos bons e luminosos, perdidos (ou ganhos) entre o norte de Portugal e a Galiza. 


Hoje, os leitores de poesia e o país como um todo perderam um ser humano e uma artista de excepção. Saibamos honrar a sua memória e fazer bom uso do muito que nos lega. 

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MÚSICAS, de Ana Luísa Amaral

 

Desculpo-me dos outros com o sono da minha filha.

E deito-me a seu lado,

a cabeça em partilha de almofada.

 

Os sons dos outros lá fora em sinfonia

são violinos agudos bem tocados.

Eu é que me desfaço dos sons deles

e me trabalho noutros sons.

 

Bartók em relação ao resto.

 

A minha filha adormecida.

Subitamente sonho-a não em desencontro como eu

das coisas e dos sons, orgulhoso

e dorido Bartók.

 

Mas nunca como eles,

bem tocada

por violinos certos



6-8-2022

 

José António Gomes

IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais do inED da ESE do Porto

 

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

Voltar a Luísa Dacosta e à “Pedagogia do Deslumbramento”

Foi há três dias, a 16 de Fevereiro, o aniversário da minha Amiga Luísa Dacosta (completaria 95 anos). E fez há quatro dias sete anos que nos deixou. Era um ser humano de fibra e de palavra livre, intransigente defensora da mulher e dos seus direitos, personalidade afectuosa e terna, refinada e de enorme sensibilidade às artes visuais (escreveu para/sobre diversos artistas), mas sempre fiel às suas raízes transmontanas (nasceu em Vila Real). E fiel igualmente aos seus amigos, mortos ou vivos: Irene Lisboa, Régio, Júlio, Padre Joaquim Alves Correia, David Mourão-Ferreira, António José Saraiva, o bibliotecário Manuel Lopes, Teresa Rita Lopes, Jorge Pinheiro, José da Cruz Santos, Margarida Santos, Elvira Leite, José Manuel Esteves, Bernardette Capelo, Cristina Valadas, Paula Morão, Violante Magalhães… Fiel se manteve também às suas referências literárias: Hans Christian Andersen e os contos de fadas, Dostoievski, Gogol e Tchekhov, Katherine Mansfield, Joseph Bédier (por causa do mito de Tristão e Isolda), Lorca, Fernão Lopes, Sá de Miranda, Camões, Vieira, Eça, Raul Brandão, Pessanha, Aquilino (que ajudou, no Porto, a homenagear ainda em vida do mestre), Irene Lisboa, Graciliano Ramos, Cecília Meireles… Sem falar na Bíblia e n’As Mil e Uma Noites, que toda a vida leu, releu, estudou.

Trás-os-Montes fê-la escrever coisas de forte poder evocativo, comoventes e, aqui e acolá, divertidas até – pois era senhora de uma escrita poeticamente muito trabalhada e sofisticada – como Província (1955), o seu primeiro livro de contos, e obras para a infância como Teatrinho do Romão (1977), Lá Vai Uma… Lá Vão Duas (1993) – Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças –, Robertices (1995), a juntar a admiráveis páginas de diário. Entre Lisboa e Vila Real nasceram os contos de Vovó Ana, Bisavó Filomena e Eu (1969), a tenderem já, aqui e acolá, para o auto-retrato. Em dado momento, graças ao empenho de gente boa e culta como Jorge Ginja e Helena Gil, veio a ser homenageada também na sua terra e, na sequência dessa dinâmica, fui convidado a organizar uma antologia de textos seus de raiz transmontana. Assim nasceu Houve um Tempo, Longe – Vila Real de Trás-os-Montes na Obra de Luísa Dacosta (2005), obra para a qual redigi um breve estudo.

O mar e os seus mitos, a praia de sargaceiros, a terra em redor, e sobretudo as doridas mulheres e as crianças fizeram-na escrever os seus dois melhores livros: as extraordinárias crónicas de A-Ver-O-Mar (1980) e Morrer a Ocidente (1990). 

Mas merecem sempre revisitação os seus “romances truncados”, como gostava de os classificar, Corpo Recusado (1985) e O Planeta Desconhecido e Romance da que Fui antes de Mim (2000), textos ficcionais de fundo autobiográfico, e os seus dois volumes de diário: Na Água do Tempo (1992) – Prémio Máxima – e Um Olhar Naufragado (2008).

O Príncipe que Guardava Ovelhas (1971), O Elefante Cor de Rosa (1974), A Menina Coração de Pássaro (1978), História com Recadinho (1986), Sonhos na Palma da Mão(1990) e outros títulos impuseram-na também como uma voz singular na nossa escrita literária para a infância. A rendilhada poeticidade da sua prosa e a assumida ou indirecta relação intertextual com mitos gregos e com clássicos (contos de Andersen; Le Petit Prince…) concorreram para essa singularidade, invariavelmente cunhada com uma epígrafe inicial, que era também um princípio existencial: «No sonho, a liberdade…».

Por último, diga-se que, além de poetisa – e de crítica e historiadora da literatura na sua juventude –, Luísa Dacosta foi uma professora de Português de excepção, que apostava, sobretudo, num ensino da língua solidamente assente no recurso à grande literatura e à grande arte (mesmo no 2.º ciclo), na comunicabilidade e na relação humana, buscando aquilo a que gostava de chamar uma «pedagogia do deslumbramento». Nas suas aulas de Português também entravam a música, a pintura, o cinema de Chaplin, a mímica de Marcel Marceau… Deste ponto de vista, e no quadro da educação literária, os seus livros O Valor Pedagógico da Sessão de Leitura (1974) e principalmente as antologias sábia e afectuosamente comentadas (e ilustradas por Jorge Pinheiro), De Mãos Dadas Estrada Fora(4 vols., 1970-2002) continuam a ser do que de melhor se fez em Portugal. 

Costumo dizer: deseja iniciar alguém (criança já leitora, jovem, adulto) no universo do literário? Ponha-lhe nas mãos De Mãos Dadas Estrada Fora.

Sobre a obra de Luísa Dacosta escrevi uma tese de doutoramento que Clara Crabbé Rocha orientou e Paula Morão arguiu. E redigi numerosos ensaios. Foi n'«um tempo longe». 

 

José António Gomes, 19-2-2022

IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto

domingo, 2 de janeiro de 2022

ESCOLHAS LITERÁRIAS DE 2021

Deixei-me levar por um exercício ocioso e odioso: odioso para mim mesmo, porque em geral gerador de incompreensões e inimizades; e ocioso por ser coisa de cariz jornalístico e, por conseguinte, de limitado alcance histórico-crítico. Esse exercício é o de fazer as minhas escolhas literárias de 2021, em vários domínios.

Comecei então a elaborar uma lista. A dado momento, só no capítulo das traduções de poesia para Português, já ia em mais de duas dezenas de títulos que adquiri e li, integral ou parcialmente, e sei que a lista ainda está incompleta. Porque, de facto, 2021 foi um ano particularmente fecundo neste domínio, não só em matéria de antologias de poesia de outros países editadas em Portugal, como no campo da tradução de poetas individuais, quer clássicos (basta dizer que foi o ano Dante) quer contemporâneos. O mesmo drama no capítulo da poesia portuguesa. Da ficção nem se fala. 


Optei, então, por me cingir a um número muitíssimo restrito: duas a quatro obras por género ou modalidade literária. E claro que as minhas listas estão muito incompletas, são subjetivas (como todas as selecções) e valem o que valem, porque não li tudo: há obras de que me esqueci, por razões válidas ou não; há obras que não me chegaram às mãos por défices de distribuição das novidades editoriais; há obras de circulação muito limitada e de que disponho porque me foram oferecidas, etc. Seja como for, sou um compulsivo comprador de livros de vários géneros. A esmagadora maioria das obras escolhidas adquiri-as eu. 

Insisto: a lista inclui duas a quatro obras por cada domínio e envolve muita subjectividade. Reitero também que considero unicamente escritores portugueses. É excepção, pela natureza da poesia traduzida, o apartado de traduções de obras poéticas. 


Notas importantes – (a) procuro, cada vez mais, seguir um princípio: tentar escapar ao frágil consenso mediático que, em geral, relega para a inexistência obras de grande valia e chega a promover obras medíocres. (b) Julgo também que chamar a atenção para poetas e prosadores multipremiados é por vezes chover no molhado. Não pretendo aqui carrear mais água para esse chuveiro. (c) Pela mesma razão, procurei também contornar os escritores que, embora não pareça, trabalham muito, no espaço mediático, para a sua própria promoção, e realçar alguns menos mencionados, mais discretos. (d) Como estou a falar de literatura, não contemplo os 'álbuns' ou picture books só de imagens ou de muito escasso texto ilustrado, para a infância, que, tal como a Banda Desenhada, constituem em geral artes de outro tipo. Também não incluí textos dramáticos, mas por puro desconhecimento das eventuais publicações.


Quanto ao Ensaio coloca-me problemas: tenho para mim – mas não estou certo disto – que o ensaio literário se encontra em crise em Portugal e não só (algumas distintas excepções: João Barrento, Manuel Gusmão, Silvina Rodrigues Lopes, Maria Filomena Molder, António Guerreiro…). Vejamos: com pouquíssimas excepções, a crítica literária deixou praticamente de dispor de espaço em jornais e revistas, eles próprios em declínio (o que aí se publica são, essencialmente, curtos textos de divulgação, muito influenciada pelas agências de comunicação e pelos lobbies editoriais, que chegam a ter jornalistas avençados). A crítica literária encontra-se, por isso, muito confinada ao meio académico, onde se produzem estudos de enorme e reconhecido valor. Mas as centenas de artigos científicos que académicos produzem anualmente em Portugal e no estrangeiro sobre literatura obedecem a uma estrutura e a parâmetros que cada vez menos se ajustam à estrutura e às características do ensaio tal como no passado o conhecemos. Roland Barthes, Óscar Lopes, Eduardo Prado Coelho, Maria Lúcia Lepecki, David Mourão-Ferreira, Eduardo Lourenço eram académicos, cultivavam o ensaio (e publicavam, não raro, em jornais); muitas das suas recensões críticas eram, em boa verdade, breves e luminosos ensaios. Mas o que publicavam no seu tempo dificilmente se ajustaria hoje aos requisitos das chamadas publicações científicas, universitárias, de literatura. Do mesmo modo, a maioria das chamadas revistas literárias (que no passado albergavam secções de crítica) deixaram de ser o lugar ideal para a publicação dos trabalhos de críticos literários de raiz universitária. Estes encontram-se agora sujeitos à rígida uniformização que, no campo investigativo, lhes é exigida em termos de escrita académica, sem poderem esquecer tão-pouco os parâmetros e critérios de avaliação do seu desempenho docente no capítulo da investigação, de que não cabe aqui falar.


Inclusive, o livro de um só autor deixou, como se sabe, de constituir o espaço ideal de publicação desses trabalhos, que passou a ser o periódico científico escrutinado e indexado em bases de dados desse tipo de publicações. Como sobrevive o Ensaio a isto? Estas razões, e não são as únicas, contribuem também para a relativa escassez de novidades no campo do ensaísmo literário.  

 

PROSA NARRATIVA PORTUGUESA, TEXTOS AFINS E OUTRAS PROSAS 

  • Henrique Manuel Bento Fialho – Micróbios, Abysmo
  • Mário de Carvalho – De Maneira Que É Claro…, Porto Editora
  • Rita Cruz – No País do Silêncio, Página a Página

PROSA NARRATIVA PORTUGUESA E OUTRA (REEDIÇÕES IMPORTANTES E INÉDITOS)

  • Carlos de Oliveira – Alcateia, Assírio & Alvim – grupo Porto Editora
  • Fernando Namora – Deuses e Demónios da Medicina, Editorial Caminho – grupo LeYa
  • Mário Dionísio – Passageiro Clandestino I 1950-1957 (diário), Casa da Achada (é acompanhado de outro volume: Eduarda Dionísio – Notas – Passageiro Clandestino I de Mário Dionísio, Casa da Achada)
  • Sophia de Mello Breyner Andresen – Prosa (fixação de texto, prefácio de Carlos Mendes de Sousa e posfácio de Maria Andresen Sousa Tavares), Assírio & Alvim – grupo Porto Editora

DIÁRIO

  • Gonçalo M. Tavares – Diário da Peste – O Ano de 2020, Relógio d’Água

POESIA PORTUGUESA

  • Alberto Pimenta – Ilhíada, Edições do Saguão
  • A. M. Pires Cabral – Caderneta de Lembranças, Tinta da China
  • Manuel Silva-Terra – Pó Sobre Pó, Urutau
  • Rita Taborda Duarte – Pequeno Livro das Pedras, Nova Mymosa

POESIA PORTUGUESA REUNIDA 

  • Adília Lopes – Dobra (nova edição ampliada), Assírio & Alvim – grupo Porto Editora
  • António Aragão – OBRA (Re)ENCONTRADA, Edições do Saguão
  • António Franco Alexandre – Poemas, Assírio & Alvim – grupo Porto Editora
  • Albano Martins – Por Ti Eu Daria – Toda a Poesia, Glaciar

POESIA (TRADUÇÕES PARA PORTUGUÊS)

  • Friedrich Hölderlin – Todos os Poemas seguido de Esboço de uma Poética (tradução, introdução, comentários e notas de João Barrento), Assírio & Alvim – grupo Porto Editora
  • Giuseppe Ungaretti – Vida de Um Homem – Toda a Poesia (tradução de Vasco Gato), IN-CM
  • Luís Cernuda – Ocnos (tradução e apresentação de Miguel Filipe Mochila), Língua Morta
  • Masaoka Shiki – Aves Dormindo Enquanto Flutuam – haikus (introdução, notas e versões portuguesas de Joaquim M. Palma), Assírio & Alvim – grupo Porto Editora

LITERATURA PARA A INFÂNCIA E A JUVENTUDE E DE RECEPÇÃO TRANSGERACIONAL – NARRATIVA 

  • António Mota – A Gaveta Mágica (ilustrações: Cátia Vidinhas), ASA – grupo LeYa
  • Augusto Baptista – A Senhora Prestável (ilustrações de Emelie Ostergren), Xerefé Edições
  • José Viale Moutinho – A Máquina do Tempo do Professor Candeias (sobre a vida e a obra de Camilo Castelo Branco), Imprensa Académica
  • Margarida Gil Moreira (texto e ilustrações) – A Estrela da Serra, Cordel d’Prata

LITERATURA PARA A INFÂNCIA E A JUVENTUDE – POESIA 

  • Maria Judite de Carvalho – Felizmente as Árvores São Grandes (ilustrações de Cátia Vidinhas), Minotauro – grupo Almedina
  • Nuno Higino – O Livro de Benício – Poesia para a Infância (ilustrações de Kassandra Júlio)
ADAPTAÇÃO DE CLÁSSICOS PARA OS MAIS JOVENS
  • Carlos Ascenso André – A Eneida de Virgílio adaptada para jovens, Quetzal – grupo Bertrand/grupo Porto Editora

NOVELA GRÁFICA 

  • Joana Estrela (texto e ilustrações) – Pardalita, Planeta Tangerina

ENSAIO LITERÁRIO E AFINS (OBRAS DE AUTORES PORTUGUESES)

  • António Guerreiro – Zonas de Baixa Pressão – Crónicas Escolhidas, Edições 70 – grupo Almedina *
  • Carina Infante do Carmo – A Noite Inquieta, Ensaios sobre Literatura Portuguesa, Política e Memória, Húmus
  • Manuel Frias Martins – A Lágrima de Ulisses – Regimes da Cultura Literária, Editora Exclamação
  • Silvina Rodrigues Lopes – O Nascer do Mundo nas Suas Passagens, Edições do Saguão

 

*Embora ostentem o subtítulo de “crónicas”, considero que os textos desta obra são, na sua maioria, pequenos ensaios. Acrescente-se que extravasam muito o domínio específico da literatura.

 

BIOGRAFIA E ENTREVISTA

  • Álvaro Magalhães – Para Quê Tudo Isto – Biografia de Manuel António Pina, Contraponto
  • Joana Meirim (ed., org. e intr.) – Diz-lhe Que Estás Ocupado – Conversas com Alexandre O’Neill, Tinta da China 

ANTOLOGIA

  • Vários – A Visagem do Cronista – Antologia de Crónica Autobiográfica Portuguesa (Séculos XIX-XX), Vol.1 (sel., org. e introd. de Carina Infante do Carmo), Arranha-Céus
  • Vários – A Visagem do Cronista – Antologia de Crónica Autobiográfica Portuguesa (Séculos XX-XXI), Vol. 2 (sel., org. e introd. de Carina Infante do Carmo), Arranha-Céus

 

João Pedro Mésseder