tag:blogger.com,1999:blog-36614305687402654582024-03-05T00:37:58.962-08:00A inocência descompensadaPoesia, prosa e não só...Unknownnoreply@blogger.comBlogger94125tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-51833014230300169232024-02-11T13:18:00.000-08:002024-02-11T13:18:10.190-08:00Miguel Torga, sempre<div style="text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEglVmMQqDODi0AEosmheUNx5-6fHGnz-BG0IvlFgJGU0yO1Mi9Vkv4ILA20dyNm3loQ5U2aBYwG8vOx6pR1bpbRImFf6vc9ca05S-ROnoacWfdqCGhd6uPMrG4wqgbHr7RFmydrjIP1BusazYSQkWSdO27ln1LWmXkUz1onRnp6WiHZUc2IYV_XaiYpvjUF" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="1072" data-original-width="1691" height="254" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEglVmMQqDODi0AEosmheUNx5-6fHGnz-BG0IvlFgJGU0yO1Mi9Vkv4ILA20dyNm3loQ5U2aBYwG8vOx6pR1bpbRImFf6vc9ca05S-ROnoacWfdqCGhd6uPMrG4wqgbHr7RFmydrjIP1BusazYSQkWSdO27ln1LWmXkUz1onRnp6WiHZUc2IYV_XaiYpvjUF=w400-h254" width="400" /></a></div><br /></div><div style="text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: center;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Nasceu na terra a que chamou, e bem, um “Reino Maravilhoso” e continua a perfilar-se como um dos nossos escritores maiores, além de ter sido alguém que sofreu na pele (ele e os seus, diga-se de passagem) a perseguição do fascismo: livros apreendidos e proibidos, prisão no Aljube, saídas do país interditadas… Tudo porque sonhava com a liberdade, com a democracia, com um país melhor e mais justo…<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Os seus livros de contos são clássicos modernos da nossa ficção e um tributo inesquecível à paisagem natal e às suas gentes e animais (bem sei que “Miura”, o toiro, é ribatejano e que “Vicente”, o corvo, representa o Homem e, de alguma maneira, o próprio autor). Falo sobretudo de <i>Bichos</i>, 1940, de <i>Contos da Montanha</i>, 1941, de <i>Novos Contos da Montanha</i>, 1944, e doutros. Os seus belíssimos poemas breves incluídos no <i>Diário</i> (</span><span style="background: white; color: #202122; font-family: Helvetica;">1941-1994, </span><span style="font-family: Helvetica;">dezasseis volumes de reflexão) – focados no universo da infância e na terra –, os <i>Poemas Ibéricos</i>, 1965, e outras recolhas impõem-no como poeta maior a ser lido e relido. Sempre. O seu livro <i>Portugal</i>, 1950, é da melhor prosa que, em literatura, se escreveu acerca do país. E depois, há ainda a obra de cunho autobiográfico (<i>A Criação do Mundo</i>, retrato de si e do mundo, em vários volumes saídos entre 1937 e 1981), a novela e o romance (<i>O Sr. Ventura</i>, 1943, <i>Vindima</i>, 1945, este centrado no Alto Douro) e ainda os textos para teatro que escreveu, como, por exemplo, <i>Mar</i>, 1941. Lopes-Graça, Luís Cília, Rui Veloso, João Braga e outros puseram-no em música. E bem. </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Nos cinquenta anos do 25 de Abril, é bom, é importante evocar esta figura maior das letras, da cidadania, da luta pela liberdade e, sobretudo, lê-lo, dá-lo a ler, e reviver todo o gozo que a leitura de vários dos seus livros é capaz de proporcionar.</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Uma nota final, com uma sugestão de leitura de <i>O Meu Primeiro Miguel Torga</i>, pequena biografia belissimamente ilustrada por Inês Oliveira, que escrevi sob o pseudónimo de João Pedro Mésseder e que inclui poemas e fragmentos doutros textos do autor de <i>Nihil Sibi</i> (1948). Trata-se duma forma possível de introduzir os mais jovens ao que foi a aventura humana e</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">artística da vida do escritor.</span><span style="color: #d20000; font-family: "Helvetica Neue";"> </span><span style="font-family: Helvetica;">Editada pelas publicações Dom Quixote em 2009, a obra encontra-se recomendada pelo PNL (Plano Nacional de Leitura) e obteve um destaque do Júri do Prémio Nacional de Ilustração no mesmo ano.</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">A 17 de Janeiro de 2024, passaram vinte e nove anos sobre a morte de Torga. E a sua literatura continua viva. </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Calibri, sans-serif;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: Helvetica;">José António Gomes</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Aptos, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: small;">IEL-C (Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto)</span></p></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-63190792829616272852023-10-01T03:51:00.000-07:002023-10-01T03:51:11.836-07:00Finalmente, O Diário de José Miguel Braga<p style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: Helvetica;"></span></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUAwFqB1kXCRsfnWETFZCCKiCsSnYAiFR0AEGxOaN1JVXVhNAgj-8lAT0tskCXfFPngigzoi6G2PPN8JCxaMu8aToig62Ch4iXo_XsAqVxY15VGJKf26-_1Kd1_3Vs8_RkBYu09xY7EGi3iErYxpBBXnR1pv6RNFXhUpP-_9b-CfXkzRPxTkpuYpqRSR9W/s1175/366553779_738311171639307_5052305339061693593_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1175" data-original-width="749" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhUAwFqB1kXCRsfnWETFZCCKiCsSnYAiFR0AEGxOaN1JVXVhNAgj-8lAT0tskCXfFPngigzoi6G2PPN8JCxaMu8aToig62Ch4iXo_XsAqVxY15VGJKf26-_1Kd1_3Vs8_RkBYu09xY7EGi3iErYxpBBXnR1pv6RNFXhUpP-_9b-CfXkzRPxTkpuYpqRSR9W/w255-h400/366553779_738311171639307_5052305339061693593_n.jpg" width="255" /></a></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-size: medium;">O texto que se segue configura um comentário sem pretensões a ser trabalho de crítica literária, embora possua elementos críticos. Por outro lado, é escrito por quem conhece pessoalmente o autor, José Miguel Braga, há vários anos, o que em parte explica o registo algo informal, e até com notas humorísticas, adoptado. Que um dos seus propósitos seja atingido: convidar à leitura crítica deste belo livro.</span></div><p></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: center;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: medium;">*</span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: medium;">Roam-se. Roam-se de inveja. Hoje, hoje mesmo de manhã, o carteiro trouxe-me o grosso volume <i>Entre o Medo e a Luz 2020, Um Diário</i>, de José Miguel Braga, acabadinho de sair dos prelos da UMinho Editora, com prefácio e certo gás da minha velha amiga Bé, sempre jovem, diga-se de passagem. Ou melhor, de Ana Gabriela Macedo (peço mil desculpas), professora catedrática da Universidade do Minho, especialista em Estudos Feministas, em Literatura Comparada e minha antiga colega de faculdade. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: medium;">Já o folheei (mas prometo que não o desfolharei, como alguns tropeçantes na Língua). Já li aqui e acolá. E foi o suficiente para ficar com água na boca. Por muitas razões. Primeiro, porque não é raro o José Miguel falar ma-ra-vi-lho-sa-men-te de boa comida e de vinhinho do melhor. Segundo, porque, sendo o que acabo de dizer do menos relevante no livro, José Miguel tem a arte de falar de coisas sérias com um humor sofisticado e culto, com graça (também com sentido lírico, é certo) e com uma sensibilidade poética especialíssima e indeclinável (quem lê os seus textos no Facebook sabe-o bem). Terceiro, porque há muitos e bons assuntos aqui, começando pelos amigos, pela família, pelos colegas, pelo círculo bracarense e pela paisagem minhota, e, claro está, passando pela Literatura (que bom ainda haver quem fale bem e com conhecimento de Camões, de Camilo, de Cesário, de Pessanha, mas também de Ruben A., de Saramago, de Herberto Helder…). E passando sobretudo pelo Prazer (com P grande) da Leitura (com L grande), a leitura a sério, a chamada leitura literária feita por quem ama as palavras como poucos. Vê-se logo, aliás, quando nos centramos nesta escrita faladora (também) de leituras: verifica-se no léxico, na sintaxe e na sua fluência, nas imagens, na coloquialidade imprimida à prosa – esta aprendida, avento eu, na experiência teatral. Que José Miguel é um poeta da prosa. Aprendeu-o (desculpa, José Miguel) em Vieira, em Garrett, noutros e talvez, sobretudo, em Raul Brandão, uma das suas linhagens. Eu digo a Literatura e preciso acrescentar: o Teatro. Até porque José Miguel é (quase posso dizer: sempre foi) um grande homem do Teatro. Como estudioso e pesquisador, como encenador, como actor, como dizedor de Poesia, como Professor – daqueles professores como quase já não há (em Braga, em França, de novo em Braga, no secundário, na Universidade). <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: medium;">Ler os diários de José Miguel Braga (e venham, venham os outros volumes depressa, que este é só de 2020, do tempo pandémico – e que amostra é!), ler estes diários é ter permanentemente na língua (e como ele fala da Língua) o sabor de uma textualidade que não conseguimos pôr de lado. E que gosta de desafiar a nossa inteligência leitora.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: medium;">Poderia continuar enumerando, descrevendo, porque há muitas histórias, por aqui, muita crónica, muitas deambulações, muitas impressões brandonianas, tanta coisa.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: medium;">Digo-lhes: procurem este livro urgentemente e leiam-no, leiam-no, degustando cada fragmento. Eu adoro livros de estrutura fragmentária e poderia falar aqui longamente sobre o fragmentarismo diarístico, tema de que fui um quase-nada especialista, durante a minha investigação de doutoramento (concluída há vinte anos) sobre Luísa Dacosta– escritora que eu sei que José Miguel igualmente aprecia – e sobre a escrita autobiográfica desta autora, que inclui dois belos volumes de diário. Procurem este livro (cuja edição – bela e digna edição –honra a Universidade do Minho) e desfrutem da sua leitura. Até porque José Miguel Braga – dramaturgo, autor de ficção, poeta, diarista, ensaísta… – é pessoa de qualidade. Na sua sensibilidade, na sua generosidade, na sua ironia tranquila e no seu sentido crítico, nunca panfletário, sempre inteligente. E exigente. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: medium;">Roam-se. Roam-se de inveja. Eu já tenho o livro. E vocês ainda não. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: medium;">Ah, e vou já guardar esta frase da p. 170 para os 50 anos de Abril: «Leio o 25 de Abril como se estivesse a nascer.» E vou guardar o fragmento lindíssimo dedicado a uma amiga comum de que muito gostamos: Gracinda Castanheira: uma professora que não se consegue esquecer e outro ser humano de qualidade, com um olhar e um sorriso de qualidade. Uma «sereia» (p. 186)? Acho que sim. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: medium;">Se este país não fosse a merda pequenina que por vezes é, minado pela maledicência, pelo presentismo, pelo umbiguismo apressadista e pelo amiguismo, talvez estivesse à altura de reconhecer José Miguel Braga como um dos prosadores de eleição das últimas décadas, em Portugal.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: medium;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;">20-9-2023<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;">José António Gomes<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;">IEL-C da Escola Superior de Educação do Porto<span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693334px; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 12pt; line-height: 17.120001px;"> </span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-53125259758949294282023-05-21T23:28:00.006-07:002023-05-21T23:29:52.057-07:00Porto, Maneira de Olhar: crónicas e memórias, de João Pedro Mésseder<p style="text-align: justify;"><a name="_Hlk134739411" style="font-family: Calibri, sans-serif;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></i></a></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1M8w9GSGLz2vM_h16lyiCxKcX28LIggJuIrryUXNBHIJO7xrwzGFYb1Lx0U-PwBKQShv6DlIWpfOrm_lBm8lees8TO2DrYeoll18xeLkw1a10II5cpIbggFE8TEps2nQVAhnWNRdMUt5AFH_e8qeVax1OqC5m_VF3H32_ZK68_K3fsrCRwJfW2vx2eA/s1954/Captura%20de%20ecr%C3%A3%202023-05-22,%20%C3%A0s%2007.25.37.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1484" data-original-width="1954" height="304" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1M8w9GSGLz2vM_h16lyiCxKcX28LIggJuIrryUXNBHIJO7xrwzGFYb1Lx0U-PwBKQShv6DlIWpfOrm_lBm8lees8TO2DrYeoll18xeLkw1a10II5cpIbggFE8TEps2nQVAhnWNRdMUt5AFH_e8qeVax1OqC5m_VF3H32_ZK68_K3fsrCRwJfW2vx2eA/w400-h304/Captura%20de%20ecr%C3%A3%202023-05-22,%20%C3%A0s%2007.25.37.png" width="400" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><a name="_Hlk134739411" style="font-style: italic;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Porto, Maneira de Olhar</span></i></a><i><span style="font-family: Helvetica;">: crónicas e memórias </span></i><span style="font-family: Helvetica;">(LeYa | ASA, 2023) é uma viagem pelo Porto, o de agora e o de ontem, de diferentes ontens. Um Porto coado pelo meu olhar da infância, pelo meu olhar da juventude, e pelos olhares das minhas sucessivas idades adultas (que várias são já…). Um Porto coado, principalmente, pela lente da memória, mais bem focada umas vezes, outras menos. O Porto da Ribeira, do Bonfim, do Covelo, do Bonjardim, da Fontinha, do Pinheiro Manso, de Nevogilde, da Foz e de muitos outros lugares. O Porto de variadas gentes – como a empregada da Flor de S. Brás, os meus pais, minhas tias… Ou como Luísa Dacosta, Eugénio de Andrade, Manuel António Pina, que por estas páginas por vezes andam. O Porto onde comecei a querer bem aos livros, ao cinema, à música e à arquitectura…</span></div><div style="text-align: justify;"><i style="font-family: Calibri, sans-serif;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></i></div><div style="text-align: justify;"><i style="font-family: Calibri, sans-serif;"><span style="font-family: Helvetica;">Porto, Maneira de Olhar</span></i><span style="font-family: Helvetica;"> está longe de ser apenas uma série de percursos pela urbe. É também uma revisitação fragmentária da minha própria vida numa cidade ímpar, que, com o seu <i>pedigree </i>de granito, livre e republicano, seu modo de ser e de estar, sua geografia única, jamais perde no confronto com tantas outras que me marcaram para sempre, na Europa, em África, na Ásia ou nas Américas.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Nos percursos, uma que outra vez, a companhia da minha filha Inês Ramalhete Gomes, ela própria calcorreadora da cidade. Uma caminhadora, convém dizer, de talentoso olho fotográfico. Daí as fotos que este livro inclui, que o valorizam e que selam uma amorosa cumplicidade antiga.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Sinceramente espero que a leitura destas crónicas e memórias divirta quem a elas queira dedicar alguma atenção, que essa leitura toque e faça pensar. E que estimule o/a leitor/a à descoberta ou redescoberta desta cidade tão antiga e singular.</span></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm -0.05pt 6pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm -0.05pt 6pt 0cm; text-align: right;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">João Pedro Mésseder</span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.546667px; margin: 0cm -0.05pt 8pt 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-6929652458932815702022-12-28T01:11:00.002-08:002022-12-28T01:11:50.372-08:00Entre ‘O Rito do Pão’ e ‘O Que É Feito de Nós’ – David F. Rodrigues, uma voz poética singular<p style="text-align: justify;"> <span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisEn-qN4SJKzwK3d9wKTmmmuXtVw3QUn7JbbFrwFm-yHpzO6s5k2cZx3uRQoqFu8i7l15vwmYHq5BgCocqhXKdGi6Z9g9tdRBd6TFVTXfRSlvUEqxpWcw9Vn23HkbHdDrpsQvwUyGVOA-5PHZNSuI_voxY0w8EszpA-tgq4GukyMWiBQ5_hgKCCGeSQA/s936/Cartaz-ESE_convert.png-co%CC%81pia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="736" data-original-width="936" height="158" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisEn-qN4SJKzwK3d9wKTmmmuXtVw3QUn7JbbFrwFm-yHpzO6s5k2cZx3uRQoqFu8i7l15vwmYHq5BgCocqhXKdGi6Z9g9tdRBd6TFVTXfRSlvUEqxpWcw9Vn23HkbHdDrpsQvwUyGVOA-5PHZNSuI_voxY0w8EszpA-tgq4GukyMWiBQ5_hgKCCGeSQA/w200-h158/Cartaz-ESE_convert.png-co%CC%81pia.jpg" width="200" /></a></div></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Usarei aqui duas categorias que não são estéticas mas que me servem para situar um pouco a poesia de David F. Rodrigues. Passo a explicar: assim como existem pessoas «muito dadas» e outras, mais fechadas, mais reservadas, tenho para mim que existe uma poesia moderna e contemporânea que se </span><i style="font-family: helvetica;">dá</i><span style="font-family: helvetica;"> mais e outra que, em contraste, reclama do leitor um esforço maior de leitura e releitura, considerando que nitidamente esta segunda apresenta mais pontos de indeterminação semântica do que a primeira. Vou dar exemplos. </span><i style="font-family: helvetica;">Dão-se</i><span style="font-family: helvetica;"> mais, permita-se a expressão, as escritas dum Régio ou dum Joaquim Namorado, dum Sebastião da Gama ou dum António Gedeão, duma Sophia de Mello Breyner Andresen ou dum Manuel Alegre; dão-se menos a escrita paùlista e interseccionista de um Pessoa, os </span><i style="font-family: helvetica;">Poemas Surdos</i><span style="font-family: helvetica;"> de um Edmundo de Bettencourt, o surrealismo de um António Maria Lisboa, a poesia dum António Ramos Rosa ou mesmo dalguns poetas de Poesia 61, como Fiama Hasse Pais Brandão, isto para não falar no Carlos de Oliveira de </span><i style="font-family: helvetica;">Pastoral</i><span style="font-family: helvetica;"> ou em Herberto Helder. Esta espécie de asserção introdutória não envolve, sublinhe-se, um juízo de valor crítico nem a em relação a uma tendência nem em relação à outra. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><span> </span>A poesia de </span><i style="font-family: helvetica;">O Rito do Pão</i><span style="font-family: helvetica;"> (2.ª ed. reescrita e acrescida, 2021) e de </span><i style="font-family: helvetica;">O Que É Feito de Nós</i><span style="font-family: helvetica;"> (2.ª ed. actualizada, 2022), cujas primeiras edições datam de 1981 e 1988 respectivamente, está mais próxima desta segunda categoria de poetas, até por razões geracionais. Embora jovem de mais para pertencer ao tempo do grupo de Poesia 61, certo é que David F. Rodrigues (n. 1949, Ponte de Lima) colhe ainda destes poetas certa obsessão pela</span><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"> opacidade da linguagem, na procura duma não discursividade, numa escrita contida e depurada que acabará por ser levada a um limite por poetas duma geração posterior (como é a de David F. Rodrigues), também por alguma influência dum poeta admirado pelos de Poesia 61, ainda que mais velho do que eles: António Ramos Rosa – talvez não por acaso convocado, por via duma pequena epígrafe a modos que posfacial, para fechar <i>O Rito do Pão</i>. Em alguns destes poetas a que me refiro, o cuidado posto na combinação da sintaxe poética com o ritmo e a dicção tornará a sua linguagem mais opaca e antidiscursiva ainda, nomeadamente pelo recurso a elementos estilísticos que, em David F. Rodrigues, aliás são recorrentes: o hipérbato, em suas diversas formas, e a elipse, e, ao nível versificatório, o <i>enjambement</i>. No poeta que aqui nos ocupa, o abandono das convenções pontuacionais assim como a opção pela minusculação reforça, é certo, este traço, mas também põe deliberadamente em evidência a palavra na sua nudez cristalina e na sua assumida pobreza (leiam-se os versos já referidos de Ramos Rosa (v. Rodrigues, 2021: 59) e a alusão que faz à «pobreza» da sua própria «escrita»).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><span> </span>Dito isto, importa abrir um parêntese para precisar que se a poesia de David F. Rodrigues, nestes livros, é como estou a procurar caracterizá-la, já o seu autor, esse, considero-o uma pessoa particularmente </span><i style="font-family: helvetica;">dada</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"> e afectuosa, isto é, um bom amigo e um colega excelente, de temperamento convivial e bondoso. Uma pessoa que muito prezo e admiro. Tal como admiro a sua produção literária, quer como poeta e autor de narrativas quer como ensaísta e investigador.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><span> </span>Voltemos então à poesia para acrescentar que esta espécie de empenho na criação duma linguagem </span><i style="font-family: helvetica;">outra</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;">, apostada na contenção discursiva, cheia de pontos de indeterminação, de termos e de passos de cariz polissémico e até de ambiguidades de sentido, deriva, por assim dizer, de uma desconfiança – radicada já no simbolismo e nos modernismos, atravessando a segunda metade do século XX e chegando aos nossos dias – em relação à fiabilidade comunicacional da palavra e à correspondência entre pensamento e verbo. Decorre ainda de um cansaço relativamente ao lugar comum, ao desgaste da palavra nos média, no discurso utilitário quotidiano e no discurso político. Por isso, a poesia de David F. Rodrigues pretende ser sempre resgate do cristal da palavra, como se desejasse, assim o queria Mallarmé (referindo-se a Poe) «donner un sens plus pur aux mots de la tribu». É isto que em parte explica a bela epígrafe de Raul Brandão que abre </span><i style="font-family: helvetica;">O Rito do Pão</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;">: «É com palavras, que são apenas sons, que tudo edificamos na vida. Mas agora que os valores mudaram, de que nos servem estas palavras? É preciso criar outras, empregar outras, obscuras, terríveis, em carne viva, que traduzam a cólera, o instinto e o espanto» (cit. por Rodrigues, 2021: 7).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><span> </span>Constituída por dezassete poemas, a primeira e principal parte de </span><i style="font-family: helvetica;">O Rito do Pão</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"> é em boa verdade um hino magnífico e sentido ao ciclo do pão, sem dispensar certa implicação erotizante envolvida no maneio da terra, hino em que o poeta saboreia amorosamente não apenas o seu referente mas também os signos de maravilhosa ressonância poética a que deita mão, na sua rigorosa arte combinatória: húmus, semente, leito, alfobre, leira, soagens, relhas, vessadas, leivas, grade, arado, espiga, forno, arcas… Permito-me destacar esse poema belíssimo que é: «o lençol decora as leiras…» (Rodrigues, 2021: 12). A esta parte intitulada precisamente «o rito do pão» segue-se, mais curta, «o vagar da uva», cujos sete poemas se mantêm num registo semelhante aos da primeira parte e com ela, de certa forma, se articulam, nesse binómio de algum modo inseparável e de repercussões bíblicas e crísticas que é o pão e o vinho. Com composições de inegável beleza e sugestividade, o terceiro momento, «o corpo gémeo» – em que o campo léxico-semântico de </span><i style="font-family: helvetica;">corpo</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"> está representado em quase todos os poemas – reforça a ambiguidade do conjunto, naquela medida em que tanto nos confrontamos com uma sedutora conversão do mar em poema e do poema em mar (e David F. Rodrigues, como aqui se comprova, não é apenas um homem da terra e do rio, sendo também a sua escrita uma adicta da natureza costeira e do oceano) como nos sentimos </span><i style="font-family: helvetica;">voyeurs</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"> de uma aventura que o desejo tece na forma de palavras em sua ligação a um corpo amado. Dois exemplos belíssimos, neste aspecto, são os poemas oitavo, «o orvalho acende pela manhã…», e nono, «o rio cresce até à boca…» (Rodrigues, 2021: 48 e 49).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><span> </span>Avançando pelas mãos de metáforas originais, da vertente aforística e de versos próximos do haiku que já marcam algumas composições de </span><i style="font-family: helvetica;">O Rito do Pão</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;">, chegamos a </span><i style="font-family: helvetica;">O Que É Feito de Nós</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;">. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><span> </span>A segunda obra surpreende, desde logo, pela sua natureza de livro de poesia ilustrada (trinta desenhos), tarefa gozosa de que se encarregou o pintor Francisco Trabulo. O traço, as formas e cores, o seu claro-escuro fazem sonhar o texto e, consequentemente, convidam o próprio leitor a sonhar, ao mesmo tempo que destacam elementos concretos do poema e enfatizam sentidos. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><span> </span>Sendo uma obra porventura mais reflexiva e filosófica, sem perder em sensualidade verbal, mais uma vez a polissemia atravessa todo o livro, a começar pelo título, permitindo-nos, como vários críticos antes apontaram, ler </span><i style="font-family: helvetica;">nós</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"> seja como pronome pessoal sujeito seja como substantivo significando laço apertado e unidade de medida da velocidade marítima/fluvial,</span><b style="font-family: helvetica;"> </b><span style="background-color: white; font-family: helvetica;">entre outros valores semânticos. Esta característica, a par duma ambiguidade controlada, surgem, por vezes, activadas também pela partição de palavras em final de verso ou doutras maneiras. Agora há poemas muito breves que se aproximam ainda mais do haiku do que os do livro anterior, como o texto 2 (Rodrigues, 2022: 12), o 24 («o nenúfar agora seja / consentido barco ou porto / horizontal ao sonho indelével das águas») ou o 26 («um fio azul de fonte e / justo / o suicídio dos salmões») (Rodrigues, 2022: 56 e 60), e confirma-se o que a epígrafe de Saint-John Perse e o primeiro poema do livro, também muito breve, já anunciavam: a presença recorrente da água (esse elemento de forte ressonância materna), nomeadamente por meio de palavras da sua esfera léxico-semântica, como </span><i style="font-family: helvetica;">rio</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;">, termo aqui relevante.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><span> </span>Mas, à medida que vamos progredindo na leitura, apercebemo-nos de alusões a cenas de infância, à mãe, à descoberta do corpo e do amor, à relação humana com outros e com a natureza, a um desabrochar, se quisermos a um crescimento comparável ao do próprio rio. E começamos a eventualmente compreender o título de uma obra que fala de um </span><i style="font-family: helvetica;">nós</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;">, logo de um eu e de outrem, ao mesmo tempo que se refere aos </span><i style="font-family: helvetica;">nós</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;">-laços que ligam o sujeito a outros, ao tempo que é o seu e ao mundo, ou aos mundos. Os que o constroem e os que ele próprio constrói. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><span> </span>Difícil eleger uma composição, tão belas e comoventes várias delas são. Mas fixo-me num dos poemas à mãe («discreta levantas da arca…» – Rodrigues, 2022: 32), um quase-soneto estrategicamente situado num quase-centro do livro, a pouco menos de metade deste </span><i style="font-family: helvetica;">corpus</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"> textual formado por trinta composições.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><span> </span>Quase a terminar, lembro que também este livro, inicialmente surgido em 1988, sofreu depurações várias, como eliminação de maiúsculas (repare-se que ambos os títulos são, nestas reedições, grafados com minúsculas, tal como na capa o nome do poeta) e supressão de pontuação – aspectos que não o são apenas de grafismo, possuindo implicações semânticas e de identidade estilística e autoral. O escritor quis ainda reunir, numa segunda parte do volume, uma coleção de textos breves produzidos por diversas vozes críticas quando da saída da primeira edição de </span><i style="font-family: helvetica;">O Que É Feito de Nós</i><span style="background-color: white; font-family: helvetica;">. O conjunto aclara a leitura mas sobretudo dá conta da recepção crítica feliz da obra à época em que veio a lume pela primeira vez. Contudo é principalmente o prefácio de Mário Cláudio, a pp. 5 do livro, o texto que lança luz sobre a série dos trinta poemas, ao afirmar: «é de uma nação tribal que nos conta, sobretudo, esta curta saga, povoada pela frágil meninice portuguesa, a que no “pão terno das camisolas” se reconhece, na genuinidade dos sentidos praticados pela desvairada inocência do homem que em amor os traduziu. Daí que se abracem estas folhas como um corpo verídico, de sangue circulante nas artérias do nevoeiro, tão próximo e tão longínquo como os que ao poeta autêntico foi dado experimentar».</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: helvetica;"><span> </span>Magnífico «corpo» e espírito, acrescentarei eu, em viagem pelo rio da vida. </span></div></div><p class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><b><span style="background-color: white; line-height: 24px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;"><br /></span></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><b><span style="background-color: white; line-height: 24px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">Referências bibliográficas</span></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;"><span style="line-height: 24px;">Rodrigues, David F. (2021),<i> </i></span><i><span style="line-height: 24px;">O Rito do Pão</span></i><span style="line-height: 24px;">, 2.ª ed. reescrita e acrescida, Porto: Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="line-height: 24px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">Rodrigues, David F. (2022),<i> O Que É Feito de Nós</i>, 2.ª ed. actualizada, Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo (ilustrações de Francisco Trabulo).</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="background-color: white;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">Ponte de Lima, 19-11-2022<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="background-color: white;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">José António Gomes<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="background-color: white;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais (IELC) do INED da Escola Superior de Educação do Porto</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 22px; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 1cm;"><span style="background-color: white; font-family: Helvetica; font-size: 14pt; line-height: 28px;"><o:p> </o:p></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-20757935428894190672022-08-15T04:52:00.013-07:002022-08-15T05:05:39.092-07:00Coração Modelado em Labareda: autoficção e um certo Portugal de 50 e 60<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjex3erLtUhMrWrdqttFFckwo_sAACelGSmO-L9Ai6NvhvodUyEbW_0-YbOqlOkPtxPXZ8H-PRq6C7MXgf2TRKK-x7f0JmeZTzizQ2eq0Z2Bh1PT-yaTLxITV9xeXeBibrM-vwfjUB3wiRpgjlt3OHOALtZtGUuynfNzYDrn4Rzm04gHSxjz4QXIXV9-Q/s1189/3143225173.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1189" data-original-width="800" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjex3erLtUhMrWrdqttFFckwo_sAACelGSmO-L9Ai6NvhvodUyEbW_0-YbOqlOkPtxPXZ8H-PRq6C7MXgf2TRKK-x7f0JmeZTzizQ2eq0Z2Bh1PT-yaTLxITV9xeXeBibrM-vwfjUB3wiRpgjlt3OHOALtZtGUuynfNzYDrn4Rzm04gHSxjz4QXIXV9-Q/s320/3143225173.jpg" width="215" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Como a ficha técnica assinala, o título da obra de Domingos Lobo em apreço parte dum verso de Egito Gonçalves – pertencente à chamada segunda geração neo-realista e associado a uma poesia da resistência ao <i>status quo</i> salazarista, nos primeiros livros do poeta. <a name="_Hlk110088484"><i>Coração Modelado em Labareda </i></a><i>– Diário marginal de um adolescente no país do “botas”</i> (Lobo, 2022) – é esse o título acrescido de subtítulo – abre as primeiras pistas de leitura, remetendo para a ideia de formação, de modelação de uma personalidade, uma modelação não neutra, morna ou tranquila, mas muito <i>a</i> <i>quente</i> e marcada pela inquietude e pela tensão. Por outro lado, o subtítulo abre a probabilidade de um discurso de primeira pessoa, produzido por um sujeito que narra a sua própria vida durante a adolescência ou até à adolescência. «Marginal» porquê? Um diário à margem da vida, logrando apenas captar, fragmentariamente, parte dela, como todos os diários? À margem da literatura – como sempre estiveram os diários? Escrito por um jovem à margem do seu próprio núcleo familiar ou do <i>establishment</i> escolar fascista? Por último, a referência ao «país do “botas”», ou seja, a Portugal, no tempo do ditador Salazar. Precise-se um aspecto mais: constituído por quarenta e seis capítulos curtos, precedidos de um poema em que se alude a Nagosela («espaço da memória essencial», p. 15), cada título desses capítulos remete o leitor para um ano em particular, havendo sempre, sobre cada ano, mais do que um capítulo. A acção é narrada respeitando a ordem cronológica dos acontecimentos. Encontramos, portanto, uma acepção alargada de «diário», que reenvia não para dias mas sim para anos ou para partes de anos – embora o narrador nos diga em certo passo do texto que, efectivamente, mantém um diário.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Que nos conta, então, este </span><i style="font-family: helvetica;">Coração Modelado em Labareda</i><span style="font-family: helvetica;">? Muita coisa. É simultaneamente a história da vida de um rapaz da pequena burguesia lisboeta, entre os seis e os dezanove anos, com relevo maior conferido aos períodos da infância e a adolescência. É ele o protagonista, é ele o narrador, em todos os capítulos, excepto no trinta e nove, no qual é concedida voz à criada Rita, em simultâneo amante do pai. E cresce, forma-se no confronto natural com os que o rodeiam e que são muitos.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Diria que essa história do tempo do «botas» foca dois complexos temáticos fundamentais. Por um lado, o despertar da sexualidade e o seu desenvolvimento, indissociável dum conflito com a «moral» estreitíssima – hipócrita, cheirando a sacristia e a mofo – e com a questão dos costumes, tal como formatados no contexto da ditadura fascista. Por outro lado, a narrativa é a pequena, mas em vários aspectos tensa e dramática, história da família do protagonista e do seu entorno social, ora em meio urbano ora em quadro rural. Uma família que habita na Rua do Arco do Cego (e cujos ancestrais, do lado materno, são de Nagosela): Maria Lobita (mãe), Armando (pai), Ramiro (irmão), o avô materno e ainda Rita (criada e mãe duma criança cuja paternidade é ambiguamente atribuída a Armando); são mencionados ainda dois irmãos mais velhos que não vivem na mesma casa. Amigos ou companheiros do protagonista, como Álvaro (sobretudo este), Pedro, Perneta (em Nagosela, a simbolizar sonhos de voo-escape) e outros ainda, gente como o primo Mário (de Nagosela), o professor Anselmo (cruel e de «ar azedo», p. 99) ou, também em Lisboa, o La Minute, fotógrafo gay, e Fortunato, o marçano assassino, são algumas das outras personagens que rodeiam o herói. Alguém que sabemos ser Lobo, de apelido, tal como o autor.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Temas como a escola salazarista, seus pretensos valores, suas práticas antipedagógicas e desumanas; o anti-salazarismo e a perseguição fascista dos opositores (quer o avô quer o pai são viscerais opositores, no plano estritamente individual, sem qualquer acção organizada contra o regime, ainda que o pai venha a ser preso por algum tempo); a repressão pidesca e a censura; as eleições presidenciais fraudulentas de 1958; o início da Guerra Colonial em 1961; e outros temas ainda marcam o cenário histórico do início da segunda metade do século XX em que decorre a vida deste narrador-personagem e da sua família até à morte do avô, até ao emergir de um rumo vocacional e até à procurada saída para um mundo de liberdade, por via de uma primeira viagem a França por volta dos dezoito-dezanove anos. Será uma das primeiras fugas passageiras à opressão do Deus-Pátria-Família fascista (evocado em vários momentos da narrativa e no capítulo 44, já perto do término da obra) e ao peso de «uma família a desmoronar-se» (p. 155).</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Direi, contudo, que o anseio de liberdade é talvez a força motriz quer deste herói «modelado» na </span><span style="font-family: helvetica;">«labareda» do seu tempo histórico (labareda sociopolítica e de cariz sexual) quer do próprio romance. E utilizo, finalmente, aqui este termo, porque o vi usado pelo próprio escritor num epitexto (mas já lá iremos à qualificação genológica deste texto). E, a ser assim, parece-me que existem neste livro traços do chamado </span><i style="font-family: helvetica;">romance de formação</i><span style="font-family: helvetica;">.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Não se pense, contudo, que esta atmosfera de tensão abafa outras componentes fortes do livro. Bem pelo contrário, tonifica-as e potencia-as. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Aprecio, em primeiro lugar, o saber detectável na construção das personagens, marcantes e verosímeis </span><i style="font-family: helvetica;">figuras de-carne-e-osso</i><span style="font-family: helvetica;"> e não apenas de papel. Quer as planas, como La Minute ou Fortunato quer as modeladas como a mãe e principalmente o avô (a grande referência-para-a-vida assumida pelo narrador protagonista). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Refiro-me, em segundo lugar, à dimensão humorística, que é recorrente na obra, e que passa pelas vertentes do cómico de carácter, do cómico de situação e do cómico de linguagem. E também à presença duma estética do grotesco – que mereceria desenvolvimento particular a propósito desta obra e, se calha, doutras de Domingos Lobo –, a qual, por exemplo, me leva a sinalizar a «atracção por cenas mórbidas» (p. 130), pela deformação, pelo hiperbólico em </span><i style="font-family: helvetica;">Coração Modelado em Labareda</i><span style="font-family: helvetica;">. Outro aspecto, articulado com o que acabo de mencionar, e até com o cinema (amiúde convocado e homenageado neste livro), prende-se com certa inclinação para os episódios rocambolescos de recorte popular. Este aspecto projecta-se depois no plano da própria linguagem, tanto a usada pelo narrador como a que se escuta na boca das personagens (registo, de passagem, o talento de Domingos Lobo enquanto recriador do discurso oral e da linguagem de rua). E, neste ponto ainda, não consigo deixar de evocar alguns antecedentes nobres como o Dinis Machado do extraordinário romance-tão-de-Lisboa </span><i style="font-family: helvetica;">O Que Diz Molero</i><span style="font-family: helvetica;"> (1977), que marca a ficção nacional do pós-25 de Abril; ou o Mário Zambujal da</span><i style="font-family: helvetica;"> Crónica dos Bons Malandros </i><span style="font-family: helvetica;">(1980), aliás convocado numa das epígrafes; ou como certos textos de Aquilino Ribeiro, beirão de cepa (como os Lobos), não por acaso certeiramente lembrado, a páginas 89 deste livro. </span><span style="font-family: helvetica;">Termino com uma proposta de leitura do texto enquanto narrativa enquadrável no campo da chamada autoficção. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Com efeito, temos, neste livro, um sem número de elementos que nos orientam para a aceitação de um pacto autobiográfico, o principal dos quais é a identidade onomástica entre o autor e o narrador-protagonista (autodiegético), para não falar das questões da localização espacial, em que, além de Lisboa e da zona do Arco do Cego, se destaca Nagosela onde o próprio Domingos Lobo nasceu, como o tal espaço de «caminhos de pedra ferida / de lagares de granito / odores antigos / a mosto e a resina no esconso dos assombros» (p. 15), a que alude o poema inicial. Nagosela: para o protagonista, lugar de múltiplas descobertas, lugar do despertar do corpo e do desejo, lugar maternal e matricial por excelência. Mas também evidência da pobreza, do desamparo social e do analfabetismo que grassavam no país, em especial em regiões mais deprimidas do interior.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Por outro lado, o próprio autor, num «Aviso prévio» (p. 11), nos alerta para a condição ficcional da sua obra, «baseada em alguns factos reais e históricos».</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Vejamos, então, com o auxílio da estudiosa e crítica brasileira Anna Faedrich, algumas, apenas algumas das diferenças entre autobiografia e autoficção. Na noção de pacto, «a autoficção se diferencia da autobiografia e do romance autobiográfico. Na autoficção, se estabelece com o leitor um pacto oximórico (Jaccomard, 1993), que se caracteriza por ser contraditório, pois rompe com o princípio de veracidade (pacto autobiográfico), sem aderir integralmente ao princípio de invenção (pacto romanesco/ficcional). Mesclam-se os dois, resultando no contrato de leitura marcado pela ambiguidade, em uma narrativa intersticial. A noção de pacto é fundamental para esclarecer o conceito de autoficção, diferenciando práticas distintas dentro do campo da “escrita do eu”.» </span><a name="_Hlk110108858" style="font-family: helvetica;">(Faedrich, 2015: 57)</a><span style="font-family: helvetica;">. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">E a mesma estudiosa prossegue: «a autoficção tem uma forma específica de construção da ambiguidade entre realidade e ficção. Embora a mistura entre realidade e ficção se encontre também em romances históricos e romances autobiográficos, na autoficção é intenção deliberada do autor abolir os limites entre o real e a ficção, confundir o leitor e provocar uma recepção contraditória da obra. A ambiguidade criada textualmente na cabeça do leitor é potencializada pelo recurso frequente à identidade onomástica entre autor, narrador e protagonista, embora existam variações e nuances na forma como este pacto se estabelece» (Faedrich, 2015: 57). </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Não querendo aprofundar neste momento mais o assunto – embora outros aspectos houvesse a considerar –, ouso afirmar que é isto que se passa na narrativa de Domingos Lobo, como penso que o leitor poderá ele próprio comprovar. E por isso </span><i style="font-family: helvetica;">Coração Modelado em Labareda</i><span style="font-family: helvetica;"> talvez deva ser considerado como exemplo de autoficção – aliás uma das tendências mais fecundas da ficção contemporânea. </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Concluo com um convite à leitura deste texto de léxico rico e sugestivo, prenhe de humanidade, de graça e de capacidade de nos pôr a reflectir, de modo aprofundado, sobre o que foram os anos do fascismo e sobre o modo como eles marcaram negativamente muitos e muitos indivíduos, a vida das famílias e dos lugares e a sociedade como um todo.</span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Domingos Lobo, romancista, dramaturgo, poeta e crítico reconhecido e várias vezes premiado na poesia, na ficção e no teatro, merece que aceitemos o desafio para a leitura da obra e aprendamos a desfrutar deste livro. </span></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: right;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 14pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><b><span><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">Referências</span></span></b></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">Faedrich, Anna (2015), «O conceito de autoficção: demarcações a partir da literatura brasileira contemporânea», <i>Itinerários</i>, n. 40, Araraquara, Jan./Jun., pp. 45-60.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;"><span>Lobo, Domingos (2022),</span><span> </span><i>Coração Modelado em Labareda – Diário marginal de um adolescente no país do “botas”</i><span>, Lisboa, Página a Página.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">José António Gomes</span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais do InED da ESE do Porto</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-33672801962516213112022-08-09T06:16:00.003-07:002022-08-09T06:38:25.967-07:00Ana Luísa<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEioiV9bAda7R9Zx4NLCA3ryJaxlTwbYjng4S6UmBgEYLtst_aR4bQacjvUR2lUBAFpVbsencSYKeeXNP2epWeIC7BR1fUTV_vGsQVhzbMVlh9BiYXRZDudOdbIp2-J3TZ9ux4wKAOg3isdEysNpluS-2WQ6JEC2_O048qEvb4HYXe2E-yZc9IG2YOVxLQ" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="933" data-original-width="1400" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEioiV9bAda7R9Zx4NLCA3ryJaxlTwbYjng4S6UmBgEYLtst_aR4bQacjvUR2lUBAFpVbsencSYKeeXNP2epWeIC7BR1fUTV_vGsQVhzbMVlh9BiYXRZDudOdbIp2-J3TZ9ux4wKAOg3isdEysNpluS-2WQ6JEC2_O048qEvb4HYXe2E-yZc9IG2YOVxLQ=w400-h266" width="400" /></a></span></div><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><br /><div style="text-align: justify;"><div style="font-family: -webkit-standard;"><span style="font-family: helvetica;">Ana Luísa Amaral (1956-2022) não foi apenas uma poeta de alta, bela e reconhecida voz, em Portugal e no estrangeiro (a sua poesia está hoje reunida em <i>O Olhar Diagonal das Coisas</i>, 2022), e uma autora de livros para a infância e a juventude que devem ser lidos e apreciados: <i>Gaspar, o Dedo Diferente e Outras Histórias</i>, 1998; <i>A História da Aranha Leopoldina</i>, 2000; <i>Auto de Mofina Mendes</i> de Gil Vicente (adaptação), 2008; uma adaptação de <i>A Relíquia</i> de Eça de Queiroz, 2008; <i>Como Tu</i>, 2012; <i>Lengalenga de Lena, a Hiena</i>, 2019. Publicou ainda o romance <i>Ara</i>, 2013, e foi uma excepcional estudiosa de poesia (conhecedora de poetas das mais diferentes latitudes) e uma divulgadora igualmente excepcional, generosa e persistente. Deste ponto de vista, sinto uma dívida enorme em relação a’«O som que os versos fazem ao abrir», na Antena 2, e ao seu notável trabalho de investigação académica (designadamente no campo dos Estudos Feministas), importando lembrar outras intervenções radiofónicas suas, a par das muitas conferências, cursos e oficinas – era uma incansável e entusiástica trabalhadora das letras. Também como ensaísta e como tradutora (da sua paixão, Emily Dickinson, mas também de Shakespeare, de John Updike, de Louise Glück, de Margaret Atwood e de muitos outros poetas, para não falar das suas traduções de John Locke, de Virgina Woolf e de Wesker) fica o país a dever-lhe imenso. </span></div><p style="font-family: -webkit-standard; text-align: left;"></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">Mas Ana Luísa foi, além disso, uma mulher muito corajosa e livre, que ousou pôr publicamente o dedo em muitas feridas – e que, silenciosamente ou não, acabou às vezes sendo penalizada por isso, como sucede com todas as pessoas de coragem. Foi (e ainda bem) uma poeta com intervenção cidadã e política – o que hoje é cada vez mais raro. Para alguns, quase imperdoável. E isto sem nunca perder a doçura e afabilidade do olhar, da voz, da maneira de estar. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">Tive sempre com Ana Luísa um relacionamento muito cordial. Lembro-me de termos sido colegas na faculdade, em Germânicas – embora, nessa fase, apenas nos conhecêssemos de vista. Tínhamos uma amiga comum, Ana Gabriela Macedo, que foi quem primeiro me falou da sua poesia. Há muito, muito tempo. Foi membro do júri das minhas provas de doutoramento, em 2003, na Universidade Nova de Lisboa, e membro do júri das minhas provas para professor coordenador de Literatura Portuguesa, na Escola Superior de Educação do Porto, em 2006. Impecável em qualquer destas duas situações. Colega de irrepreensível trato, correcção e amabilidade. E de enorme qualidade, no plano académico. Devo acrescentar que foi boa e justa professora de ambos os meus filhos, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">Escrevi sobre livros seus para a infância e, na minha faceta João Pedro Mésseder, reencontrámo-nos em 2005-2006, com outros escritores portugueses e galegos, no projeto Estafeta do Conto da Xunta de Galicia e da Direção Regional de Cultura do Norte (promovido por Xavier Senín Fernández e Helena Gil Coutinho), o qual deu origem à publicação de duas novelas juvenis bilingues. A de Ana Luísa: <i>Passos de música, caminhos de água/Pasos de musica, camiños de auga</i> (em co-autoria com Fina Casalderrey, Vergílio Alberto Vieira e Xabier Docampo – um grande escritor e amigo também já desaparecido). Tempos bons e luminosos, perdidos (ou ganhos) entre o norte de Portugal e a Galiza. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">Hoje, os leitores de poesia e o país como um todo perderam um ser humano e uma artista de excepção. Saibamos honrar a sua memória e fazer bom uso do muito que nos lega. <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">---<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">MÚSICAS, de Ana Luísa Amaral<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">Desculpo-me dos outros com o sono da minha filha.<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">E deito-me a seu lado,<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">a cabeça em partilha de almofada.<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">Os sons dos outros lá fora em sinfonia<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">são violinos agudos bem tocados.<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">Eu é que me desfaço dos sons deles<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">e me trabalho noutros sons.<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">Bartók em relação ao resto.<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">A minha filha adormecida.<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">Subitamente sonho-a não em desencontro como eu<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">das coisas e dos sons, orgulhoso<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">e dorido Bartók.<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">Mas nunca como eles,<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">bem tocada<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;">por violinos certos</span><span style="font-family: Times New Roman, serif; font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm;"><i><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm; text-align: right;"><span style="line-height: 17.1200008392334px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">6-8-2022<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm; text-align: right;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm; text-align: right;"><span style="line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">José António Gomes<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: -webkit-standard; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm; text-align: right;"><span style="line-height: 14.266666412353516px;"><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais do inED da ESE do Porto</span></span></p></div></span><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm; text-align: right;"><o:p><span style="font-size: x-small;"> </span></o:p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-3350535421694695472022-02-21T04:10:00.004-08:002022-02-21T04:10:59.426-08:00Voltar a Luísa Dacosta e à “Pedagogia do Deslumbramento”<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj3nmpWHbpDjH3CMPqZcyzK0yNzzN7U89rNL57Czh2U9RA6DsOKBZmVPtVW0_36VPFlzi4gfPNKKL9txOKqjgShloTKRK74YZADjIgibOSKL9QKYlfHVwOAzngRrcdxPpOSBOLBRLEZld6u-hrZ-QkDzFVS-ZBotZZhGwgPXhXH1IAWQhnQ0xIuWQFKEg=s1803" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1803" data-original-width="1208" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEj3nmpWHbpDjH3CMPqZcyzK0yNzzN7U89rNL57Czh2U9RA6DsOKBZmVPtVW0_36VPFlzi4gfPNKKL9txOKqjgShloTKRK74YZADjIgibOSKL9QKYlfHVwOAzngRrcdxPpOSBOLBRLEZld6u-hrZ-QkDzFVS-ZBotZZhGwgPXhXH1IAWQhnQ0xIuWQFKEg=s320" width="214" /></a></div><div style="text-align: justify;">Foi há três dias, a 16 de Fevereiro, o aniversário da minha Amiga Luísa Dacosta (completaria 95 anos). E fez há quatro dias sete anos que nos deixou. Era um ser humano de fibra e de palavra livre, intransigente defensora da mulher e dos seus direitos, personalidade afectuosa e terna, refinada e de enorme sensibilidade às artes visuais (escreveu para/sobre diversos artistas), mas sempre fiel às suas raízes transmontanas (nasceu em Vila Real). E fiel igualmente aos seus amigos, mortos ou vivos: Irene Lisboa, Régio, Júlio, Padre Joaquim Alves Correia, David Mourão-Ferreira, António José Saraiva, o bibliotecário Manuel Lopes, Teresa Rita Lopes, Jorge Pinheiro, José da Cruz Santos, Margarida Santos, Elvira Leite, José Manuel Esteves, Bernardette Capelo, Cristina Valadas, Paula Morão, Violante Magalhães… Fiel se manteve também às suas referências literárias: Hans Christian Andersen e os contos de fadas, Dostoievski, Gogol e Tchekhov, Katherine Mansfield, Joseph Bédier (por causa do mito de Tristão e Isolda), Lorca, Fernão Lopes, Sá de Miranda, Camões, Vieira, Eça, Raul Brandão, Pessanha, Aquilino (que ajudou, no Porto, a homenagear ainda em vida do mestre), Irene Lisboa, Graciliano Ramos, Cecília Meireles… Sem falar na <i>Bíblia</i> e n’<i>As Mil e Uma Noites</i>, que toda a vida leu, releu, estudou.</div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 19.97333335876465px;">Trás-os-Montes fê-la escrever coisas de forte poder evocativo, comoventes e, aqui e acolá, divertidas até – pois era senhora de uma escrita poeticamente muito trabalhada e sofisticada – como <i>Província</i> (1955), o seu primeiro livro de contos, e obras para a infância como <i>Teatrinho do Romão</i> (1977), <i>Lá Vai Uma… Lá Vão Duas</i> (1993) – Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças –, Robertices (1995), a juntar a admiráveis páginas de diário. Entre Lisboa e Vila Real nasceram os contos de <i>Vovó Ana, Bisavó Filomena e Eu</i> (1969), a tenderem já, aqui e acolá, para o auto-retrato. Em dado momento, graças ao empenho de gente boa e culta como Jorge Ginja e Helena Gil, veio a ser homenageada também na sua terra e, na sequência dessa dinâmica, fui convidado a organizar uma antologia de textos seus de raiz transmontana. Assim nasceu <i>Houve um Tempo, Longe – Vila Real de Trás-os-Montes na Obra de Luísa Dacosta</i> (2005), obra para a qual redigi um breve estudo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 19.97333335876465px;">O mar e os seus mitos, a praia de sargaceiros, a terra em redor, e sobretudo as doridas mulheres e as crianças fizeram-na escrever os seus dois melhores livros: as extraordinárias crónicas de <i>A-Ver-O-Mar</i> (1980) e <i>Morrer a Ocidente</i> (1990). <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 19.97333335876465px;">Mas merecem sempre revisitação os seus “romances truncados”, como gostava de os classificar, <i>Corpo Recusado</i> (1985) e <i>O Planeta Desconhecido e Romance da que Fui antes de Mim</i> (2000), textos ficcionais de fundo autobiográfico, e os seus dois volumes de diário: <i>Na Água do Tempo</i> (1992) – Prémio Máxima – e <i>Um Olhar Naufragado</i> (2008).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica; line-height: 19.97333335876465px;">O Príncipe que Guardava Ovelhas</span></i><span style="font-family: Helvetica; line-height: 19.97333335876465px;"> (1971), <i>O Elefante Cor de Rosa</i> (1974), <i>A Menina Coração de Pássaro</i> (1978), <i>História com Recadinho</i> (1986), <i>Sonhos na Palma da Mão</i>(1990) e outros títulos impuseram-na também como uma voz singular na nossa escrita literária para a infância. A rendilhada poeticidade da sua prosa e a assumida ou indirecta relação intertextual com mitos gregos e com clássicos (contos de Andersen; <i>Le Petit Prince</i>…) concorreram para essa singularidade, invariavelmente cunhada com uma epígrafe inicial, que era também um princípio existencial: «No sonho, a liberdade…».<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 19.97333335876465px;">Por último, diga-se que, além de poetisa – e de crítica e historiadora da literatura na sua juventude –, Luísa Dacosta foi uma professora de Português de excepção, que apostava, sobretudo, num ensino da língua solidamente assente no recurso à grande literatura e à grande arte (mesmo no 2.º ciclo), na comunicabilidade e na relação humana, buscando aquilo a que gostava de chamar uma «pedagogia do deslumbramento». Nas suas aulas de Português também entravam a música, a pintura, o cinema de Chaplin, a mímica de Marcel Marceau… Deste ponto de vista, e no quadro da educação literária, os seus livros <i>O Valor Pedagógico da Sessão de Leitura</i> (1974) e principalmente as antologias sábia e afectuosamente comentadas (e ilustradas por Jorge Pinheiro), <i>De Mãos Dadas Estrada Fora</i>(4 vols., 1970-2002) continuam a ser do que de melhor se fez em Portugal. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 19.97333335876465px;">Costumo dizer: deseja iniciar alguém (criança já leitora, jovem, adulto) no universo do literário? Ponha-lhe nas mãos <i>De Mãos Dadas Estrada Fora</i>.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm 0cm 8pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 19.97333335876465px;">Sobre a obra de Luísa Dacosta escrevi uma tese de doutoramento que Clara Crabbé Rocha orientou e Paula Morão arguiu. E redigi numerosos ensaios. Foi n'«um tempo longe». <span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm 0cm 8pt;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 14pt; line-height: 19.97333335876465px;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm 0cm 8pt;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-size: x-small;">José António Gomes, 19-2-2022<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 15.693333625793457px; margin: 0cm 0cm 8pt;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 19.97333335876465px;"><span style="font-size: x-small;">IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto</span><span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-41125353770930093992022-01-02T00:33:00.009-08:002022-01-02T00:37:32.596-08:00ESCOLHAS LITERÁRIAS DE 2021<p style="text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: Helvetica;">Deixei-me levar por um exercício ocioso e odioso: odioso para mim mesmo, porque em geral gerador de incompreensões e inimizades; e ocioso por ser coisa de cariz jornalístico e, por conseguinte, de limitado alcance histórico-crítico. Esse exercício é o de fazer as minhas escolhas literárias de 2021, em vários domínios.</span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;">Comecei então a elaborar uma lista. A dado momento, só no capítulo das traduções de poesia para Português, já ia em mais de duas dezenas de títulos que adquiri e li, integral ou parcialmente, e sei que a lista ainda está incompleta. Porque, de facto, 2021 foi um ano particularmente fecundo neste domínio, não só em matéria de antologias de poesia de outros países editadas em Portugal, como no campo da tradução de poetas individuais, quer clássicos (basta dizer que foi o ano Dante) quer contemporâneos. O mesmo drama no capítulo da poesia portuguesa. Da ficção nem se fala. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;">Optei, então, por me cingir a um número muitíssimo restrito: duas a quatro obras por género ou modalidade literária. E claro que as minhas listas estão muito incompletas, são subjetivas (como todas as selecções) e valem o que valem, porque não li tudo: há obras de que me esqueci, por razões válidas ou não; há obras que não me chegaram às mãos por défices de distribuição das novidades editoriais; há obras de circulação muito limitada e de que disponho porque me foram oferecidas, etc. Seja como for, sou um compulsivo comprador de livros de vários géneros. A esmagadora maioria das obras escolhidas adquiri-as eu. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Insisto: a lista inclui duas a quatro obras por cada domínio e envolve muita subjectividade. Reitero também que considero unicamente escritores portugueses. É excepção, pela natureza da poesia traduzida, o apartado de traduções de obras poéticas. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Notas importantes – (a) procuro, cada vez mais, seguir um princípio: tentar escapar ao frágil consenso mediático que, em geral, relega para a inexistência obras de grande valia e chega a promover obras medíocres. (b) Julgo também que chamar a atenção para poetas e prosadores multipremiados é por vezes chover no molhado. Não pretendo aqui </span><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;">carrear mais água para esse chuveiro. (c) Pela mesma razão, procurei também contornar </span><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;">os escritores que, embora não pareça, trabalham muito, no espaço mediático, para a sua própria promoção, e realçar alguns menos mencionados, mais discretos.</span><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: Helvetica;"> (d) Como estou a falar de literatura, não contemplo os 'álbuns' ou <i>picture books</i> só de imagens ou de muito escasso texto ilustrado, para a infância, que, tal como a Banda Desenhada, constituem em geral artes de outro tipo. Também não incluí textos dramáticos, mas por puro desconhecimento das eventuais publicações.</span><span style="font-family: Helvetica;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="background-color: white; color: #050505; font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;">Quanto ao Ensaio coloca-me problemas: tenho para mim – mas não estou</span><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"> certo disto – que o ensaio literário se encontra em crise em Portugal e não só (algumas distintas excepções: João Barrento, Manuel Gusmão, Silvina Rodrigues Lopes, Maria Filomena Molder, António Guerreiro…). Vejamos: com pouquíssimas excepções, a crítica literária deixou praticamente de dispor de espaço em jornais e revistas, eles próprios em declínio (o que aí se publica são, essencialmente, curtos textos de divulgação, muito influenciada pelas agências de comunicação e pelos <i>lobbies</i> editoriais, que chegam a ter jornalistas avençados). A crítica literária encontra-se, por isso, muito confinada ao meio académico, onde se produzem estudos de enorme e reconhecido valor. Mas as centenas de artigos científicos que académicos produzem anualmente em Portugal e no estrangeiro sobre literatura obedecem a uma estrutura e a parâmetros que cada vez menos se ajustam à estrutura e às características do ensaio tal como no passado o conhecemos. Roland Barthes, Óscar Lopes, Eduardo Prado Coelho, Maria Lúcia Lepecki, David Mourão-Ferreira, Eduardo Lourenço eram académicos, cultivavam o ensaio (e publicavam, não raro, em jornais); muitas das suas recensões críticas eram, em boa verdade, breves e luminosos ensaios. Mas o que publicavam no seu tempo dificilmente se ajustaria hoje aos requisitos das chamadas publicações científicas, universitárias, de literatura. Do mesmo modo, a maioria das chamadas revistas literárias (que no passado albergavam secções de crítica) deixaram de ser o lugar ideal para a publicação dos trabalhos de críticos literários de raiz universitária. Estes encontram-se agora sujeitos à rígida uniformização que, no campo investigativo, lhes é exigida em termos de escrita académica, sem poderem esquecer tão-pouco os parâmetros e critérios de avaliação do seu desempenho docente no capítulo da investigação, de que não cabe aqui falar.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #050505; font-family: Helvetica;">Inclusive, o livro de um só autor deixou, como se sabe, de constituir o espaço ideal de publicação desses trabalhos, que passou a ser o periódico científico escrutinado e indexado em bases de dados desse tipo de publicações. Como sobrevive o Ensaio a isto? Estas razões, e não são as únicas, contribuem também para a relativa escassez de novidades no campo do ensaísmo literário. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: left;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b5394;"><b>PROSA NARRATIVA PORTUGUESA, TEXTOS AFINS E OUTRAS PROSAS</b> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="font-family: Helvetica;">Henrique Manuel Bento Fialho –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Micróbios</i><span style="font-family: Helvetica;">, Abysmo</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Mário de Carvalho –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">De Maneira Que É Claro…</i><span style="font-family: Helvetica;">, Porto Editora</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Rita Cruz –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">No País do Silêncio</i><span style="font-family: Helvetica;">, Página a Página</span></li></ul><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: left;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b5394;"><b>PROSA NARRATIVA PORTUGUESA E OUTRA (REEDIÇÕES IMPORTANTES E INÉDITOS)</b></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="font-family: Helvetica;">Carlos de Oliveira –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Alcateia</i><span style="font-family: Helvetica;">, Assírio & Alvim – grupo Porto Editora</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Fernando Namora –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Deuses e Demónios da Medicina</i><span style="font-family: Helvetica;">, Editorial Caminho – grupo LeYa</span></li><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Mário Dionísio –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Passageiro Clandestino I 1950-1957</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">(diário)</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Casa da Achada (é acompanhado de outro volume: Eduarda Dionísio –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Notas – Passageiro Clandestino I de Mário Dionísio</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Casa da Achada)</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Sophia de Mello Breyner Andresen –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Prosa</i><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">(fixação de texto, prefácio de Carlos Mendes de Sousa e posfácio de Maria Andresen Sousa Tavares), Assírio & Alvim – grupo Porto Editora</span></li></ul><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b5394;"><b>DIÁRIO</b></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="font-family: Helvetica;">Gonçalo M. Tavares –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Diário da Peste – O Ano de 2020</i><span style="font-family: Helvetica;">, Relógio d’Água</span></li></ul><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b5394;"><b>POESIA PORTUGUESA</b></span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="font-family: Helvetica;">Alberto Pimenta –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Ilhíada</i><span style="font-family: Helvetica;">, Edições do Saguão</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">A. M. Pires Cabral –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Caderneta de Lembranças</i><span style="font-family: Helvetica;">, Tinta da China</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Manuel Silva-Terra –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Pó Sobre Pó</i><span style="font-family: Helvetica;">, Urutau</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Rita Taborda Duarte –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Pequeno Livro das Pedras</i><span style="font-family: Helvetica;">, Nova Mymosa</span></li></ul><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b5394;"><b>POESIA PORTUGUESA REUNIDA </b></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="font-family: Helvetica;">Adília Lopes –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Dobra</i><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">(nova edição ampliada),</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><a name="_Hlk91672839" style="font-family: Helvetica;">Assírio & Alvim – grupo Porto Editora</a></li><li><span style="font-family: Helvetica;">António Aragão –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">OBRA (Re)ENCONTRADA</i><span style="font-family: Helvetica;">, Edições do Saguão</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">António Franco Alexandre –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Poemas</i><span style="font-family: Helvetica;">, Assírio & Alvim – grupo Porto Editora</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Albano Martins –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Por Ti Eu Daria – Toda a Poesia</i><span style="font-family: Helvetica;">, Glaciar</span></li></ul><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b5394;"><b>POESIA (TRADUÇÕES PARA PORTUGUÊS)</b></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="font-family: Helvetica;">Friedrich Hölderlin –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Todos os Poemas seguido de Esboço de uma Poética</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> (tradução, introdução, comentários e notas de João Barrento)</span><span style="font-family: Helvetica;">, Assírio & Alvim – grupo Porto Editora</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Giuseppe Ungaretti –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Vida de Um Homem – Toda a Poesia</i><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">(tradução de Vasco Gato), IN-CM</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Luís Cernuda –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Ocnos</i><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">(tradução e apresentação de Miguel Filipe Mochila), Língua Morta</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Masaoka Shiki –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Aves Dormindo Enquanto Flutuam – haikus</i><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">(</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">introdução, notas e versões portuguesas de Joaquim M. Palma),</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><a name="_Hlk91672644" style="font-family: Helvetica;">Assírio & Alvim – grupo Porto Editora</a></li></ul><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: left;"><span style="font-family: Helvetica;"><b><span style="color: #0b5394;">LITERATURA PARA A INFÂNCIA E A JUVENTUDE E DE RECEPÇÃO TRANSGERACIONAL – NARRATIVA </span></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="font-family: Helvetica;">António Mota –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">A Gaveta Mágica</i><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">(ilustrações: Cátia Vidinhas), ASA – grupo LeYa</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Augusto Baptista –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">A Senhora Prestável</i><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">(ilustrações de</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><a name="_Hlk89532426" style="font-family: Helvetica;"><span style="background-color: white;">Emelie Ostergren</span></a><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">), Xerefé Edições</span></li><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">José Viale Moutinho –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">A Máquina do Tempo do Professor Candeias</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">(sobre a vida e a obra de Camilo Castelo Branco), Imprensa Académica</span></li><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Margarida Gil Moreira (texto e ilustrações) –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">A Estrela da Serra</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Cordel d’Prata</span></li></ul><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><b><span style="color: #0b5394;">LITERATURA PARA A INFÂNCIA E A JUVENTUDE – POESIA </span></b><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="font-family: Helvetica;">Maria Judite de Carvalho –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">Felizmente as Árvores São Grandes</i><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">(ilustrações de Cátia Vidinhas), Minotauro – grupo Almedina</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Nuno Higino –</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span><i style="font-family: Helvetica;">O Livro de Benício – Poesia para a Infância</i><span style="font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">(ilustrações de Kassandra Júlio)</span></li></ul><span style="font-family: Helvetica;"><b><span style="color: #0b5394;">ADAPTAÇÃO DE CLÁSSICOS PARA OS MAIS JOVENS</span></b></span><br /><ul><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Carlos Ascenso André –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">A Eneida de Virgílio adaptada para jovens</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Quetzal – grupo Bertrand/grupo Porto Editora</span></li></ul><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><b><span style="color: #0b5394;">NOVELA GRÁFICA </span></b></span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul style="font-family: Calibri, sans-serif;"><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Joana Estrela (texto e ilustrações) –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Pardalita</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Planeta Tangerina</span></li></ul><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: left;"><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><b><span style="color: #0b5394;">ENSAIO LITERÁRIO E AFINS (OBRAS DE AUTORES PORTUGUESES)</span></b></span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">António Guerreiro –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Zonas de Baixa Pressão – Crónicas Escolhidas</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Edições 70 – grupo Almedina <span style="color: #0b5394;">*</span></span></li><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Carina Infante do Carmo –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">A Noite Inquieta, Ensaios sobre Literatura Portuguesa, Política e Memória</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Húmus</span></li><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Manuel Frias Martins –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">A Lágrima de Ulisses – Regimes da Cultura Literária</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Editora Exclamação</span></li><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Silvina Rodrigues Lopes –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">O Nascer do Mundo nas Suas Passagens</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Edições do Saguão</span></li></ul><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><o:p> </o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b5394;">*</span>Embora ostentem o subtítulo de “crónicas”, considero que os textos desta obra são, na sua maioria, pequenos ensaios. Acrescente-se que extravasam muito o domínio específico da literatura.</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><o:p> </o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><b><span style="color: #0b5394;">BIOGRAFIA E ENTREVISTA</span></b></span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Álvaro Magalhães –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Para Quê Tudo Isto – Biografia de Manuel António Pina</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Contraponto</span></li><li><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Joana Meirim (ed., org. e intr.) –</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span><i style="background-color: white; font-family: Helvetica;">Diz-lhe Que Estás Ocupado – Conversas com Alexandre O’Neill</i><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;">, Tinta da China</span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"> </span></li></ul><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><b><span style="color: #0b5394;">ANTOLOGIA</span></b></span><span style="background-color: white; font-family: Helvetica;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; break-after: avoid; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"></p><ul><li><span style="font-family: Helvetica;">Vários – <i>A Visagem do Cronista</i></span><i><span style="font-family: Helvetica;"> – Antologia de Crónica Autobiográfica Portuguesa (Séculos XIX-XX)</span></i><span style="font-family: Helvetica;">, Vol.1 (sel., org. e introd. de Carina Infante do Carmo), Arranha-Céus</span></li><li><span style="font-family: Helvetica;">Vários – <i>A Visagem do Cronista – </i></span><i><span style="font-family: Helvetica;">Antologia de Crónica Autobiográfica Portuguesa</span></i><span style="font-family: Helvetica;"> (Séculos XX-XXI), Vol. 2 <a name="_Hlk91760287">(sel., org. e introd. de Carina Infante do Carmo), Arranha-Céus</a></span></li></ul><p></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; break-after: avoid; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span face="-webkit-standard"></span></p><p class="MsoNormal" style="background-color: white; break-after: avoid; font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">João Pedro Mésseder</span></span><span style="font-family: Helvetica; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-41901172706509164802021-10-31T04:10:00.002-07:002021-10-31T04:10:40.680-07:00VIALE MOUTINHO: DADO O ADIANTADO DA HORA<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK47gqdKjvYCt4nW7eOoLGsEcu33I66l2iypcUK6Ix2aN3VK4MlfYbPWaDAJwLSU2sDXza2yWdmXglx2_Bdt8X7sH-tljP3mHbFJBTN_u-YuiOEjawuSNLVknTvVxbT86gui0ZUZS9aZDc/s774/500x.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="774" data-original-width="461" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK47gqdKjvYCt4nW7eOoLGsEcu33I66l2iypcUK6Ix2aN3VK4MlfYbPWaDAJwLSU2sDXza2yWdmXglx2_Bdt8X7sH-tljP3mHbFJBTN_u-YuiOEjawuSNLVknTvVxbT86gui0ZUZS9aZDc/s320/500x.jpg" width="191" /></a></div><div style="text-align: justify;">José Viale Moutinho (Funchal, 1945) terá este ano um novo livro publicado em Itália: <i>In Causa Propria </i>(Em causa própria), edição bilingue, traduzida pelo poeta Emilio Coco. Raffaelli Editore, de Rimini, publica. </div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">O texto português integra o volume <a name="_Hlk86438706"><i>Os Cimentos da Noite </i></a><i>1975-2018</i> (Afrontamento, 2020), que recebeu o Prémio D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus, de Vila Real, o qual foi entregue em 31 de Outubro de 2021.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Como leio a poesia de Viale Moutinho, eu que a não conheço suficientemente bem, mas reconheço, ao deambular por ela, detendo-me aqui e ali, uma poética de indesmentível qualidade de escrita e de singularidade inegável? Pois leio-a como um discurso em que o fundo dramático jamais deixa escapar a possibilidade da ironia, e em que a tensa meditação da voz que escutamos balança entre a sua própria existência-e-condição-no-tempo e a dos outros. Detecta-se um sentido emotivo eficazmente contido pela inteligência das estratégias verbais, designadamente a sintaxe, pelo modo hábil de usar/organizar a versificação (incluindo aqui o <i>enjambement</i>) e por pontuais desvios de atenção para os cenários em que o sujeito surge inscrito. Uma apreciação brevíssima, esta, que se centra em especial nos últimos livros. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">E é de uma dessas secções de <i>Os Cimentos da Noite</i> (“Dado o Adiantado da Hora – inéditos e dispersos”, pp. 342-343) que extraio este poema com algo de tempestuoso, mas que tanto me agrada. Recordo que a vírgula é a pontuação por excelência da poética de Viale Moutinho e que é com vírgula que o poema remata (remata?). <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm; text-align: right;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-size: 11pt; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">___________________________</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">Todas as noites percorro a casa<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">em busca do quarto secreto<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">onde a tempestade guarda<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">os seus ovos de reserva,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">ou o assobiar dos ventos, <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">vejo como cai a chuva<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">grossa e se envolve a terra<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">nos seus mais densos rios,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">ouço as palavras de meu <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">pai, são sábias, loucas, belas, <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">levando-me para onde serei<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">um dia um corredor de fundo,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">a casa, às escuras, permite-me<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">ver os despojos do dia morto,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">abro as portas dos quartos e nada,<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">nunca encontrei esse quarto<span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">João Pedro Mésseder</span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-17597942844292744012021-10-27T10:32:00.003-07:002021-10-27T10:32:30.348-07:00A escrita de Domingos Lobo e Origens e Derivações do Neo-realismo Literário Português<p style="text-align: justify;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwAhX38y5bm0DoHPLkDtghBhVYSDMVMmw3zFy6NPYlmQvuGExzMASrSd9I10bpJO0ZpnEDwjgahlXbeQA3V84vpTRDw3qFX61jqu1T62m2foV6dW34jd1pCAPq30aoovhUoEV9Q_jDtsFk/s631/2dff3f07c40941dba9d9946326ba6de6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="631" data-original-width="400" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiwAhX38y5bm0DoHPLkDtghBhVYSDMVMmw3zFy6NPYlmQvuGExzMASrSd9I10bpJO0ZpnEDwjgahlXbeQA3V84vpTRDw3qFX61jqu1T62m2foV6dW34jd1pCAPq30aoovhUoEV9Q_jDtsFk/w203-h320/2dff3f07c40941dba9d9946326ba6de6.jpg" width="203" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Domingos Lobo (n. 1946)</span><span style="font-family: Helvetica;"> é natural de Nagozela, Santa Comba Dão. Em 1982 recebeu o Prémio de Melhor Encenador, do Festival de Teatro de Lisboa, distinção que se liga a uma das forças motrizes da sua vida: a actividade teatral, quer como encenador e actor quer como dramaturgo, adaptador de textos para teatro, crítico teatral e de cinema e membro de colectivos de jograis.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Director do jornal <i>A Voz do Operário</i>, Domingos Lobo é actualmente um dos poucos colaboradores da imprensa que se dedicam com assinalável regularidade à divulgação crítica, nas páginas do semanário <i>Avante!</i>, no quinzenário <i>As Artes entre as Letras</i>, na <i>Vértice</i>, na <i>Gazeta Literária </i>e noutros periódicos, tendo reunido, por exemplo no volume <i>Palavras que Respiram – 30 olhares sobre a literatura portuguesa</i> (Página a Página, 2016), uma selecção dos seus textos de crítica literária publicados nos últimos anos. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">No campo da história e da crítica literárias, Domingos Lobo publicou ainda, recentemente, com a chancela da Página a Página e o apoio da Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo (da qual é indissociável o nome do Presidente da Direcção, António Mota Redol), a obra fundamental </span><i><span style="font-family: Helvetica;">Origens e Derivações do Neo-realismo Literário Português – Percursos de Leitura</span></i><span style="font-family: Helvetica;"> (2021). Neste volume, reúnem-se textos vários, desde os que abordam a influência do marxismo no Neo-realismo português, até aos artigos sobre Redol, Soeiro Pereira Gomes, Mário Dionísio, Cochofel, Joaquim Namorado, Romeu Correia, Orlando da Costa, Manuel da Fonseca, Egito Gonçalves, Cardoso Pires e muitos outros, incluindo precursores do Neo-realismo como Aquilino, ou alguns dos seus críticos principais (Óscar Lopes) a par daqueles em cujas criações literárias se projecta ainda a luz do Neo-realismo (Sttau Monteiro, Ary, Fernando Miguel Bernardes, entre outros). <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Não me lembro de nenhuma recolha de artigos em volume que reúna um conjunto tão significativo e diverso (isto é, abrangendo tantos escritores e escritoras) de análises e leituras sobre esse movimento incontornável da literatura portuguesa do século XX. Por isso e por outros motivos, é esta uma obra fundamental para quem queria conhecer em maior profundidade as poéticas neo-realistas e os seus protagonistas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Domingos Lobo é, além do que fica dito, um autor de ficções e de textos para teatro. No primeiro caso (ficcionalizando amiúde a partir do que foi a sua vivência angolana) editou<i> Os Navios Negreiros Não Sobem o Cuando</i></span><span style="font-family: Helvetica;"> (1993, Prémio de Ficção Cidade de Torres Vedras), <i>Pés Nus na Água Fria</i> (1997), <i>As Máscaras Sobre o Fogo</i> (2000), <i>As Lágrimas dos Vivos</i> (2005), <i>Território Inimigo</i> (2009) e <i>Largo da Mutamba</i> (2015, Prémio Literário Alves Redol 2013).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">No domínio teatral, é autor de </span><i><span style="font-family: Helvetica;">Cenas de Um Terramoto</span></i><span style="font-family: Helvetica;"> (2010), <i>Não Deixes que a Noite se Apague</i> (2009, Prémio Nacional de Teatro Bernardo Santareno) e <i>A Fome dos Corvos e Outros Pretextos Teatrais</i> (2020). <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Lobo possui ainda uma obra vasta no campo da criação poética: <i>Voos de Pássaro Cego</i> (1998); <i>As Mãos nos Labirintos</i> (2003); <i>Para Guardar o Fogo</i> (2010, Prémio Literário Cidade de Almada 2009); <i>Lisboa, Modos de Habitar</i> (2014); <i>A Pele das Sombras</i> (2011); <i>Os Dias Desarmados</i> (2018); <i>O Rosto em Ruínas</i> (2020); e <i>Quotidianos e Outras Noites</i> (2020). <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Em síntese, uma obra ampla e com múltiplas facetas, que abarca os três modos literários fundamentais e que importa conhecer e reconhecer. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">José António Gomes<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 12pt;"> </span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-83400153512655844332021-10-25T03:56:00.000-07:002021-10-25T03:56:06.028-07:00NERVO N.º 12 – REVISTA DE POESIA A LER E A SEGUIR<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipW5B9_8mYYlSh4gF8M2hkmYcyBP057ehb2yQlWQe085BLJGX2dpk4eFaUoVLnouvZc3HSRswgBF7qP98VhAsicaacrtYeUnP90Gt_zYKducYVgi0AX6OE7RgmSVdJmKwWMOoCeQ5t2MKa/s593/Nervo+12.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="593" data-original-width="393" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEipW5B9_8mYYlSh4gF8M2hkmYcyBP057ehb2yQlWQe085BLJGX2dpk4eFaUoVLnouvZc3HSRswgBF7qP98VhAsicaacrtYeUnP90Gt_zYKducYVgi0AX6OE7RgmSVdJmKwWMOoCeQ5t2MKa/s320/Nervo+12.jpg" width="212" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Aí está o número 12, Setembro-Dezembro de 2021, da <i>Nervo</i>, a bela revista de poesia dirigida pela poetisa Maria F. Roldão, que principia com o editorial “Desobedecer ao cânone: a coragem da edição”. Entre outras coisas refere esses dois ‘heróicos’ editores/escritores que foram Vítor Silva Tavares (& etc.) e Luís Pacheco, o inesquecível autor de “Comunidade” e doutras pérolas (oh, como me lembro bem de, nos idos de 75 ou 76, o ver a tentar vender pedras da calçada no café Piolho, do Porto, estava eu nos alvores da juventude e a revolução na rua…). Se o título do texto de Maria F. Roldão remete para a pretensa “desobediência” a cânones destes senhores já é coisa mais discutível, porque na verdade todos os grandes autores que editaram já eram praticamente canónicos quando foram por eles publicados (Cesariny, Herberto, Natália e muitos outros). E se não eram, em breve o vieram a ser. Além do mais, a & etc. editou inúmeros clássicos do século XX e não só. Verdade também que ambos deram a conhecer autores novos e não canónicos, em especial Vítor Silva Tavares. No que talvez tenham sido menos “canónicos”, mais irreverentes foi nos modos de editar e distribuir, e nas belas aventuras editoriais que nos legaram (e louvados sejam por isso, ou também por isso). Isto mesmo destaca, e bem, Maria F. Roldão.<span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">A capa de Cristina Troufa parece-me extremamente sugestiva, assim como os desenhos da mesma artista que ilustram esta <i>Nervo</i>, que continua a trazer-nos diversidade de latitudes linguístico-culturais: temos poetas portugueses e poetas traduzidos: Amparo Parra (Cuba), vertida por Zetho Cunha Gonçalves, menos interessante talvez que Hans Wap (Holanda), traduzido por Fernando Venâncio; e Ronaldo Cagiano, poeta brasileiro radicado em Portugal. São todos eles poetas que reclamam leitura, mas diferentes. Cagiano termina a sua série com esta graciosa “Dialética”: “Foi nos outlets do afeto / que ele encontrou um amor / sem defeitos.” Os poemas de Wap, que é também artista plástico, atraíram em especial a minha atenção de leitor – e a versão de Venâncio (a mim que não sei Neerlandês mas leio um pouquinho em Alemão) parece-me conseguida e convincente enquanto poema-em-português.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Acho muito bons os poemas de Maria Azenha (não obstante o tom depressivo mas cortante e a questão da morte que os assombram) – poetisa que integra, nesta “Nervo”, um leque de vozes já conhecidas e mais antigas da poesia portuguesa. Dele fazem parte Isabel de Sá, Nuno Dempster, Nunes da Rocha ou José Luís Borges de Almeida que exibem registos distintivos, o terceiro no poema em prosa. Nos mais jovens (chamemos-lhes assim, por comodidade de expressão), encontramos Amândio Reis, Cláudia Capela, João Cardoso Vilhena, João Silveira – todos eles poetas merecedores de leitura atenta (guardo para já uma certa vibração – incluindo um toque de erotismo – e um registo muito pessoal que me captaram o ouvido e não só em Cláudia Capela). Denominador comum a quase todas estas poéticas: o carácter egóico dos discursos e, em vários casos, uma linha de referencialidade a remeter para quotidianos-de-agora, mais ou menos depressivos, de vivências e coloração diversas, aqui e acolá com aspectos de ironia e humor subtis. Quanto a Amândio Reis, e como é sabido, foi considerado por António Guerreiro (a cujas opiniões importa sempre estarmos atentos) uma das revelações da literatura contemporânea, figurando aqui com um texto de difícil catalogação, entre o poema e a narrativa (a reler). Ah, e retenho, entre muitas outras passagens, estes versos na ‘mouche’ de João Cardoso Vilhena: “Demoro anos a perceber um poema / Ler é uma actividade alucinatória / O sentido chega como uma visão”.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Muito bem-vindo também é o ensaio final sobre Teixeira de Pascoaes, de Sofia A. Carvalho, estudante de doutoramento a ultimar tese sobre o poeta amarantino. Em boa hora. Intitula-se o texto “Teixeira de Pascoaes – ‘O Pobre Tolo’ e as ‘três pessoas dum poeta’ ”.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Caso para dizer: no meio dos dias agressivos e regressivos que vivemos, a <i>Nervo</i> é um oásis de cultura e de poesia, um bocadinho ao lado das capelas do costume (sem exagerar, porque já lá temos visto também um ou outro capelão). E vale mesmo a pena ser lida, ser seguida e divulgada.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 14pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">João Pedro Mésseder<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 14pt;"> </span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-6620881047138044702021-09-18T04:26:00.001-07:002021-09-19T07:16:20.476-07:00Pó Sobre Pó, de Manuel Silva-Terra: livro de poesia irrecusável<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgMY_RYrC0vd8pPiRU2KFRgZJwNmuoHqp2F3zgxabb2UzeL7UKsADjjJnuqmrSTH9eWkl34jJGMoRHT-kollAoSIJnQMN8mNyIKNCT2pkey-3IFHi2Sch0emtIeeZiX0Jw56Py0DN3d5Qc/" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="423" data-original-width="300" height="274" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgMY_RYrC0vd8pPiRU2KFRgZJwNmuoHqp2F3zgxabb2UzeL7UKsADjjJnuqmrSTH9eWkl34jJGMoRHT-kollAoSIJnQMN8mNyIKNCT2pkey-3IFHi2Sch0emtIeeZiX0Jw56Py0DN3d5Qc/w194-h274/terra_portada-300x423.jpg" width="194" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Leio este belo <a name="_Hlk82791104"><i>Pó Sobre Pó</i></a>, recolha de poemas <a name="_Hlk82791118">de Manuel Silva-Terra</a>, graficamente muito cuidado, com a chancela da editora brasileira Urutau (Cotia – SP, 2021), e pergunto-me: como dizer, em poucas palavras, algo que abra uma frincha para esta escrita sem provocar pisadura na auréola do livro? <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Poemas sem título que se sucedem uns aos outros nas cerca de 74 páginas do livro, um em cada página, e com uma reconhecível unidade temática e de registo vocal, eu diria que <i>Pó Sobre Pó</i> quase pode constituir um poema único, que principia com a noite, a ela sucedendo a manhã diluindo-se depois as marcas do tempo, sem que o tempo deixe de estar no centro de todo o poemário.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Com ecos hölderlinianos e rilkeanos (e há qualquer coisa de <i>Wanderung</i> – «fez do caminho a sua morada», p. 42 – nesta sucessão de textos), trata-se duma poesia de reflexão existencial, de pensar solitário sobre o(s) lugar(es)/tempo(s) do sujeito no mundo – como se tal solidão fosse condição de aprofundamento do pensar. Mas esta é também a escrita duma busca: uma alternativa ao desgaste, à tensão, à «ferida», cuja sombria presença de algum modo se pressente. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Ora essa saída descobre-se numa espécie de reatar da ligação umbilical à Natureza, uma religação ao natural a que vários poemas dão expressão («Regressas pois à harmonia dos sons / Ao eco na montanha / À luz dourada dos frutos», p. 29). E uso o termo religação, porque, aqui e acolá, se dá conta dum tom quase religioso no <i>dizer</i> desta poesia tão intensa e tão parca (o que muito me agrada) em referências directas ao eu. E também por isso, e pela <i>viagem</i>, nos vêm à mente a tradição nipónica do <i>haiku</i> e do <i>haibun</i> (embora aqui não haja prosa) e a lição do Bashô viandante.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Cometerei a ousadia de me apropriar de um poema do livro para tentar aludir à demanda deste sujeito poético:<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Este foi salvo pela poesia das coisas<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Pelas palavras iluminadas e iluminantes<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Pelas brasas que cauterizam a ferida<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Aquele outro foi salvo pelo recolhimento<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;">que praticou junto das sementes<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;">e dos animais e das árvores<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Outro foi salvo pela acção<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Pelo desapossamento de si<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Pela sua entrega aos outros </span></i><span style="font-family: Helvetica;">(p. 67)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Lendo a totalidade de <i>Pó Sobre Pó </i>(a poeira que se levanta do caminho e torna a pousar?; a poeira que todos somos?) e lendo estas três imagens de caminhos de vida patentes na composição que acabo de citar, ousaria dizer, a terminar, que o livro de Manuel Silva-Terra corresponde porventura à expressão de uma demanda situável entre o que, no poema, é dito no primeiro terceto e o que é dito no segundo.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">E desta maneira tento uma síntese, empobrecedora é claro, dum livro em boa verdade irresumível e imparafraseável, que proporcionará, estou certo, intensos momentos de leitura.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Com, até ao momento, cerca de uma dúzia de livros publicados, belos e singulares, e diversas antologias de poesia «de outros séculos e lugares» (p. 73), Manuel Silva-Terra continua a ser um poeta que urge ler, sendo <i>Pó Sobre Pó</i>, talvez, uma das suas melhores obras.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">José António Gomes</span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto <o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 14pt;"> </span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-87867122537096310442021-07-28T01:56:00.005-07:002021-07-28T01:58:13.924-07:00Pitões das Júnias, de Aurelino Costa e Anxo Pastor<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9EQz6_Vp6-mJPud8iq-PeOQvjJ_5Em343dp0CHVrcflKUEGdllGXorNz19xa2gOWA9Fauj4ieosm_a7z62vBpnOpre30FWN8H4uRCfdQi7MtJPUTaD-xQWIQdKcN5HAsbv2yLMfQcNb9T/s756/118775384_1376066282597146_5900074484205502417_n.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="756" data-original-width="505" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9EQz6_Vp6-mJPud8iq-PeOQvjJ_5Em343dp0CHVrcflKUEGdllGXorNz19xa2gOWA9Fauj4ieosm_a7z62vBpnOpre30FWN8H4uRCfdQi7MtJPUTaD-xQWIQdKcN5HAsbv2yLMfQcNb9T/s320/118775384_1376066282597146_5900074484205502417_n.jpg" /></a></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Que livro bonito este que mão amiga me fez chegar às mãos:<span> </span><i>Pitões das Júnias</i><span> </span><span>(2.ª ed., Porto: Blue Book, 2020). Diz-nos o paratexto da capa (sugestiva capa) esta curiosa coisa: «Tões» de Aurelino Costa com Anxo Pastor. E, na sua ignorância, mesmo depois de pesquisar a etimologia de Pitões e de Júnias, o leitor procura construir sentido(s): sugere-se que «tões» é poemas (os quais são sempre combinação de som e sentido)? Aponta-se para tons? Para pequenas pinceladas de som (passe a sinestesia) vinculadas ao topónimo com que «tões» intencionalmente rima?</span></span></div><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Apego-me a esta última acepção para dizer que o que nos propõe este livro são, precisamente, pequenas notas em verso inspiradas por esse belíssimo território comunitário do Gerês que dá título ao livro – notas que configuram uma poética pontilhista cujo visualismo nos cativa. Mas também um modo muito peculiar de sentir a terra, a montanha e os seus sortilégios, sentir homens, mulheres e bichos, sentir as casas: «Pela trave / Ciranda / A aranha // E um fio / Da teia / Une // O que rareia» (p. 37). <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Estamos, pois, como estes versos evidenciam, ante uma escrita próxima das brevidades poéticas orientais, que procura captar a essência dos instantes. E o que Mário Cláudio afirma, num comentário de apresentação citado a fechar o livro, a leitura o confirma: «(…) brevíssimos poemas, aliás compondo um poema único, constituem uma lição de telurismo e espontaneidade, de contenção e de limpidez» (p. 61).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Os micro-poemas de Aurelino Costa (poeta, conhecido <i>diseur</i> e advogado, nascido em Argivai, Póvoa de Varzim em 1956) dialogam, em <i>Pitões das Júnias</i>, com as aguarelas doutro poeta também pintor, Anxo Pastor, originário da Galiza, onde nasceu em 1959.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">As aguarelas são um elemento fundamental da beleza dum livro graficamente muito cuidado. Um verde tendencialmente escuro contrasta com pequenas notas de castanho claro, amarelo e azul, buscando a aproximação às cores da terra que a poesia intenta capturar. Apostando na sugestividade e em traços dos quais se valorizou a espontaneidade expressiva, as imagens de Anxo Pastor fazem deste objecto um lindíssimo álbum marcado pela unidade duma paixão comum pela terra. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">A terminar, um dos poemas mais longos do livro (p. 55), mesmo assim breve, com o qual a obra encerra (mais um dos textos em que as liberdades gramaticais do poeta se nos impõem como verdadeiras liberdades poéticas):<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;">Vem a Primavera<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;">Tira-se o esterco<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;">Para semear a batata e o milho<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;">Vem a satcha<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;">E depois o feno <o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;">O centeio corta-se a punho<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;">Atam-se as messes<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;">É carrá-lo<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;">Relincham as galochas nos pés<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;">É inverno<o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">José António Gomes<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span><span style="font-family: helvetica; font-size: x-small;">IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto</span><span style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-91524215078817877842021-06-14T07:58:00.005-07:002021-06-14T08:01:05.518-07:00Jorge Palma, Diane di Prima e a Poesia Beat – “Por ti mandava arranjar os dentes / e comprava um colchão”<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: "Times New Roman", serif;"><br /></span></p><p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZWUwGVDzAzKFwXUuFNCxGwQ46-eiaVkmsl9ZZpQtB1TSkR7g_tSDAGHfyIVv6K9cICnAWeGKp6iLKEf6f6p0Q7cub9cyozYWbuqkQkAuQ7zvDfx56lRDlyVm2UwY8mxVMaggLQNaU6Esb/s1280/DianeDiPrimaJMitchell.16.9.jpeg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="1280" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZWUwGVDzAzKFwXUuFNCxGwQ46-eiaVkmsl9ZZpQtB1TSkR7g_tSDAGHfyIVv6K9cICnAWeGKp6iLKEf6f6p0Q7cub9cyozYWbuqkQkAuQ7zvDfx56lRDlyVm2UwY8mxVMaggLQNaU6Esb/w400-h225/DianeDiPrimaJMitchell.16.9.jpeg" width="400" /></a></div><br /><p></p><p style="text-align: justify;"><span><span style="font-family: helvetica;">Gosto especialmente do Palma’s Gang ao vivo no Johnny Guitar, em 1993. Pegarei numa das suas mais conhecidas canções: “Cara d’anjo mau”. E porquê? Por, a propósito desta canção, Jorge Palma escrever em nota, no folheto do CD: “Tinha que fazer alguma coisa, depois de encontrar a Jane do Toulouse-Lautrec e de abusar da Diane di Prima, com mais ou menos poemas de amor. Tinha que fazer alguma coisa.”</span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Descontado o episódio autobiográfico, este apontamento diz-nos de onde vem o Jorge Palma-leitor. O tal “abuso” de Diane di Prima (Nova Iorque, 1934 – São Francisco, 2020), poeta da <i>beat generation</i>, reside na circunstância de se escutar na última estrofe da letra: “Por ti mandava arranjar os dentes / e comprava um colchão / por ti mandava embora o gato / por quem tenho tanta afeição / por ti deixava de meter o dedo / no meu nariz / por ti eu abandonava / o meu país”. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Palma utiliza aqui uma anaforização estilística e sobretudo cita, nos 1.º, 2.º, 5.º e 6.º versos, quase <i>ipsis verbis</i>, dois pequenos fragmentos de um poema semelhante de Diane di Prima, incluído na série intitulada “Mais ou menos poemas de amor”. E onde a leu o nosso cantor? Pois bem, numa histórica <i>Antologia da Novíssima Poesia Norte-Americana</i> (pp. 93-95), que tinha foto de Ginsberg na capa, e que havia sido publicada pela Futura em 1973, com organização, prefácio e tradução de Manuel de Seabra (1932-2017). Seabra foi um contista, romancista, poeta e tradutor injustamente esquecido, que viveu grande parte da sua vida em Barcelona, primeiramente exilado, e que teve um relevante papel na tradução para Português de poesia catalã, russa (por exemplo Maiakovski) e de outras latitudes geolinguísticas.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">A sua <i>Antologia da Novíssima Poesia Norte-Americana</i> foi muito lida e comentada, antes e logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, e alguns poemas que nela figuram tiveram influência indiscutível em textos concretos de vozes como Jorge Sousa Braga, Jorge Fallorca, Artur Rockzane, José Soares Martins, José Pinto Leite e outros. Talvez também em escritos de Manuel Resende, de Paulo da Costa Domingues e de Carlos Tê. A partir dela, muitos foram à descoberta das edições norte-americanas ou francesas de Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Lawrence Ferlinghetti, Gregory Corso, Gary Snyder, Frank O’Hara e outros. Um exemplo: O “Portugal”, de Jorge Sousa Braga, publicado em 1981 no seu livro de estreia <i>De Manhã Vamos Todos Acordar com uma Pérola no Cu</i>, descende em linha directa do “América” de Ginsberg, que figurava a pp. 30-35 dessa célebre antologia. No Brasil, Paulo Leminski (1944-1989) e Ana Cristina César (1952-1983) são apenas dois dos poetas influenciados pelo mesmo tipo de leituras.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;">Feminista e lutadora pelos Direitos Humanos, Diane di Prima – que atraía, além do mais, pela sua beleza juvenil e pela liberdade de costumes que a faria desaguar no movimento hippie – foi igualmente imitada. Tal aconteceu, por exemplo, por via do seu livro <i>Revolutionary Letters</i>, de 1971 (capa de Ferlinghetti) – que adquiri na Shakespeare & Company de Paris, talvez em 1973 ou 1975, e de que cheguei a traduzir um par de poemas. A di Prima devemos ainda, entre muitos livros, <i>Memórias de uma Beatnick</i> (Memoirs of a Beatnick), publicado pela Teorema, em 1999, com tradução de Maria Augusta Júdice e com uma bonita foto da autora na capa. Vale a pena ler, para conhecer Diane di Prima, o olhar dela sobre os seus companheiros de geração e o que veio a seguir.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><span>Jorge Palma, cujas letras iniciais muito devem também a este clima literário, artístico e sociocultural beat, já tardio, de inícios de 70, leu Diane di Prima na velha e preciosa antologia (e tradução) de Seabra. E ainda bem que assim foi. Gosto imenso da sua canção. E guardo uma certa ternura pela escrita de Diane di Prima.</span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: helvetica;"><span>Pode escutar <a href="https://www.youtube.com/watch?v=N1LK0S40430 " target="_blank">aqui</a> </span><span>a canção de Jorge Palma.</span><span><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: helvetica;"> </span></i></p><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: helvetica;"><span style="font-size: x-small;">João Pedro Mésseder</span><span><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: helvetica;"> </span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-70687743908568563632021-05-06T05:02:00.002-07:002021-05-06T05:02:08.092-07:00Revisitar Mário-Henrique Leiria<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 21.466665267944336px;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUHQcH_KxSqxciAXto1ANwNqBWL721i78ZxbdEiuOWisHQjQoFwF-zPXEmCJ51OVNFQ_SrBfpsBeTpyUmflMsPpd9b5U45o1bAAbtGWDcfsHneHqhbNWdHAwqVBsUsl4uv71HsBVT7gOxX/s785/502x.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="785" data-original-width="502" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUHQcH_KxSqxciAXto1ANwNqBWL721i78ZxbdEiuOWisHQjQoFwF-zPXEmCJ51OVNFQ_SrBfpsBeTpyUmflMsPpd9b5U45o1bAAbtGWDcfsHneHqhbNWdHAwqVBsUsl4uv71HsBVT7gOxX/s320/502x.jpeg" /></a></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 21.466665267944336px;">Em anos recentes, a editora E-Primatur levou a cabo o projecto, altamente meritório, de edição da obra completa do surrealista Mário-Henrique Leiria (1923-1980).</span><span style="color: #141414; font-family: Helvetica; line-height: 21.466665267944336px;"> Os três grossos volumes deste companheiro de lides artísticas de Cesariny, António Maria Lisboa, Pedro Oom, Cruzeiro Seixas e doutros foram dados à estampa com os cuidados editoriais e críticos da estudiosa brasileira </span><span style="font-family: Helvetica; line-height: 21.466665267944336px;">Tânia Martuscelli e são os seguintes: <i>Obras Completas de Mário-Henrique Leiria – Volume 1 – Ficção</i> (2017), <i>Obras Completas de Mário-Henrique Leiria, Volume 2 – Poesia</i> (2018) e <i>Obras Completas de Mário-Henrique Leiria – Volume 3 – Manifestos, Textos Críticos e Afins</i> (2019).<span style="font-size: medium;"><o:p></o:p></span></span></p><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 21.466665267944336px;">Mas já em 2016 a E-Primatur havia reeditado <i>Casos de Direito Galáctico e Outros Textos Esquecidos</i></span><span style="font-family: Helvetica; line-height: 21.466665267944336px;"> (posteriormente seriam incluídos no volume 1 das Obras Completas), obra que reúne <i>Imagem devolvida: Poema Mito</i> (1974), <i>Casos de Direito Galáctico / O Mundo Inquietante de Josela: Fragmentos</i> (1975), <i>Conto de Natal para Crianças</i> (1975) e <i>Lisboa ao Voo do Pássaro</i> (1979). <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 21.466665267944336px;">Este volume de 2016 mantém as belas ilustrações originais de Cruzeiro Seixas e as fotos de João Freire, além de um prefácio de Cesariny ao primeiro dos livros aqui incluídos (alguns em fac-símile). O texto de 1979 é um poema que dialoga com uma série de fotos – dos mais belos que foram escritos em torno da Revolução portuguesa e dos anos subsequentes. O de 1974 – na verdade produzido muito antes – é um bom exemplo de um escrito surrealista; os de 1975 representam certa faceta interventiva do surrealismo que, em alguns casos, reconheça-se, fez mais pela luta pela liberdade e pela democracia do que muito romance <i>engagé</i>. Os <i>Casos</i> e <i>Josela</i> ilustram a presença da ficção científica (FC) na nossa literatura e na obra do autor, mais como moldura do que propriamente como propósito de fazer FC, até porque são, isso sim, exemplos de subversivo humor crítico. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 21.466665267944336px;">Trata-se, portanto, de um volume a não perder de alguém que era um estimável poeta e artista visual, dentro dos princípios surrealistas, mas sobretudo um contista que é não só um dos pioneiros da ficção breve em Portugal, mas também um autor de textos de admirável sentido de humor, quase nunca dissociáveis de um propósito de crítica social e política. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 21.466665267944336px;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 18.399999618530273px;"><span style="font-size: x-small;">José António Gomes<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 18.399999618530273px;"><span style="font-size: x-small;">IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto</span><span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 12pt; line-height: 18.399999618530273px;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 12pt; line-height: 18.399999618530273px;"> </span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-18658072416017826772021-04-25T08:29:00.004-07:002021-04-27T08:31:07.124-07:00Uma mensagem-poema de Ana Biscaia<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRMDnh_drNlu2L23wbab6A_ck1I0x5S3P_CCeufUoTmMu3gkrZDQh7gXkwOiB-83mDg4T5YdOSSY_DZbqOIEnhVvjOgxRfOumbjOzkZiNYT_7R4_iaBNGJPb9LDvuCxTDfa_S5M2Z2zbMU/s973/25feature-973x649.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="649" data-original-width="973" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRMDnh_drNlu2L23wbab6A_ck1I0x5S3P_CCeufUoTmMu3gkrZDQh7gXkwOiB-83mDg4T5YdOSSY_DZbqOIEnhVvjOgxRfOumbjOzkZiNYT_7R4_iaBNGJPb9LDvuCxTDfa_S5M2Z2zbMU/w400-h266/25feature-973x649.jpg" width="400" /></a></div><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white;"><p style="color: #201f1e;"><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white; color: #201f1e;"><br /></span></p><p style="color: #201f1e;"><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white; color: #201f1e;"><br /></span></p><p style="color: #201f1e;"><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white; color: #201f1e;"><br /></span></p><p style="color: #201f1e;"><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white; color: #201f1e;"><br /></span></p><p style="color: #201f1e;"><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white; color: #201f1e;"><br /></span></p><p style="color: #201f1e;"><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white; color: #201f1e;"><br /></span></p><p style="color: #201f1e;"><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white; color: #201f1e;"><br /></span></p><p style="color: #201f1e;"><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white; color: #201f1e;"><br /></span></p><p style="color: #201f1e;"><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white; color: #201f1e;"><br /></span></p><div style="text-align: left;"><span style="font-family: helvetica;"><span face=""Segoe UI", sans-serif" style="background-color: white;">dia de seiva, de corrida, de mãos e mais mãos e mais mãos,<br /></span><span style="background-color: white;">de árvores carregadas de gente: eram pessoas pássaros. <br /></span><span face=""Segoe UI", sans-serif">dia sonhado, e parido, de tão sonhado que foi. <br /></span><span face=""Segoe UI", sans-serif">dia de derrube da estaca fascista.<br /></span><span face=""Segoe UI", sans-serif">dia de programa aventuroso, <br /></span><span face=""Segoe UI", sans-serif">de programa avançando cheio de vozes cantando. <br /></span><span face=""Segoe UI", sans-serif">dia daqueles que são vivos <br /></span><span face=""Segoe UI", sans-serif">e daqueles que vieram e virão depois de nós. <br /></span><span face=""Segoe UI", sans-serif">homens cegos saindo à rua <br /></span><span face=""Segoe UI", sans-serif">em liberdade. veio o fotógrafo e fez-lhes o retrato. <br /></span><span face=""Segoe UI", sans-serif">era impossível negar a evidência do sonho e da poesia abrindo ruas, <br /></span><span face=""Segoe UI", sans-serif">e a evidência da luz em todas as cidades recortadas. </span></span></div></span><div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 18.399999618530273px;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 18.399999618530273px;"><span style="font-size: x-small;">Ana Biscaia<br /><br /></span><span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></p></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-15110908411168916312021-03-18T08:40:00.004-07:002021-03-19T04:11:01.988-07:00Da poesia de Rita Taborda Duarte a Roturas e Ligamentos e As Orelhas de Karenin<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9zs8TGcTmJD2QBSovfBJr7_qS6s2uWgdSSgJB60GUAnuxCGKBIBRyNjWBrIxf-GuSJitdbcdWkOXqGcAjvGrvUjqfhx4eYbpNEoS0Ff8jntnGHK5on6nrzqQ3kkbJ2oAZK3zzF5HR1lmb/s2048/Sem+Ti%25CC%2581tulo-2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1249" data-original-width="2048" height="244" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9zs8TGcTmJD2QBSovfBJr7_qS6s2uWgdSSgJB60GUAnuxCGKBIBRyNjWBrIxf-GuSJitdbcdWkOXqGcAjvGrvUjqfhx4eYbpNEoS0Ff8jntnGHK5on6nrzqQ3kkbJ2oAZK3zzF5HR1lmb/w400-h244/Sem+Ti%25CC%2581tulo-2.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Nascida em Lisboa, em 1973, e com um mestrado em Teoria da Literatura, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – intitulando-se a sua dissertação <i>Crítica e Representação: Da Aporia na Crítica de Um Texto Poético </i>–, Rita Taborda Duarte é professora do ensino superior e a sua atividade como crítica literária, sobretudo de poesia, deixa rasto bem visível em diversas publicações periódicas especializadas, como o antigo suplemento literário do <i>Público</i> e as revistas <i>Relâmpago</i> e <i>Colóquio-Letras</i>, entre outras.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Assim, o conhecimento desta também escritora de belíssimos e desafiadores livros para crianças e jovens deverá principiar com a descoberta da sua singular poesia de preferencial destinatário adulto: livros como <i>Experiências Descritivas: dos sentidos das coisas / círculos</i> (Duarte, 2007), em co-autoria com André Barata; <i>Elogio do Outono</i>(Duarte, 2014); <i>Roturas e Ligamentos</i> (Duarte, 2015); e <i>As Orelhas de Karenin</i> (Duarte, 2019), ilustrados respetivamente por Luís Henriques (os dois primeiros), André da Loba e Pedro Proença, entre outros títulos de poesia.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Sendo impossível analisá-los todos neste espaço – até pela sua relativa complexidade conceptual – registem-se, no entanto, alguns aspetos marcantes destes volumes. Em primeiro lugar, a circunstância de serem livros de poesia ilustrados e graficamente muito cuidados (a materialidade e a paratextualidade do objeto é, desde logo, activadora de sentidos), confrontando sempre o leitor com um desafio: a leitura da possível intersemiose palavra/imagem. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Em segundo lugar, trata-se de colectâneas estruturadas de modo muito estudado, por vezes divididas em secções com títulos, obrigando a ler cada colectânea como um <i>livro</i>, com unidade e coerência próprias, e não como simples recolha. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Em terceiro lugar, são escritos cujos ecos intertextuais, não raro assumidos em epígrafes, não desejam passar despercebidos, e que ligam esta poética a vozes tutelares da poesia moderna e contemporânea de língua portuguesa, que a autora conhece bem – Pessanha, Pessoa, Ruy Belo, Herberto Helder, Luiza Neto Jorge, Ana Hatherly, Gastão Cruz, Manuel Gusmão, Manoel de Barros e outros –, a somar por exemplo a Tolstoi (em <i>As Orelhas de Karenin</i>) e a clássicos da Antiguidade: a <i>Odisseia</i>, as <i>Metamorfoses</i> de Ovídio e outras narrativas míticas. Um diálogo intertextual que, neste caso, explora as matrizes hipotextuais para propor, às vezes num registo parodístico entre o irónico e o amargo, visões de um «presente» relido à luz desses modelos clássicos. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Destaque-se, ainda, a corporalidade, a fisicalidade, o erotismo (mas também o seu reverso: o tédio) que atravessam esta escrita de <i>mulher</i>, núcleos sémicos que, evidentemente, se relacionam com um léxico, uma imagética e um jogo linguístico individualizados; mas assinale-se também a recriação poética de episódios e situações que permitem ler, amiúde, um afirmativo <i>eu</i> feminino, implicado na assunção e defesa da sua identidade pessoal e sexual. Paixão, coita amorosa, abandono e desilusão, lamber de feridas – se a expressão me é permitida –, condição materna, meditação sobre o próprio acto da escrita são apenas algumas das linhas estruturantes dos últimos livros da autora, em que magníficos poemas como «Amanhando peixe fresco das manhãs» ou «Salto ao sexo» (ambos em <i>As Orelhas de Karenin </i>(Duarte, 2019: 25-26, 30-31), com excelentes ilustrações de Pedro Proença) tocam, inegavelmente, a sensibilidade do leitor, o interpelam e o desafiam a explorar as profundezas desta poesia de reconhecida qualidade. (E cumpre, de passagem, recordar aqui que <i>As Orelhas de Karenin</i> foi uma das obras finalistas do Prémio Literário Correntes d’Escritas 2021).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Atente-se ainda no belo e graficamente invulgar <i>Roturas e Ligamentos</i>, a obra anterior ao livro distinguido, em que as magníficas ilustrações de André da Loba combinadas com o design gráfico de Dulce Cruz, fazem do objecto-livro uma aventura visual, repleta de pequenos truques e efeitos de estranhamento. Uma visualidade à altura da escrita, acrescente-se, já que esta faz com que nos percamos e ganhemos nas suas composições, belas e estranhas, mas sempre cativantes: «o poema olha a imagem, já seca e enrugada. Diz-lhe, sorrindo, sorrindo sempre muito: ‘Que bonito!’, uma fotografia e toda em verso branco. // E perguntou-lhe, enfim, enquanto sorria em decassílabo: / – E sempre esteve morta, esta tua natureza?» (Duarte, 2015: 55). Tudo isto, apetece acreditar, porque «só se pode ser poema no outono», como declara o título de uma das composições (Duarte, 2015: 31). Em suma, uma meditação sobre a relação com o outro, sobre a condição feminina, sobre o amor e a dimensão erótica, que não deixa de ser muitas vezes reflexão sobre a linguagem e a própria escrita, enquanto teia amorosa – e sobre muitas outras coisas. Uma poesia merecedora de que nela nos demoremos. Tal como as imagens que quase sempre a acompanham.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Encontramo-nos, não restem dúvidas, perante uma das vozes mais interessantes, pessoais e desafiadoras da poesia portuguesa contemporânea. Uma voz que urge ler, reconhecer e dar a ler.<span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></span></p></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><b><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;">Referências bibliográficas<o:p></o:p></span></b></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;">DUARTE, Rita Taborda (2007).<i> </i></span><i><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;">Experiências Descritivas: dos sentidos das coisas / círculos</span></i><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;">. Lisboa: Caminho (em co-autoria com André Barata; ilustrações de Luís Henriques).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;">DUARTE, Rita Taborda (2014).</span><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;"> <i>Elogio do Outono</i>. Lisboa: Edição 100 Cabeças (ilustrações de Luís Henriques).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;">DUARTE, Rita Taborda</span><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;"> (2015). <i>Roturas e Ligamentos</i>. Lisboa: Abysmo (ilustrações de André da Loba).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;">DUARTE, Rita Taborda (2019).</span><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt;"> <i>As Orelhas de Karenin</i>. Lisboa: Abysmo (ilustrações de Pedro Proença).<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt; line-height: 13.800000190734863px;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt; line-height: 13.800000190734863px;">José António Gomes<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 9pt; line-height: 13.800000190734863px;">IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-size: 9pt; line-height: 13.800000190734863px;"> </span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-53338417431638063642021-02-19T03:53:00.009-08:002021-02-19T04:07:55.658-08:00José Soares Martins, poeta de ruínas e bastiões<p style="text-align: justify;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX-_1-Yyn2GThd2OGnz44mGFadqgNTvOYzq69jznS1pFwH7TEzRKJQiDc7ST0ENuLMCB31LU7tXQ81HGL1PwN_rnjIX_-d5CRua-DVlVs1Q1JOIX0y5gB0Sh-nWs50y-uH9yhQJocqevsa/" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="604" data-original-width="464" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgX-_1-Yyn2GThd2OGnz44mGFadqgNTvOYzq69jznS1pFwH7TEzRKJQiDc7ST0ENuLMCB31LU7tXQ81HGL1PwN_rnjIX_-d5CRua-DVlVs1Q1JOIX0y5gB0Sh-nWs50y-uH9yhQJocqevsa/" width="184" /></a></div><span style="font-family: arial;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; text-align: left;">José Soares Martins é um poeta que importa ler. Um poeta que cria desde muito jovem, mas arreliadoramente inédito, tão inédito que apenas se conhecem os quatro livros breves que editou, três em co-autoria (</span><i style="font-family: Helvetica; text-align: left;">Setembro</i><span style="font-family: Helvetica; text-align: left;">, em 1984, na Plenilúnio;</span><span style="font-family: Helvetica; text-align: left;"> </span><i style="font-family: Helvetica; text-align: left;">Ménage à Trois</i><span style="font-family: Helvetica; text-align: left;">, em 2011, na Cordão de Leitura; e</span><span style="font-family: Helvetica; text-align: left;"> </span><i style="font-family: Helvetica; text-align: left;">Bicho da Seda</i><span style="font-family: Helvetica; text-align: left;">, em 2020, na Poética Editora) e um quarto, de sua exclusiva responsabilidade:</span><span style="font-family: Helvetica; text-align: left;"> </span><i style="font-family: Helvetica; text-align: left;">Ruínas e Bastiões</i><span style="font-family: Helvetica; text-align: left;">, publicado pela Chiado em 2021. Conhecem-se-lhe, além disso, não poucos poemas dispersos em várias publicações periódicas e colectâneas de poesia, vindas a lume desde finais da década de setenta do século XX. Mas José Soares Martins é, noutra vertente, um poeta das letras, na esteira de Dylan, Keith Reid, Carlos Tê e tantos outros cultores da lírica de qualidade em moldura musical: escreveu letras para as bandas Jafumega (dois álbuns e um single, com o popular tema “Ribeira”), João C. Bom e Johnny Johnny. De assinalar ainda a presença no Festival da Canção de 1986 com uma letra de canção defendida pela voz de Gabriela Schaaf.</span><span style="font-family: Helvetica; text-align: left;"> </span></div></span><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Enquanto guionista e em colaboração autoral, participou na <i>sitcom</i> “Clube Paraíso”, produzida e realizada pela RTP/Porto. Ainda em co-autoria, escreveu um tema do musical de Carlos Tê “Amor solúvel”, tendo participado com Carlos Tê e João Monge na canção “Mágoa das pedras”. Saíram da sua pena crónicas e folhetins publicados nos jornais <i>Expresso</i>, na revista do <i>Jornal de Notícias</i>, no <i>Comércio do Porto</i> e n’<i>O Primeiro de Janeiro</i>. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Enquanto psicólogo, investigador doutorado e professor universitário com especialização em criminologia, publicou e participou em diversos livros, dicionários temáticos e revistas científicas. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Dos seus folhetins narrativos (designadamente os saídos no <i>Comércio do Porto</i>) destacam-se elementos detectivescos e cómicos, burlescos, muito enraizados no conhecimento duma certa realidade portuense pequeno-burguesa e/ou de meios populares, com seus sociolectos, seus pequenos mitos e fantasias, suas fixações futebolísticas. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Começando por aparecer em revistas portuenses algo marginais dos anos setenta, como <i>Avatar</i>, <i>Quebra-Noz</i>, <i>Pé de Cabra</i>, a poesia de Soares Martins, caracteriza-se em geral por certo fôlego discursivo, por um registo amiúde elegíaco e de tom exclamativo, e por uma musicalidade e ritmo singulares, girando em torno de um conjunto de núcleos temáticos: o enamoramento, a paixão e a separação; o <i>topos</i> do <i>tempus fugit</i>; a memória de lugares míticos percorridos efectiva ou imaginariamente pelo eu; a infância e a adolescência; a sensação de ruína de um certo mundo e o desencanto provocado pelo “falhanço de todas as revoluções”, na óptica de um sujeito lírico que, hiperbolicamente, se auto-representa quase como uma espécie de “viajante” do século XX. Trata-se também duma poética culta e povoada de alusões culturais (oriundas da literatura, da música, das artes visuais…), num frequente vaivém presente/passado no qual ecoam, por vezes, vozes referenciais: ora de românticos ingleses e de alguns portugueses, ora de um Cesário Verde, um Pascoaes, um Pessoa, a que se juntam ressonâncias imagistas e sinais de leituras juvenis de poetas da Beat Generation norte-americana, como Ferlinghetti, Ginsberg e outros.<o:p></o:p></span></p><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;">Por ocasião da saída de <i>Ruínas e Bastiões</i>, o seu quarto título de poesia, <i>A Inocência Descompensada</i> foi entrevistar José Soares Martins (de quem podem ser lidos poemas recentes em <span style="font-family: arial; text-align: justify;"><i><a href="https://sobre-o-lado-esquerdo.webnode.pt/" target="_blank">Sobre o Lado Esquerdo – Poesia & Textos Afins</a></i></span><span style="font-family: arial; text-align: justify;">). </span></div></span><div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /></span></div><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Helvetica;">A Inocência Descompensada (AID)</span></b><span style="font-family: Helvetica;"> – <i>És um poeta e homem do Porto, mas a tua infância está ligada também a uma certa meridionalidade (Lisboa, Almada...). Que reflexos na experiência de vida e na escrita?</i><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm;"></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></div><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"><b>José Soares Martins</b> – De facto sou um poeta atlântico, habituado às brumas e aos nevoeiros. Nasci no casco histórico do Porto. Numa velha casa da Rua dos Ingleses, propriedade da minha Bisavó, que era enfermeira parteira e tinha uma clínica, em que fazia os seus partos e acompanhava as suas pacientes. Chegou a comprar um prédio em frente, onde hoje se encontra um pub tipo irlandês. No entanto, por motivos profissionais do meu pai, fui com um ano para Lisboa e daí para Almada, onde vivi até aos meus nove anos e meio, tendo descoberto a minha existência banhado pela luz do sul e pelo sotaque alfacinha. O primeiro rio que conheci foi o Tejo, que atravessava todas as segundas feiras, quando ia a Lisboa acompanhar o meu pai, que na volta me comprava Dinky Toys num bazar de Barros Queiroz e passarinhos na rua do Arsenal. As idas ao Coliseu e ao Chiado com a minha mãe e os lanches na confeitaria Garrett, as amizades que travei na vizinhança e no Colégio Frei Luis de Sousa, em Almada, foram determinantes para a minha costela do sul e lisboeta. Penso que a vinda para o Porto não me conseguiu moldar por completo. Sou alguém de dois locais, de duas geografias e de duas luminosidades. Vivo entre o Sol e as Brumas. Por isso sou simultaneamente um poeta lunar e solar. Gosto do Tejo como gosto do Douro. Gosto do mar da Caparica ou de Sesimbra como gosto do mar da Foz do Douro ou de Leça, ou de Caminha.</div><o:p></o:p></span><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm;"></p><div style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Helvetica;">AID</span></b><span style="font-family: Helvetica;"> – <i>Despertas cedo para a leitura? Como? Lendo o quê?</i> </span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></div><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"><b style="font-weight: bold;">JSM</b><b> – </b>Desde que me recordo de mim, que sei ler. Muito cedo tomei contacto com os livros. Os meus pais levavam-me à Feira do Livro e compravam-me histórias infantis em pano, não em papel, para eu não as rasgar. Li os livros da Majora, a colecção Tonecas toda, bem como a Manecas. Já com cinco ou seis anos devorava às quintas feiras o <i>Mundo de Aventuras</i> e o <i>Falcão Gigante</i>, bem como o <i>Capitão Trovão</i>. Descobri cedo os heróis do oeste, Bufalo Bill, Kit Carson, Daniel Boone, David Crockett, Matt Dillon, Buck Rogers, Kansas Kid, Red Ryder entre muitos outros, a par do Tarzan, Jeff Jackson ou do Mascarilha e o seu amigo Índio, o Tonto. Mais tarde foi a influência dos super-heróis sobretudo o Batman. Da banda desenhada passei aos Westerns da Agência Portuguesa de Revistas e da editorial Íbis, para desaguar nos policiais da Vampiro, da Xis, da Enigma, da Máscara, da Escaravelho de Ouro e da Rififi. Poirot, Sherlock Holmes, Perry Mason, Rouletabile, Philip Marlowe ou Sam Spade despertaram em mim o desejo de vir a escrever novelas policiais. Não descurar o papel de Júlio Verne, de Alexandre Dumas, pai, de Emilio Salgari. Mas acima de tudo a maior influência recebi-a da minha avó materna, natural de Macedo e de origem judia, que me contava histórias tradicionais portuguesas comigo sentado ao seu colo. E do meu avô materno que me fascinou com as suas histórias de África passadas durante a Primeira Guerra de má lembrança no norte de Moçambique, em Cabo Delgado. Só mais tarde descobri Walter Scott, Daniel Defoe, Charles Dickens, Eça, Camilo, Júlio Dinis, e os poetas Camões, Cesário, Pascoaes, Junqueiro, Pessoa, Bocage (que só conhecia das anedotas muito populares na minha infância) ou Soares de Passos. Depois foi o que se sabe, e que não cabe no escopo desta entrevista. </div></span><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm;"></p><div style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Helvetica;">AID</span></b><span style="font-family: Helvetica;"> – <i>Quais os períodos das grandes experiências de vida e revelações? Em que lugares? </i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; font-style: italic;"><br /></span></div><i style="font-family: Helvetica;"><o:p></o:p></i><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Helvetica;">JSM</span></b><span style="font-family: Helvetica;"> – O período das grandes descobertas opera-se com alguns encontros fundamentais. Com o Alonso, colega de longa data do [Liceu] Alexandre [Herculano] e que me abriu as portas para a literatura russa, sobretudo Gogol, Turgenev,Tchekhov, Lermontov. E o Mondego, que me fez descobrir filósofos como o Heidegger, o Kierkegaard, ou o Schoppenhauer, ou o Nietzsche. O Zé Tó [José António Gomes] com quem partilhei descobertas na música pop, rock, folk, no jazz, no cinema, sobretudo o italiano, e a literatura lida então, sobretudo Rimbaud, Baudelaire, Poe, os românticos ingleses, os imagistas e os Beat. Foi um período de aprendizagens múltiplas que coincidiu com os últimos anos da “primavera marcelista” e o 25 de Abril, marcados por intervenção política e pelas manifestações contra o regime, começadas na crise académica de 1969. Líamos Marx, Bakunine, Reich, Marcuse, Debord, Baudrillard, Sartre e <i>tutti quanti</i>. A pintura foi também uma descoberta fundamental, bem como alguns grandes romancistas então em voga: Celine, Steinbeck, Hemingway, Kerouac, Huxley, García Marquez, Jorge Luis Borges, Proust, Kafka, Beckett, e os pintores, os impressionistas, os expressionistas e os surrealistas e mesmo a pop arte. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm;"></p><div style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Helvetica;">AID</span></b><span style="font-family: Helvetica;"> – <i>Há um certo novi-romantismo pós-moderno, não raro irónico, nos teus poemas. Concordas? Mescla-se com um desencanto em relação ao presente e com uma lamentação do que já foi e não volta a ser, até porque ligado ao tempo das grandes esperanças e de todos os sonhos. Melancolia? Descrença? Idade?</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></div><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"><b style="font-weight: bold;">JSM</b><b> </b>– Penso que é um pouco de tudo. A idade, em que a ética da convicção, como diriam Max Weber ou Kant, cede lugar à ética da responsabilidade. Ou seja, à ideia de que é preciso ceder para se conquistar coisas. De facto, a psicologia social das minorias activas mostra-nos que as mudanças sociais ficam comprometidas com posições radicais. A história da Europa está cheia de boas ideias que se transformaram em pesadelos. Basta analisarmos a história do IRA, da Acção Directa, das Brigadas Vermelhas ou da Fração do Exército Vermelho ou da ETA, para já não falarmos das grandes Revoluções de 89 ou 17. Depois, não basta a radicalidade, as vanguardas, sejam de que tipo forem, têm de estar em consonância com o ZeitGeist hegeliano. Ou seja, com o Espírito do Tempo. As sociedades precisam de estar maduras. Tem de existir um sentimento de fim de ciclo, de que algo está mal, uma certa estranheza de que falava o Freud e que o Kafka exibiu tão bem nos seus magníficos romances. A Idade e uma certa sabedoria, a que eu chamaria a patine do tempo. Como tu dizes e bem, há ainda o desencanto. O mundo não é um sítio seguro para ninguém. Às alegrias do 25 de Abril ou do Maio de 68 sucedeu o regresso à normalidade. Todas as revoluções desembocam no quotidiano sem história. O mesmo acontece com as paixões. É impossível viver-se infinitamente uma paixão. Daríamos em doidos! Como diria o Vinicius, que o amor seja eterno enquanto dure.</div></span><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Nas minhas influências existe a presença de um pós-romantismo difuso, a busca do passado, do que já não existe mais. Daí a melancolia, a ideia de um "regresso" a locais e tempos onde fui de alguma forma feliz. A linguagem reflecte essas influências. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Por fim o sentimento ou sabedoria de quem já se encontra no outono da vida e olha para trás e vê que a vida passa rápida e que chegamos a "velhos sem dar por isso" como dizia a minha avó materna. A isto tudo soma-se o estado do mundo. O tema da mudança e do desconcerto. O sentir que este mundo já é dos novos e não nosso.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;">A leitura dos românticos ingleses, sobretudo o Coleridge, com quem me identifico como poeta e como pessoa (na adolescência, cheguei a pensar que poderia ser uma reincarnação dele...), o Blake, o Shelley e o Keats tal como os alemães, Büchner, Novalis e Hölderlin ou Goethe, marcaram-me muito e abriram-me as portas para um certo novi-romantismo como tu muito bem detectas, perfeitamente integrado na minha congénita melancolia, herdada da neurose da minha mãe e das minhas tias-avós irmãs do meu avô materno, algo esotéricas, amantes do ocultismo, de mesas pé-de-galo, de gatos e de cartas do destino e da minha avó materna médium, e da minha avó paterna, leitora da Kabala ou do meu pai com as suas capacidades de prever o futuro... Se em Almada já era acometido de momentos mais ou menos longos de melancolia, agravados quando a minha mãe esteve a morrer do parto da minha irmã, esses estados de espírito, com pânicos e insónias ensombraram-me a puberdade e a adolescência, a que o catolicismo não foi indiferente. Foi um longo período em que fiquei dependente dos psiquiatras e de valium, que ia roubar todas as noites ao cofre do meu avô. Ora isto coincidiu com as minhas primeiras paixões e o despertar da puberdade ou da primavera, para citar Frank Wedekind, e da poesia, quando li os poetas da Fénix Renascida, sobretudo Jerónimo Baía. A descoberta, como já referi, dos românticos foi decisiva para mim e continuou com a literatura gótica do Poe, com o simbolismo do Baudelaire, e do Rimbaud ou Pessanha. A Beat foi apenas o sucedâneo inevitável, tal como o surrealismo e os pré-rafaelitas na pintura. Ou o Bergman no cinema, que foi fundamental para mim, tal como o Resnais ou o Visconti e Fellini. Foi o tempo das viagens, das namoradinhas de praia, e das primeiras bandas de música na cave do meu tio Manecas que sempre me entendeu ou não fosse um irmão gémeo da minha neurose existencial.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm;"></p><div style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;"><b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;">AID</span></b><i><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"> – A tonalidade melancólica de alguns textos teus, no plano expressivo, vai beber a diferentes tradições, que aliás o poema assume nas suas múltiplas alusões literárias, culturais. Queres falar um pouco disso? E qual o lugar do Porto, cidade literária por excelência, nesse universo?</span></i></div><div style="text-align: justify;"><span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, sans-serif; font-style: italic;"><br /></span></div><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif; font-style: italic;"><o:p></o:p></span><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;">JSM</span></b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"> – O Porto tornou-se o lugar geométrico das minhas deambulações diurnas e nocturnas. Com os seus nevoeiros e a sua chuva outonal, os seus granitos, os seus sinos, as suas igrejas e torres e o casco velho onde se situavam as casas dos meus avós e tios-avós, a Igreja de São Nicolau, com o velho turíbulo oferecido pela minha bisavó e onde os meus avós e pais e irmã se casaram, e onde eu fui baptizado. O Porto, a minha cidade, foi desde sempre o meu aleph borgeano. O centro e o umbigo do mundo. O cenário da minha poesia e de alguns contos fantásticos que escrevi. Já que as histórias de fantasmas, e de <i>poltergeists</i>acompanharam toda a minha infância e adolescência, fizeram parte do meu quotidiano familiar. Daí a minha forte ligação a esta cidade e a este rio. Descobri mais tarde em Bruges, local do filme <i>Malpertuis</i> com o Orson Wells e a Susan Hampshire, algo parecido com a atmosfera londrina do Porto. Por isso a minha atracção pelo detective de Baker Street, pelo Jack the Ripper, que o esotérico de Blake, Lovecraft e Pessoa mais aprofundaram. Já na faculdade e pouco depois da morte do meu avô materno, dei por mim num grupo de ocultistas de que faziam parte uma colega minha, a Guilhermina, o António Telmo e o Castro Ferreira, e dei por mim a ler Rudolf Steiner, Gurdjieff, Helena Blavatski, António Quadros e outros. Quanto a escritores que cantaram o Porto, tirando Soares de Passos um portuense ilustre e grande poeta, tivemos o Garrett, o Nobre, o Júlio Dinis, o Raul Brandão e o Camilo a que se juntaram as notáveis Sophia e Agustina Bessa-Luis. Claro que temos o Echevarría, o Guimarães, o Leonardo Coimbra, o Óscar Lopes, o Sena e o Agostinho da Silva. E mais próximos de nós o Eugénio, o Resende, o Pina… Mas eu senti sempre que nunca houve um poeta do Porto, como houve de Lisboa, por exemplo (Cesário, Gomes Leal ou Pessoa)...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif" style="color: #222222;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span face="Arial, sans-serif" style="color: #222222;"></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2ZEavTNGvl40vKIIfSwGQxmnI3of5o2WKBH76kM8pE7UDnwBQLuo-DHiFJGU-lLfTfLVB57M89q59jX74Z4O5E7gW8a7CESqNydlN-HejWG7dscA6kvc215uVQPHpOrYdlFeR9ODFc1dw/" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img data-original-height="1135" data-original-width="2770" height="164" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2ZEavTNGvl40vKIIfSwGQxmnI3of5o2WKBH76kM8pE7UDnwBQLuo-DHiFJGU-lLfTfLVB57M89q59jX74Z4O5E7gW8a7CESqNydlN-HejWG7dscA6kvc215uVQPHpOrYdlFeR9ODFc1dw/w400-h164/Avatar1977.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: justify;"><span style="font-size: x-small;">Da esquerda para a direita: Miguel Cameira, José António Gomes, José Soares Martins, José Pinto Leite, António Torres. Café Piolho (Âncora d'Ouro), 1977.<br /><br /></span></td></tr></tbody></table><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm;"></p><div style="text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: start;"></p><div style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;"><b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;">AID</span></b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"> – <i>A ficção narrativa, e não apenas a poesia, também te atraiu. E logo desde a juventude. Que experiências te ocorre evocar neste domínio?</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, sans-serif; font-style: italic;"><br /></span></div><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"><o:p></o:p></span><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;">JSM</span></b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"> – A narrativa sempre foi a minha grande paixão, herdada da minha avó paterna e do meu avô materno. No entanto, tirando umas tentativas de romance nunca acabadas, não passei de <i>short stories</i>, com influências diversas, desde o Lovercaft, passando pelo Gogol, pelo Bulgakov, e mais tarde pelo Raymond Carver. Claro que os diálogos eram inspirados no Hemingway, a estrutura no Faulkner, e a deriva psicológica na Virginia Woolf. Mas ainda estão por escrever os contos que gostaria de concretizar e que estão na minha cabeça há anos. E não sei se os escreverei um dia, mas tenho pena. Muita pena. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: start;"></p><div style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;"><b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;">AID</span></b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"> – <i>Outro campo da tua criação tem a ver com o texto dramático. Refiro-me ao guionismo...</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="caret-color: rgb(34, 34, 34); color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"><br /></span></div><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"><o:p></o:p></span><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;">JSM</span></b><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;"> – Sim o guionismo foi a forma que encontrei para substituir o teatro, quer como dramaturgo, quer como actor. Aliás, houve sempre três ou quatro profissões que me atraíram: escritor, actor, historiador, e professor/investigador. Foi nesta última que mais apostei e consegui fazer alguma coisa de importante no âmbito das ciências sociais, psicologia social, sociologia e criminologia. Mas o guionismo foi uma boa experiência adquirida com o Afonso Grisolli, realizador brasileiro da Globo e autor d’”O Sítio do Picapau Amarelo”, da “Malu Mulher” e da “Teresa Baptista Cansada da Guerra” que foi um mestre para mim. Aprendi muito nesses dois anos de escrita televisiva com a companhia do Tê e do Álvaro Magalhães, tendo-me ocorrido a ideia peregrina de me dedicar à escrita de guiões para a televisão e para o cinema. Mas aquele ainda não era o tempo para essas aventuras. Quase não havia produção portuguesa e a que havia era em Lisboa. O Tê ainda escreveu um guião para um filme do Fernando Ávila, rodado no Porto, “Os Corações Periféricos”, onde eu fiz uma perninha como actor.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: start;"></p><div style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: Helvetica;">AID</span></i></b><i><span style="font-family: Helvetica;"> – Também foste desafiado para a escrita de letras de canções. Que memórias guardas dessa actividade? Que influências? E, já agora, que pensas da atribuição há anos do Nobel a Dylan?</span></i></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; font-style: italic;"><br /></span></div><span style="font-family: Helvetica;"><o:p></o:p></span><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #222222; font-family: Arial, sans-serif;">Como sabes, o Carlos Tê foi o grande responsável pelo rock cantado em português. Até aí, havia tentativas tímidas e algo descoloridas, porque pouco urbanas, de um movimento idêntico ao que se tinha passado na Itália com os Area, por exemplo. Com o “Ar de Rock” e com o “Chico Fininho”, tudo mudou para surpresa do próprio Carlos, que havia escrito e composto o “Chico Fininho” para demonstrar o ridículo que era cantar em português temas urbanos em ritmo rock. O que aconteceu foi exactamente o contrário e de repente eram as editoras a exigirem letras em português. E foi aí que ele me apresentou aos Jafumega, para eu escrever letras para eles. Eu nunca tinha escrito uma linha a pensar em canções e descobri que fazer letras é difícil como o diabo. Uma letra tem uma difusão para um público vastíssimo, e tem de estar em sintonia com a música. Mas tendo algum ouvido para a música e algum jeito para a escrita vai-se lá. E foi o que me aconteceu. Sobretudo com três temas, “Ribeira”, “Nó cego” e “Romaria”, para não falar de uma letra que escrevi para a Gabriela Schaaf, “Cinza e mel”, entre outras. Foi uma experiência curta, pois só colaborei num Single e em dois LPs. Depois foi uma colaboração esparsa com outras bandas, e a Gabriela Schaaf, como já disse, e o André Sarbib. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">É evidente que sofri a influência de muitos autores do meu tempo, sobretudo Dylan, Ray Davies, Phil Ochs, Keith Reid (o letrista dos Procol Harum), Paul Simon, Brassens, Fernando Brandt, Ferré, Godinho, Zeca, Zé Mário, Cohen, Fausto, Vitorino, Joni Mitchell, Jim Morrison... Mas as minhas maiores influências foram o Carlos Tê e o João Monge. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Quanto ao prémio do Dylan absolutamente de acordo. Há poetas magníficos na música, desde o Dylan, passando pelo Cohen, pelo Nick Drake, pela Suzanne Vega ou pela Janis Jan. Aliás tanto a poesia grega, como o teatro eram cantados. A poesia provençal e sobretudo a galaico-portuguesa era cantada pelos jograis e segréis, que interpretavam os trovadores de então. Mesmo na grande tradição erudita, a música sempre procurou servir as palavras – vejam-se os madrigais de Monteverdi, ou as baladas de William Bird ou John Dowland. No romantismo os <i>lieder</i> de Schubert e Schumann são um dos pontos altos destes compositores, já para não falarmos nas Paixões do Bach, nas óperas do Haendel, do Purcell ou do Vivaldi. Ou nos grandes dramas de Wagner. Outro autor que mereceria o Nobel, em meu entender, seria o Chico Buarque.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: start;"></p><div style="font-family: "Times New Roman", serif; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Helvetica;">AID</span></b><span style="font-family: Helvetica;"> – <i>Falei do Bob Dylan, também porque sei como as referências musicais e músico-literárias são relevantes tanto na tua vida como na tua escrita. Verdade?</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; font-style: italic;"><br /></span></div><span style="font-family: Helvetica;"><o:p></o:p></span><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Helvetica;">JSM</span></b><span style="font-family: Helvetica;"> – A minha poesia encontra-se muito ligada à música, sobretudo no seu início, anos setenta. Agora, embora reconheça a sua influência no meu percurso, gosto de escrever em silêncio e cada vez mais cultivo o silêncio, num mundo em que o silêncio é visto como uma maldição. A música como ruído atravessa a nossa vida, desde que nos levantamos até quando nos deitamos. Música ao telefone, música nos <i>call centers</i>, música nos elevadores, nas salas de espera dos consultórios médicos, nos supermercados, nos hiper, nos corredores das universidades, no WC... Parece que o homem tem medo de enfrentar-se diante do silêncio do Universo e da sua condição essencial de solidão.<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Helvetica;">AID</span></b><span style="font-family: Helvetica;"> – <i>Para terminar com música: para onde te levam hoje as tuas escutas?<o:p></o:p></i></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><b><span style="font-family: Helvetica;">JSM</span></b><span style="font-family: Helvetica;"> – Bach, Haydn, Mozart, Beethoven, Schubert, Wagner, Mahler, Alban Berg, Luciano Berio, György Ligeti, Varese, alguns músicos de jazz, Jarrett, Evans, Miles, Coltrane, Chet Baker. Alguns pop como os Beatles, os Beach Boys, os Birds, os Doors, os Velvet, os Joy Division e alguns cantautores, como o Nick Drake, o David McWilliams, a Laurie Anderson, a Virginia Astley, e os grandes Frank Zappa, Bob Dylan, Cohen, ou Crosby, Stills, Nash & Young, sem esquecer o Little Richard e o Jimmi Hendrix. Não posso esquecer os franceses como Brassens, Ferré, Brel (na verdade belga), ou os italianos como Eugenio Finardi, Vinicio Capossela, os cantores da Ibéria como o Joan Manuel Serrat, o Paco Ibañez, os brasileiros, Milton, Chico Buarque, Caetano, João Gilberto ou Jobim. E os sul-americanos como a Violeta Parra, a Mercedes Sosa, ou o Atahualpa Yupanki. Ou o Pablo Milanés. Finalmente os portugueses: Sérgio, Zé Mário, Zeca e Fausto, sem esquecer a Amália e, mais recentemente, a Cristina Branco.<b><o:p></o:p></b></span></p></div><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><br /><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm;"><span><span style="font-size: x-small;"><span style="font-family: arial;">Entrevista conduzida por José António Gomes</span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></span></span></p></div>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-18776579727352502792021-01-18T01:14:00.000-08:002021-01-18T01:14:01.339-08:00«Nada é mais vivo / do que um poema» – lendo ‘Vasos Comunicantes: Diálogo Poético’, de António Ramos Rosa e Gisela Gracias Ramos Rosa<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvmu9SL7N7lVRLa5jEAYun_QQ-h-xjtti82Tb2IwhiCqebVFKFMhdpdkuV4oolAorwF8tFGJieQ0c1s86-wcx0N9RKIomGtzkEnq9nptOy7CeOXYwWFi9J-FLYVswZyZCMIvYpMy7soNhf/" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="371" data-original-width="495" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvmu9SL7N7lVRLa5jEAYun_QQ-h-xjtti82Tb2IwhiCqebVFKFMhdpdkuV4oolAorwF8tFGJieQ0c1s86-wcx0N9RKIomGtzkEnq9nptOy7CeOXYwWFi9J-FLYVswZyZCMIvYpMy7soNhf/" width="320" /></a></div><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: justify;"><i style="font-family: Calibri, sans-serif; text-align: left;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b0a0a; font-size: x-small;">nada é mais vivo </span></span></i></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b0a0a; font-size: x-small;">do que um poema </span></span></i></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b0a0a; font-size: x-small;">rápido como um pássaro </span></span></i></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b0a0a; font-size: x-small;">que salta sobre o teu joelho </span></span></i></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b0a0a; font-size: x-small;">e o debica e foge sem deixar sinal </span></span></i></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b0a0a; font-size: x-small;"> </span></span></i></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #0b0a0a; font-size: x-small;">António Ramos Rosa</span></span></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #0b0a0a; font-size: x-small;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Vasos Comunicantes: Diálogo Poético </span></i><span style="font-family: Helvetica;">(p. 50)<o:p></o:p></span></span></p></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><br /></div><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;">Quem conheça a trajectória de António Ramos Rosa (1924-2013) regista certamente as vezes – várias foram – em que o poeta de <i>Viagem através de Uma Nebulosa</i> se dispôs a um diálogo poético com outras vozes, a que o ligavam, além dos vínculos propriamente literários, os afectivos. Em 1986, chegou a publicar um livro inteiro de composições dedicadas a um companheiro de geração, em que interagia com a sua poética: <i>Vinte Poemas para Albano Martins</i>. E assinou, em co-autoria, livros com Casimiro de Brito, com Maria Teresa Dias Furtado, com Isabel Aguiar Barcelos e com Robert Bréchon; aconteceu também com sua mulher, Agripina Costa Marques, tendo ambos colaborado, num livro, com António Magalhães e, noutro, com Carlos Poças Falcão. Uma prática talvez estimulada quer pela personalidade aberta do poeta, dialogante, generosa, genuinamente interessada em «escutar» e/ou activar a poesia de outros – os citados e os que leu nos seus ensaios de <i>Poesia Liberdade Livre </i>(1962), <i>A Poesia Moderna e a Interrogação do Real I </i>e<i> II</i> (1979 e 1980) e <i>Incisões Oblíquas</i> (1987) – quer pelo fascínio que terá experimentado por certas práticas de criação em parceria, que aliás já vêm dos antigos gregos – nomeadamente a poesia alternada: o canto amebeu (do grego <i>amoibaíos</i>, «alternativo», pelo latim <i>amoebaeu-</i>). Assinale-se ainda, de passagem, a escrita a várias mãos de alguns poetas de movimentos de vanguarda do século XX, em especial dos surrealistas – e recordo aqui que o grande tradutor que Ramos Rosa também foi verteu para português, por exemplo, a poesia de Paul Éluard, em <i>Algumas das Palavras</i> (1969), a par do conhecido ensaio-antologia de Franco Fortini intitulado <i>O Movimento Surrealista </i>(1965). Talvez valha a pena sugerir uma explicação mais para a receptividade à colaboração com outras vozes: a hipótese de o criador desse inesquecível verso que é «Estou vivo e escrevo sol», em certos momentos, sentir a sua própria criatividade estimulada, desafiada pela palavra poética de outros.</div></span></div><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></div><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;">Em <i>Vasos Comunicantes: Diálogo Poético</i> – inicialmente saído em 2006 e trazido de novo a lume em 2017 pela Poética Edições, de Braga, numa edição bilingue –, António Ramos Rosa abriu-se uma vez mais a uma criação a dois (poesia alternada), desta feita com sua sobrinha, Gisela Gracias Ramos Rosa, estabelecendo com ela um fecundo diálogo, traduzido, na íntegra, para castelhano por Santiago Aguaded Landero e Adrián G. da Costa. De assinalar, ainda, que a edição, além de um prefácio de Maria Teresa Dias Furtado e do fac-símile de um dos manuscritos, inclui desenhos de António Ramos Rosa. Nesses desenhos, surgem motivos que de algum modo celebram a comunhão humana e afectiva e o diálogo poético (observe-se o par de rostos), essa espécie de íntima conversa a dois feita de palavras, mas também dos sentimentos, gestos e olhares que perpassam os textos. Leia-se, no poema «Pela janela de Gisela» (p. 214), um exemplo disso, que a utilização frequente da segunda pessoa do singular, nesta e noutras composições, inscreve num registo conversacional marcado pelo afecto: </div></span></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">Contigo a meu lado eu estou contigo <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">tu és uma fonte de cintilante frescura <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">A tua amizade é uma estrela subtil <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">a tua atenção é a lâmpada de uma flecha estridente <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">o teu sorriso estala como uma estilha colorida <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">que reacende a minha inocência adolescente <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">Contigo a meu lado o tempo tem outro espaço <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">e o aroma de uma fábula de outra vida <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">de uma cor leve de laranja </span><o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Para a voz que se exprime nos textos de António Ramos Rosa (não indiferente à rima a que o nome da sobrinha quase convida), Gisela é uma «janela» aberta para o mundo, que permite a entrada desse mundo no espaço existencial e poético daquela voz e motiva a tessitura de um mundo novo. Mas Gisela é também «</span><i style="font-family: Helvetica;">uma rapariga com os seus gestos de elegância leve / de estatueta viva / que irradia com os seus olhos claros / perfeitos e inacabados / poderia ser a princesa de um ribeiro / A sua voz é límpida e sorri / através dos seus lábios silenciosos</i><span style="font-family: Helvetica;">» (p. 34). Em passagem de outro texto do poeta algarvio, é evocada, na sua concretude, a situação da construção do livro a dois:</span></div><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"> </div></span></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">Tu e eu e eu sei que és tu só poderias ser tu <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">em que reconheço a ternura vigilante da tua companhia habitual <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">tu que vens de longe da tua casa para passares ao computador os meus poemas <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">e ris comigo rindo e conversando <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">com os sorrisos e as exclamações da tua ternura encantada, <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">e pela percepção subtil da minha poesia e a música do teu aparelho portátil <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">aligeiras graciosamente as tardes do meu fim de semana <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">e levas contigo a memória de um encontro fraterno <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"></p><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">que não podes esquecer e por isso te lembras daquele que sem ti seria mais só </span></span></i></div><i><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> [infinitamente perdido </span></span></i></div></i><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">na sua árida solidão</span><o:p></o:p></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Já numa composição de Gisela Ramos Rosa (p. 48), coroada por uma epígrafe de Octavio Paz, intui-se o modo de gestação e evolução de uma escrita tecida à sombra luminosa (passe o oxímoro) de um grande poeta: </span></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">As palavras movem-se como grãos </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">na areia de um tempo não decifrado </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">algumas são pedras polidas </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">num rio de signos </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">outras são o barro maleável </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">pelo plasma da terra </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">ou voam ainda “por caminhos de pássaros” </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">numa lenta lenda que une o vento e o sol </span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i style="text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">o mar e a terra</span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"> </span></i></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Gisela lê poetas e outros magos da palavra (Mallarmé, Michaux, Octavio Paz, Edmond Jabès, Clarice Lispector, Salah Stétié, Daniel Faria, os Upanixades hindus, o próprio tio) e deixa-se impregnar dos seus versos – como no texto citado –, cita-os em epígrafe, glosa-os, como modo também de estimular e pontuar a vivência poética experimentada a dois. E responde ao desafio que lhe é colocado, desvelando um pouco da sua intimidade e atribuindo quer à escrita quer à presença inspirada e inspiradora do poeta com que lida, dia após dia, um mágico poder curativo:</span></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">A mulher que escutas na janela do tempo<o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">lavra a dor com um vibrante sorriso interior <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">cantando a melodia do não dito <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">com a língua dos silêncios encontrada <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">a chama desse corpo aceitou o infinito azul <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">e renasceu com a magia de um templo antigo <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">quebrando os muros com a subtil harmonia dos anjos <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">e se nos seus dedos vislumbras o azul e em seus olhos uma ferida viva <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">dir-te-ei que o sorriso transmutou a dor ao encontrar-te <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">na unidade originária dos poemas <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">na bondade nua que nutres com as mãos <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">e a janela solitária entreaberta revelando o ar <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">é agora uma porta aberta para o mar <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">descobrindo a magia do tempo horizontal </span></span></i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">(p. 32)</span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Vasos Comunicantes</span></i><span style="font-family: Helvetica;"> é, além do mais, a representação de uns laços que se vão tecendo no tempo – e que passam por um processo de sedução recíproca (a título de exemplo, releia-se o fragmento citado em epígrafe a este texto, bem como a bela imagem de Gisela que se descobre a páginas 190, numa escrita que algo de lúdico tem também). Progride-se na relação humana, as alusões ao corpo são mais frequentes e o vocativo Gisela vai-se tornando recorrente. A relação afectiva, e não apenas poética, converte-se em mais um fio brilhante que se irá insinuando, com naturalidade, na tessitura da escrita. </span></div><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"> </div><o:p><div style="text-align: justify;">Em certos momentos, é possível ler também uma espécie de afectuosa educação poética de Gisela, bem como a iluminada reacção que ela provoca. Aqui e acolá esboça-se como que um guia para conhecer o real – e a própria escrita – que leva a voz dos poemas de António Ramos Rosa a declarar o que se segue, numa das mais importantes composições do livro (algo como um texto-lição), precisamente o intitulado «Gisela» (pp. 76-77): «<i>a vida que nós vivemos é que é o obstáculo permanente / ao milagre de um instante do real absoluto / mas o que é a realidade nós não o sabemos</i>» (p. 77).</div></o:p></span><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"> </div></span><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;">Caracterizando-se pela sua forte natureza metapoética, em <i>Vasos Comunicantes</i>, dir-se-ia que a escrita é como que busca ou construção permanente de um real em que o «milagre» seja possível, um real, por um lado, ancorado ao mundo e à sua linguagem, mas à beira, em simultâneo, de a qualquer momento se liberar do peso insuportável desse mesmo mundo por via de uma linguagem fundadora. Foi sempre assim, aliás, que li parte significativa da poesia de António Ramos Rosa; e é evidente que a de Gisela Gracias Ramos Rosa não poderia escapar a esse íman, por de mais tentador, do sortílego discurso do autor de <i>O Grito Claro</i>. Discurso onde o leitor reencontra quer o tónus metafórico quer certos termos nucleares a que, ao longo dos anos, os seus livros nos foram habituando, palavras detentoras de toda uma densidade semântica e simbólica, musicalmente insinuantes, como <i>horizonte</i>, <i>espaço</i>, <i>cavalo</i>, <i>lâmpada</i>, <i>sangue,</i> <i>frescura</i> e muitas outras, das quais se nutre essa «escrita-construtora-de-mundo(s)» que, digo eu, é a de António Ramos Rosa.</div></span><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"> </div></span><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;">Talvez uma composição sintetize a poética deste livro (e eu ousaria quase dizer: da própria obra do autor de <i>Ciclo do Cavalo</i>), uma poética à qual a poeta que é Gisela Gracias Ramos Rosa não logra ela própria, e ainda bem, furtar-se:</div></span><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"> </div></span></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">Gisela o poema é uma estranheza <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">uma diferença extrema e indiferente <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">entre um grito e uma sombra <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">o esplendor de um fruto de um rio branco <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">em cada palavra o timbre de uma pedra <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">o indivisível timbre de uma pedra <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">e a chama de um vento de uma sede irreparável</span></span></i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> (p. 72) </span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">A escrita poética como desejo-em-acção, conhecimento e invenção de mundos, logo como expressão de uma energia vital (<i>sangue</i> é, neste livro, uma das palavras fortes), na óptica das composições de António Ramos Rosa; por outro lado, a escrita como espaço de descoberta de si («<i>quem sou eu? / Sou talvez o centro de um jardim perdido / descubro agora o mundo / no voo de uma interrogação sem fim</i>», p. 28), descoberta do outro, do próprio mistério da criação poética, em processo dialógico com outras poéticas, isto nos textos assinados por Gisela Ramos Rosa – são alguns dos veios temáticos que atravessam <i>Vasos Comunicantes</i>. Mas sem dúvida que, em ambas as vozes aqui escutadas, é possível reconhecer uma visão da escrita como espaço de liberdade, de construção, de <i>poiesis</i> – que, parece-me, foi sempre um tópico caro ao poeta de <i>Clareiras</i>. Mas, noutro plano, é evidente também, no livro, a atracção da voz mais velha pelo frescor e pelo halo de uma voz mais jovem, situação que proporciona, na obra, um tocante contraste de registos. A páginas 80 do seu livro <i>As Palavras mais Simples</i> (Poética, 2014), Gisela Gracias Ramos Rosa escreve: «<i>Escrever é uma âncora / para o corpo que flui, raiz do universo.</i>». A frase talvez traduza o essencial do que a poeta nos oferece neste que foi, de algum modo, o seu livro de estreia (iniciado em 2004, <i>Vasos Comunicantes</i> foi publicado pela primeira vez em 2006), e no qual se lê, quase no final, este breve poema, quase um haiku:</span></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">Com as palavras acaricio o sol <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">e os gestos nascem <o:p></o:p></span></span></i></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">como os da corola de um girassol </span></span></i><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">(p. 216)</span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><div style="text-align: left;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">É de acrescentar que muitos casos existem em que um poema responde ao que o anterior exprimira e isso faz com que se reconheça, neste livro, uma dimensão conversacional / comunicacional mais acentuada (e até, talvez, mais intimista) do que noutras obras assinadas em co-autoria por António Ramos Rosa e por outros poetas – o que confirma o acerto da escolha do título e do subtítulo: </span><i style="font-family: Helvetica;">Vasos Comunicantes: Diálogo Poético</i><span style="font-family: Helvetica;">.</span></div><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"> </div></span><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;">No seu prefácio, Maria Teresa Dias Furtado sublinha bem tanto o principal eixo temático do livro como a sua natureza dialógica, bem como a relação da obra com a poética de António Ramos Rosa: «<i>Todo o livro trata, poeticamente, de “o poema que estamos a conjugar” (A.R.R.). No primeiro poema intervêm tanto António (1.ª e 3.ª estrofes) como Gisela (2.ª estrofe) – é o único a quatro mãos, que abre o diálogo no seu próprio seio. À questão: “Qual é a chama de todas as fontes? (...)”, responde a 2.ª estrofe: “Chamo sol a essa chama (...)”, que é acolhida com novas questões na 3.ª. De novo e sempre a “Interrogação do Real”, esse sulco profundo que o poeta tem aberto através da sua obra.</i>» (p. 8)</div></span><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"> </div></span><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">O autor de<i> O Incêndio dos Aspectos</i></span><span style="font-family: Helvetica;"> partiu em 2013, não sem antes nos ter legado mais alguns volumes de poesia e muitos desenhos, alguns dos quais exibidos em exposições organizadas por Gisela Gracias Ramos Rosa. Mas, em 2006, ano da publicação do livro que aqui me ocupa, e por ocasião de uma homenagem em Lisboa, era possível ler num texto noticioso <sup>1</sup>, não assinado, saído no jornal <i>Público</i>: «<i>Ramos Rosa ouviu-os em silêncio. E depois, para uma plateia a abarrotar, começou por uma pergunta: “Como é que um velho pode nascer?” Um artifício para perguntar: “Como é que eu com esta idade posso nascer?” || Pela poesia, responde, no dia seguinte, numa curta conversa por telefone. || Pode estar frágil fisicamente mas mantém vigor para se insurgir contra a “ditadura da banalidade”. Porque foi a banalidade que levou algumas pessoas a queixarem-se de que a poesia moderna “é incompreensível”, contestou na terça-feira, quando recebeu também a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura (no início do mês recebeu o Prémio de Poesia do PEN Clube Português).</i>»</span></div></span><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"> </div><o:p><div style="text-align: justify;">Diria que, também durante a escrita de <i>Vasos Comunicantes</i>, produzido já na fase final da sua vida, é bem provável que António Ramos Rosa tenha pensado: «Como é que eu com esta idade posso nascer? Pela poesia». Naturalmente, contra a «ditadura da banalidade». E é bem verdade que, neste livro, terá nascido mais uma vez. Graças, também, à presença, à amizade e à palavra poética da sua sobrinha Gisela Gracias Ramos Rosa.</div></o:p></span><span style="font-family: Helvetica;"><div style="text-align: justify;"> </div></span></div><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><b><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">Nota<o:p></o:p></span></span></b></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-size: x-small;"><sup><span style="font-family: Helvetica;">1</span></sup><span style="font-family: Helvetica;"> «António Ramos Rosa “Como é que um velho pode nascer?”», <i>Público</i>, 22/10/2006. Disponível em </span><a href="https://www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/antonio-ramos-rosa-como-e-que-um-velho-pode-nascer-103418" style="color: purple;"><span style="font-family: Helvetica;">https://www.publico.pt/culturaipsilon/jornal/antonio-ramos-rosa-como-e-que-um-velho-pode-nascer-103418</span></a><span style="color: #7030a0; font-family: Helvetica;"> </span><span style="font-family: Helvetica;">(acedido em 13-4-2017).<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #7030a0; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #7030a0; font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">José António Gomes<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto</span><span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-indent: 1cm;"><span style="color: #7030a0; font-family: Helvetica; font-size: 14pt;"> </span></p><p align="right" class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: right; text-indent: 1cm;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: 12pt;"> </span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-56728031746235732432020-12-24T04:12:00.003-08:002020-12-24T04:29:35.085-08:00Talvez, neste Natal<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;"><b>TALVEZ, NESTE NATAL </b></p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 13px;"><b></b><br /></p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 11px;"><br /></p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">Talvez este Natal nos anoiteça,</p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">por momentos nos mergulhe</p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">em águas fundas</p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">e nos faça descrer do mundo que ideámos.</p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 11px; text-align: left;"><br /></p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">Mas talvez uma semente luminosa, </p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">chegada essa hora cor de terra, </p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">consiga germinar</p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">no ileso fulgor duma lembrança.</p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 11px; text-align: left;"><br /></p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">Talvez ela dê fruto num sorriso, </p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">num gesto quase irmão,</p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">num olhar de súbito sem sombra;</p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 11px; text-align: left;"><br /></p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">ou talvez se transforme em velho estábulo, </p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">em árvore luzente ou numa estrela</p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;">para guiar amanhã os nossos passos.</p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 11px;"><br /></p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; min-height: 11px;"><br /></p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;"><span style="font-size: x-small;">2020</span></p><p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></p>
<p style="color: #231a12; font-family: Helvetica; font-stretch: normal; line-height: normal; margin: 0px; text-align: left;"><span style="font-size: x-small;">Texto por João Pedro Mésseder</span> </p></div><br /><br /></div></div></div></div><p>A equipa da Inocência Descompensada deseja a todos os nossos leitores um Feliz e Santo Natal.</p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-42010790323808621492020-12-18T07:44:00.004-08:002020-12-22T02:57:02.659-08:00A Musa Irregular, de Fernando Assis Pacheco: um belo presente de Natal<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-family: Helvetica;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2ZvAkqYxuGNWuQP4Vuya2Al59xd-JZjPYPKZB9DUZRJxjC7hQ4Rdj6EOY4-DGyVau1mS6sy4L_Ez7SOfCVeokktPeYF-ZTy9DujuDM8_PBDn-A08BDRK2P2E97F_FM2ZMHUUPUJY8vU1h/" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img data-original-height="1240" data-original-width="874" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2ZvAkqYxuGNWuQP4Vuya2Al59xd-JZjPYPKZB9DUZRJxjC7hQ4Rdj6EOY4-DGyVau1mS6sy4L_Ez7SOfCVeokktPeYF-ZTy9DujuDM8_PBDn-A08BDRK2P2E97F_FM2ZMHUUPUJY8vU1h/w226-h320/IMG_4634.JPG" width="226" /></a></span></div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Um grande livro de poesia, unanimemente saudado, em vários momentos, é <i>A Musa Irregular: edição aumentada</i><span style="font-size: small;"> (Tinta da China, 2019), de Fernando Assis Pacheco (1937-1995), com um excelente posfácio, arguto e iluminador, de Manuel Gusmão, e edição, rigorosa, da responsabilidade de Abel Barros Baptista. Inclui, como o subtítulo indica, textos que antes não figuravam em livro.<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: small;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; font-size: small;">Além de notável jornalista, crítico e tradutor, Fernando Assis Pacheco foi poeta de excepção (ainda que o tenha sido em «tom menor», como assinala Gusmão) e novelista bem singular, quer em </span><i style="font-family: Helvetica;">Walt</i><span style="font-family: Helvetica; font-size: small;"> (1978) quer na obra-prima </span><i style="font-family: Helvetica;">Trabalhos e Paixões de Benito Prada</i><span style="font-family: Helvetica; font-size: small;"> (1993). Da geração de Manuel Alegre, Rui Namorado, António Manuel Lopes Dias, José Carlos de Vasconcelos, José Manuel Mendes (que no espaço coimbrão tiveram uma das suas matrizes literárias), foi talvez a voz poética que de modo mais intenso e dramático abordou a Guerra Colonial, e o consequente medo da morte, mas ao mesmo tempo foi lírico de inegável finura e rigor de expressão, além de voz satírica, de sentido de humor indeclinável (mesmo quando tocado pela amargura) e de peculiar criatividade linguístico-discursiva.</span><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">Não é possível esquecer tal <a href="https://www.escritas.org/pt/t/47749/o-cu-de-maruxa" target="_blank">voz</a> </span><span style="font-family: Helvetica;">nem os seus <a href="http://www.citador.pt/poemas/preso-politico-fernando-assis-pacheco" target="_blank">poemas</a> sobre a prisão política</span><span style="font-family: Helvetica;">. Assis Pacheco foi um poeta que, além do mais, não quis dissociar escrita e vida (no fundo o tema maior da sua poesia) e que não se tomava demasiado a sério, sendo capaz de inteligentemente rir de si mesmo. Como nos rimos nós também – ou pelo menos sorrimos, quando não choramos – ao ler esta poesia que não faz lembrar nenhuma outra, e que proporciona um prazer de leitura que é tudo menos comum. </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">José António Gomes<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">IEL-C (Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto)</span><span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 10pt;"><o:p> </o:p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-69206708206059578552020-11-25T03:24:00.009-08:002020-11-26T01:06:54.073-08:00Companhia (I)limitada, de João Pedro Mésseder<p style="text-align: justify;"><i style="font-family: "Times New Roman", serif;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i style="font-family: "Times New Roman", serif;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLwvVrtSpDmwvH3udMEyNHw4HhtOBCwjdaTwf7a6ZuSsTThY9k2IHl3wAkOBAzt3hmWlqNnochuWdrJv0fpwEX54yRjH59s2sjSGc6fPIZS4FQZJtYtYPqpJ02utqBbaUC7GLM4QPXM83w/" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="686" data-original-width="476" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgLwvVrtSpDmwvH3udMEyNHw4HhtOBCwjdaTwf7a6ZuSsTThY9k2IHl3wAkOBAzt3hmWlqNnochuWdrJv0fpwEX54yRjH59s2sjSGc6fPIZS4FQZJtYtYPqpJ02utqBbaUC7GLM4QPXM83w/w139-h200/Captura+de+ecr%25C3%25A3+2020-11-25%252C+%25C3%25A0s+11.23.11.png" width="139" /></a></i></div><p></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><i><span style="font-family: Helvetica;">Companhia (I)limitada</span></i><span style="font-family: Helvetica;"> é uma recolha de mais de duas dezenas de poemas, editada numa nova colecção da Página a Página, cujo nome é todo um programa: "Des-confina-mente". Marcados pela variedade formal, entre o longo e o muito breve, os poemas de Mésseder aludem criticamente a realidades sociais diversas, muitas delas dolorosas e politicamente perigosas, que a pandemia do COVID-19 agravou, nos planos nacional e internacional. Contra a epidemia do medo e a retórica do isolamento, contra as tentativas de silenciar o protesto e a reivindicação, estes versos deixam no ar uma nota de esperança, que se pode ler nos poemas "Prece" ou "Quando isto um dia passar". Poesia, em suma, para manter a mente desconfinada, como o nome da colecção sugere.</span><span style="font-family: Helvetica;"><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><span>Revista <i>Diagonal</i>, 3.ª série, n.º 5, Novembro de 2020, secção Sugestões de Leitura. <span style="font-size: x-small;"><o:p></o:p></span></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;">(…) Poemas da pandemia, a <i>companhia</i> que se torna <i>ilimitada</i>, pela resistência poética que nasce do saber, que, mesmo num mundo rarefeito, por pouco mais que tenhamos, temos ao menos as palavras: e que podemos fazer delas sempre outras. Há sempre a hipótese de aduzir uma errata ao mundo, como no poema final. Um livro em que se transformam os tempos da pandemia verdadeiramente em resistência poética. (…)<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;">Rita Taborda Duarte, 2020</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm;"><br /></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm;"><span style="font-family: helvetica;">O livro <i>Companhia (I)limitada</i> pode ser adquirido <a href="https://www.paginaapagina.pt/store/p116/Companhia_%28i%29limitada.html" target="_blank">aqui</a>.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"><br /></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm;"><br /></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-42419277188231851962020-10-20T02:02:00.010-07:002020-10-20T03:20:29.259-07:00Nos 100 anos de Castrim, um “novo” livro: Novelas<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggla_MlPvpEwt2l2QjVdrGuXi7K1V45AqYnVPhtxiPkOWPuyXrQ6LWyCOAFn4BJ9hbR45EKx_oXchH5t1P11v7zoEkmvhZDYhts7gval14QjN3e1b-Bi0l0eOyXgrO7VCe3VHK8AdH5rcN/s2048/Sem+Ti%25CC%2581tulo-1.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="1367" data-original-width="2048" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggla_MlPvpEwt2l2QjVdrGuXi7K1V45AqYnVPhtxiPkOWPuyXrQ6LWyCOAFn4BJ9hbR45EKx_oXchH5t1P11v7zoEkmvhZDYhts7gval14QjN3e1b-Bi0l0eOyXgrO7VCe3VHK8AdH5rcN/w400-h268/Sem+Ti%25CC%2581tulo-1.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span> <span> <span> <span> <span> </span></span></span></span></span><span style="font-size: x-small;">Mário Castrim, Ria de Aveiro, 1968</span><br /></td></tr></tbody></table><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Comemora-se, este ano, o centenário do nascimento de Manuel Nunes da Fonseca (Ílhavo, 31 de Julho de 1920 – Lisboa, 15 de Outubro de 2002), que usou o pseudónimo Mário Castrim, tendo sido escritor, jornalista, conhecido crítico de televisão (antes e depois do 25 de Abril de 1974), professor, e tendo alcançado merecido reconhecimento enquanto original autor de livros para a infância e a juventude. Várias efemérides, aliás, têm assinalado a comemoração dos seus 100 anos – mas, vá-se lá saber porquê, não se espere encontrar matéria publicada, ou áudio, nos<span> </span><i>media</i><span> </span><span>dominantes, mesmo nos</span><span> </span><i>media</i><span> </span><span>culturais. Esses mesmo</span><span> </span><i>media </i><span>que têm aliás ignorado outros centenários importantes, como os de Mário Sacramento ou de Sidónio Muralha, igualmente assinalados este ano.</span><span> </span></span></div><p></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span>Além de estimável, por vezes surpreendente (e militante) poeta (por exemplo em</span><span> </span><i>Do Livro dos Salmos</i><span> (2007) ou em</span><span> </span><i>Mais Poemas do Avante!</i><span> </span><span>(2020), recolha recentemente publicada pelas Edições Avante!),</span><span> </span><span> </span><span>Mário Castrim foi um prosador/contador de muito mérito. Evidenciam-no as suas narrativas para jovens</span><span> </span><i>O Cavalo do Lenço Amarelo É Perigoso</i><span> </span><span>(1971), emblemática parábola sobre o direito à vida e à liberdade,</span><span> </span><i>O Caso da Rua Jau</i><span> </span><span>(1994), em torno da escola anterior ao 25 de Abril e da escola já em democracia, ou ainda</span><span> </span><i>Váril, o Herói</i><span> </span><span>(1994), misto de romance de aventuras e de conto maravilhoso tradicional de matriz mitológica que, declinando a condição todo-poderosa dos deuses, afirma a vontade humana de viver uma existência plena. E estes são apenas alguns exemplos dos seus livros em prosa.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"><span>Ora é, justamente, em torno do «ofício de viver» (vou buscar o título de Pavese) e de sobreviver, das voltas do amor e do desamor, dos conflitos relacionais, dos muitos e diversos quotidianos lisboetas, é em torno disso e de muito mais que se movem as prosas de</span><span> </span><i>Novelas</i><span> </span><span>(Página a Página, 2020) – recolha de textos curtos, não raro bem-humorados, como era timbre de Castrim, saídos, no final da década de 90, no jornal</span><span> </span><i>24 Horas</i><span>.</span><span> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">O título é um pouco ludibriador, pois aqui o sentido de novela não remete propriamente para aquele género narrativo tradicional de todos conhecido, mais longo que o conto, menos extenso que o romance, mas sim para um certo sentido comum e popular do termo, quando, a propósito dum enredo, dum <i>novelo</i> amoroso ou doutro tipo, que se estende no tempo e evoca episódios telenovelescos, dizemos algo como: «Ui, foi cá uma novela!». <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">Trata-se portanto de 145 narrativas breves mas não superficiais, de leitura prazerosa e fácil, situadas entre o conto e a crónica jornalística inspirada no <i>real quotidiano</i>, conjunto a que não falta sequer um episódio da clandestinidade comunista de meados da década de 60 e outras alusões à condição militante do autor. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;">É isto o que <i>Novelas</i> essencialmente nos propõe. Em boa hora, pois, se resgatou este conjunto de textos à efemeridade do jornal e se lhe conferiu a dignidade, merecida, do volume impresso. A maneira ideal de comemorar o centenário de um antifascista e democrata, de alguém que sempre se preocupou ao longo da vida em estimular o pensamento crítico, e de um poeta e prosador de méritos reconhecidos. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: inherit;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">José António Gomes<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;"> </span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto</span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: "Times New Roman", serif; margin: 0cm; text-align: justify;"><o:p> </o:p></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-29555513076425235332020-10-09T00:59:00.014-07:002020-10-09T01:06:33.230-07:00Louise Glück (n. New York, EUA, 1943) – Dois poemas da Prémio Nobel da Literatura 2020<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p> </p></blockquote></blockquote></blockquote><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj48kNu8knvfd7aNv2vCThEhiPLEBxa_gXkjs9-uTd4WF1Zqf2pS4ZoYZ84K371j4D8ylkm6kCGOKf-bchhcy4VFtLD3j_u2fxPPi4FFEW6JRMVhu9b4GqNNqQEV8zXqrNUhehLxbn2IxiN/s448/5559570.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="293" data-original-width="448" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj48kNu8knvfd7aNv2vCThEhiPLEBxa_gXkjs9-uTd4WF1Zqf2pS4ZoYZ84K371j4D8ylkm6kCGOKf-bchhcy4VFtLD3j_u2fxPPi4FFEW6JRMVhu9b4GqNNqQEV8zXqrNUhehLxbn2IxiN/w320-h210/5559570.jpg" width="320" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p> </p><p> </p><p> </p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p style="text-align: left;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica; font-size: medium;"><b>Confissão</b></span></p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">Dizer que nada temo</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">seria faltar à verdade.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">A doença, a humilhação</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">assustam-me.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">Tenho sonhos, como qualquer pessoa.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">Mas aprendi a ocultá-los</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">para me proteger</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">da plenitude: a felicidade</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">atrai as Fúrias.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">São irmãs, selvagens,</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">que não têm sentimentos,</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">apenas inveja.</span></p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica; font-size: medium;"> </span></p></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica; font-size: medium;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica; font-size: medium;"><b>Primeira recordação</b></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica; font-size: medium;"> </span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">Há muito tempo fui ferida. Vivi</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">para me vingar</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">do meu pai, não</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">por aquilo que ele era</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">mas pelo que fui eu: desde o começo dos tempos,</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">na infância, acreditei</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">que a dor significava</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">que eu não era amada.</span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm;"><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;">Significava que eu amava.</span></p></blockquote><p style="text-align: left;"><span><span style="color: #444444; font-family: Helvetica;"> <br /></span></span></p><p><span><span style="color: #444444; font-family: Helvetica; font-size: 11pt;"> <br /></span></span></p><p><span style="color: #444444; font-family: Helvetica; font-size: small;"> </span></p><p></p><p></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: left;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="color: #444444; font-size: x-small;">Versão portuguesa: José António Gomes</span></span></p></blockquote><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; font-size: 11pt; line-height: normal; margin: 0cm; text-align: left;"><span style="font-family: Helvetica;"> <br /></span></p>Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3661430568740265458.post-90663940395823516262020-09-21T05:30:00.015-07:002020-09-21T05:40:19.531-07:00Paco Ibañez: o que a muitos revelou o que é a poesia<p style="font-family: Times; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"></span></p><div style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjp8-DbOoEPOwwnKJ-b_8HCFCkIngtrtTXf3X2JUOYuQKQAEq5ugfZW17k1BDu7jfV9rhhlEvJgT_kWbiujNvgbXhT70mixnr0MA-AfupZ7-c9s3YKtrZWl3uL9k0AEWs5MJ6SNztbvUCxP/s620/ep009365_1.jpg"><img border="0" data-original-height="383" data-original-width="620" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjp8-DbOoEPOwwnKJ-b_8HCFCkIngtrtTXf3X2JUOYuQKQAEq5ugfZW17k1BDu7jfV9rhhlEvJgT_kWbiujNvgbXhT70mixnr0MA-AfupZ7-c9s3YKtrZWl3uL9k0AEWs5MJ6SNztbvUCxP/w400-h248/ep009365_1.jpg" width="400" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: arial;">Em 2019, celebrou-se um aniversário bem especial: os cinquenta anos da inesquecível actuação de </span><span style="color: red; font-family: arial;"><a href="https://elpais.com/elpais/2019/02/04/eps/1549301153_665921.html" style="color: #954f72;" target="_blank">Paco Ibañez</a> </span><span style="font-family: arial;">no Olympia, de Paris, a 2 de Dezembro de 1969, um ano e tal após o Maio de 68. A recente reedição do disco <i>Paco Ibañez en el Olympia (Paris)</i> tornou-se, por isso, um acontecimento.</span></div><p></p><p style="margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span>Sobre o enorme Paco Ibañez explore-se o seu bem organizado </span><span style="color: red;"><a href="http://www.aflordetiempo.com/" style="color: #954f72;" target="_blank">sítio oficial</a></span><span> na <i>Internet</i> e <a href="http://www.aflordetiempo.com/han-dicho/textos-de-autor/jose-saramago" style="color: #954f72;" target="_blank">leia-se</a> o que Saramago e outros acerca dele disseram. Detestado pelo franquismo, pelas direitas e pelo corrupto PP, tolerado (mas mal) pelo PSOE, Paco Ibañez é das figuras maiores da cultura ibérica (eu diria europeia). É aquele que a muitos revelou o que era a poesia e, sobretudo, a grande lírica de língua castelhana, que ele musicou e cantou como ninguém: Góngora, Quevedo, Arcipreste de Hita, Jorge Manrique, Machado, Lorca, Hernández, Alberti, Cernuda, Celaya, Léon Felipe, José Agustín Goytisolo, Blas de Otero, Gloria Fuertes, o cubano Nicolás Guillén, o chileno Neruda e muitos, muitos outros – basta consultar a impressionante antologia de poemas </span><span style="color: red;"><a href="http://www.aflordetiempo.com/obra/poesia-castellana/antologia-completa" style="color: #954f72;" target="_blank">em língua castelhana</a> </span><span>e </span><span style="color: red;"><a href="http://www.aflordetiempo.com/obra/poesia-otros-idiomas/poetas" style="color: #954f72;" target="_blank">noutras línguas</a> </span><span>a que o génio do compositor/cantor/guitarrista valenciano deu inigualável moldura musical e voz. </span><span face="-webkit-standard, serif"><o:p></o:p></span></span></p><p style="margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span>Não foram poucos os que, graças a Ibañez, começaram a conhecer a riqueza do Romanceiro popular espanhol, a poesia do Siglo de Oro (séculos XVI-XVII: Quevedo, Góngora…) ou as poéticas das Gerações espanholas de 98 (Machado, por exemplo) e de 27 (Lorca, Alberti, Cernuda…) – sobre as quais haveriam de tombar os espectros da Guerra Civil, da perseguição e do exílio. Mas o cantor foi, ainda é, excepcional veículo de divulgação de muitos daqueles poetas que ao franquismo se opuseram nos anos de brasa: décadas de 40 a 70 do século XX (como Celaya ou Goytisolo). Alguém que veio pôr em evidência a nobreza e grandeza estética do canto de luta e de protesto, dando a ver a criação poética como o acto de rebeldia que também é.</span><span face="-webkit-standard, serif"><o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span>Leitor admirável de poesia, Paco Ibañez constitui a síntese genial de uma voz de timbre único e de um notável talento de compositor de canções e de tocador de guitarra, bem como de adequação da estrutura melódica ao conteúdo e ao perfil formal do poema, sem descurar o seu registo próprio, seja ele mais trágico, mais satírico ou mais interventivo. </span><o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span>Nas suas canções cruzam-se tradições e veios diversos: Georges Brassens (a quem Paco chama o J. S. Bach dos cantautores), a ‘chanson’ francesa e a música de intervenção espanhola e sul-americana, o flamenco e o folcore musical ibérico. Filho de republicanos (pai exilado), Ibañez – que conheceu bem a chilena Violeta Parra em Paris, no início da década de 60, como aliás conheceu Luís Cília e admirou José Afonso – converter-se-ia num dos incontornáveis cantautores do nosso tempo, voz rebelde e interventiva, internacionalista e sempre firme no seu afrontamento do fascismo, das forças do capital e do imperialismo, empenhada voz, acima de tudo, na incitação ao sentido crítico e ao amor pela grande poesia. </span><o:p></o:p></span></p><p style="text-align: justify;"><o:p style="text-align: start;"><span style="font-family: arial;"><o:p></o:p></span></o:p></p><p style="margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; text-align: justify;"><span style="font-family: arial;"><span style="color: black;">Escute-se este jogral dos tempos modernos, por exemplo, em duas das suas canções mais emblemáticas: </span><span style="color: red;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=6TQjnc6jdf0" style="color: #954f72; text-decoration: underline;" target="_blank">«Lo que puede el dinero»</a> </span><span style="color: black;">poema do Arcipreste de Hita (c. 1284-c.1351), e </span><span style="color: red;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=F21w6Ayw35c" style="color: #954f72; text-decoration: underline;" target="_blank">«Don Dinero»</a></span><span style="color: black;">, de Francisco de Quevedo (1580-1645), que funcionam hoje como certeiras críticas e condenações do capitalismo burguês e dos seus mais perversos <a href="https://www.youtube.com/watch?v=ZfptmGZqngA" style="color: #954f72; text-decoration: underline;" target="_blank"><span style="color: #2b00fe;">efeitos na alma humana</span></a>.<span><o:p></o:p></span></span></span></p><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 24.533334732055664px;"><br /></span></div><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica; line-height: 24.533334732055664px;"><span style="font-size: x-small;"><br /></span></span></div><div><span style="font-family: Helvetica; line-height: 24.533334732055664px;"><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">José António Gomes<o:p></o:p></span></span></p><p class="MsoNormal" style="font-family: Calibri, sans-serif; line-height: 16.866666793823242px; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;"><span style="font-family: Helvetica;"><span style="font-size: x-small;">CIPEM | INET-md (IPP e UNL) e IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto</span><span style="font-size: 11pt;"><o:p></o:p></span></span></p></span></div>Unknownnoreply@blogger.com0