domingo, 24 de maio de 2020

Mésseder: cor e ilha – A Doença das Cores seguido de Ilhas de Deus

Tem sido muito evidente, nos livros de João Pedro Mésseder, a herança do poeta brasileiro Mário Quintana, com os seus poemas curtos, aforísticos, mas de uma enorme complexidade no modo de perspectivar pormenores do vastíssimo mundo que nos rodeia, povoado de ângulos e arestas. João Pedro Mésseder, em A Doença das Cores seguido de Ilhas de Deus (Poética Edições, 2016), revela-se também mestre na arte do poema curto, suficientemente lúcido, para representar não uma faceta do mundo, mas para propor, instituir mesmo, um prisma de visão sobre ele, que necessariamente transfigura a nossa percepção. Este novo livro prossegue nesta linha poética, quase fenomenológica, que pensa as coisas do mundo não como elas supostamente são, mas como se apresentam ao sujeito, que necessariamente lhes acrescenta persuasivo poder metamórfico.

A perplexidade sobre as cores que o mundo nos oferece ocupa a primeira parte do volume, associando um significado metafórico a cada uma delas, tantas vezes adoptando uma preocupação social, fazendo jus à ideia de que toda a escrita é, afinal, necessariamente uma escrita política, mesmo quando os seus meandros são necessariamente subtis. Leia-se, a propósito o poema citado: «Se é negra /a fome // porque é branca / a cor / do que não come?» ou «Deus / não tem cor. // Repartiu-a / em mil pigmentos / pelos homens.». Com um dos poemas desta primeira parte dedicado à Guerra Civil de Espanha, outros com referências literárias especificadas (José Gomes Ferreira, Rimbaud, Alexandre O’Neill), esta primeira parte do livro expõe-se como uma perplexidade perante a cor e perante a palavra que a diz, numa procura de sentidos sinestésicos, a descobrir símbolos novos, mostrando que a capacidade de ter um olhar de estranheza sobre o mundo é o que distingue o olhar do poeta:

              Não há cor
              que mais emigre
              do que o negro. 

              Não há cor
              mais expulsa
              do que o negro. 

              Não há cor
              que mais se afogue
              do que o negro.

              Nem cor
              que o mar
              mais devore.

A segunda parte do livro, «Ilhas de Deus» prossegue nesta perplexidade de um olhar sobre o mundo e na exímia capacidade de dizer o máximo com o mínimo, através de poemas que atingem a proeza de iluminar percepções sobre pequenos pormenores de espaços, de sítios únicos, individualizados, que se tornam ilhas, pontos únicos na percepção do poeta. Leia-se, a título de exemplo, o curto poema dedicado ao parlatório da prisão de Peniche: 

               O parlatório
               da prisão
               de Peniche
               tão perto
               do mar
               que não se aquieta.

Rita Taborda Duarte

domingo, 10 de maio de 2020

Medula, um livro diferente, de Manuel Silva-Terra

«O poeta não escreve. O poeta anula a linguagem. (…) O poeta é o sacerdote de uma religião sem Deus.» Assim principia em tom aforístico, a pp. 11, Medula (Licorne, 2019), de Manuel Silva-Terra (n. Orvalho, Beira Baixa, 1955).  

Pouco tempo decorrido após ter trazido a lume a primeira edição deste livro, o escritor publica a segunda, inserindo, na página de rosto, esta curiosa (e bem-humorada) nota em contra-corrente, a qual muito diz sobre quem a redige e sobre o modo como encara o exercício da criação literária: «2.ª edição corrigida, transformada e diminuída».

O título, por outro lado, configura todo um programa, conotando ideias de âmago, essencialidade, interioridade e abrindo pistas para a leitura de uma escrita que se distingue não apenas pela busca da beleza e da singularidade expressiva, mas também pelo elemento meditativo. E já agora, acrescente-se, por uma espécie de (auto)pedagogia do olhar, e por uma defesa da condição da arte e do artista dignas de nota, isto sem esquecer a ligação à terra (que o nome utilizado pelo autor aliás sugere) e a um certo imaginário meridional. 

Cruzamento de poesia e discurso filosófico, e até sapiencial, Medula é um livro belíssimo, que assume o seu cunho fragmentário e poliédrico como uma poética à-vista-de-todos, sendo semanticamente denso mas, em simultâneo, de uma textualidade aberta – o que torna a leitura especialmente desafiadora e cortejadora do desejo de ler.   

A um certo tipo de leitores, será grato encontrar aqui uma procurada diversidade formal: poemas médios-curtos, alguns próximos do tanka, haikus, aforismos, poemas em prosa muito breves e tudo isto dialogando com um mosaico de citações de nomes referenciais (Bashô, Angelus Silesius, Camões, S. João da Cruz, Hölderlin, Emily Dickinson, Melville, Nietzsche, Rilke, Kafka, Unamuno, Machado, Wittgenstein, Cioran, Camus… – aqueles talvez que o sujeito da escrita tira da mochila, como afirma a pp. 20, os que de algum modo lhe servirão de companhia e, porventura, de farol). Integram ainda a ossatura textual de Medula narrativas breves, por vezes com algo de parábola. Um fragmento (p. 12):

Um homem sem idade, porque os pedintes e os sem-abrigo, como é este homem, não tem dias. Só têm rugas, barba e cabelos grandes. Cabelos brancos e desgrenhados, barba branca por aparar.
Cruzaram-se os dois homens ao final do dia, nos subúrbios da cidade. 
O homem bem vestido regressava a casa, depois de mais um dia de trabalho no escritório. 
O homem dito sem-abrigo empurrava um carrinho de supermercado cheio de caixotes com os seus poucos haveres. Havia uma semana que estava em viagem. Tinha atravessado a ponte a pé, com os seus sacos às costas. Foi mandado parar e identificado pela Guarda. Continuou. No primeiro supermercado que encontrou à beira da estrada, tranquilamente encheu um carrinho de compras vazio com os seus sacos e caminhou durante uma semana. 
– Assim se imaginou o homem de fato e gravata.

Leia-se outro fragmento, bem diverso, do ponto de vista formal (na sequência de um poema (p. 122) escrito após o desaparecimento físico de Leonard Cohen), um belo texto em verso que muita coisa pode evocar, começando pelo caminho que lhe é aberto pela isotopia musical, mas que é muito sugestivo e expressivo no seu lirismo e na sua aparente simplicidade discursiva: «Tocas as cordas mais sensíveis / fazes sangrar a madeira / tão antiga com seus veios quentes / sua resina translúcida.» (p. 123). 

Neste livro, talvez mais do que noutros do autor, parece existir uma vontade intensa de problematização existencial, de meditação centrada no modo-humano-de-ser-sujeito-no-tempo – um eixo que não abdica de certas fontes do conhecimento antropológico e do pensamento religioso. 

Trata-se ainda de um livro muitas vezes – não sempre – tocado pelo desencanto, mas, repita-se, desafiador. Um dos aspectos mais insinuantes prende-se com aquele que é o modo de olhar a que dá expressão, o seu imaginário poético e a maneira como ele se traduz em formulações e estruturas imagéticas e discursivas muito próprias, às quais não falta certa dimensão gnómica.

De referir, já agora, muito de passagem, o influxo orientalizante desta escrita, tanto através do diálogo com textos sagrados de diversas tradições, como por via dos vários haikus (ou textos próximos do haiku) que aqui descobrimos, incluindo uma versão de Bashô (p. 109):

Divino é aquele
que perante o relâmpago
nada sabe.

A propósito desta última nota, direi que Manuel Silva-Terra é também tradutor, ou antes, autor de versões de textos orientais, como confirmam as suas belíssimas antologias As Cigarras Vão Morrer – haiku: uma antologia (Casa do Sul, 2008) e Primeiro Amor e Outros Poemas (Licorne, 2013), selecção de haikus de um dos mestres nipónicos, Yosa Buson (1716-1783); bem como versões/recriações de grande poesia chinesa, como a de Wang Wei (699-759), em Habitar o Vazio (Licorne, 2018), e de Tu Fu (712-770), em Entre Céu e Terra – Transgressões de Manuel Silva-Terra (Licorne, 2020). Saliente-se ainda O Círculo do Amor(Licorne, 2016), de Rumi (1207-1273), nascido em Balkh, no actual Afeganistão.

Professor de Filosofia, editor, antologiador – relembre-se ainda o belo E o Céu Tão Baixo – uma antologia poética sobre o Alentejo (Casa do Sul, 1999) – e com catorze títulos editados, Manuel da Silva-Terra é uma das vozes da poesia portuguesa contemporânea que não podem ser ignoradas. Últimos títulos vindos a lume: )Condomínio( (2013), Pastor de Pedras(Licorne, 2014), Canto Chão (Licorne, 2016) e Medula (Licorne, 2019). 

A terminar, fique registado o link para uma das principais chancelas editoriais portuguesas de poesia, a Editora Licorne: https://editoralicorne.blogspot.com/

José António Gomes

IEL-C (Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto)





sexta-feira, 1 de maio de 2020

Efémero mas incandescente – a poesia breve de Flor Campino



Pintora conhecida, autora de várias obras narrativas destinadas à infância (algumas por si ilustradas), Flor Campino (n. Tomar, 1934) é também poeta, como atestam os seus livros A Aresta das Folhas (2000), O Crivo dos Dedos(2006), Pérolas de Vidro / Perles de Verre (2008), O Lume dos Dias (2011) e, agora, Elogio do Efémero: Incandescências / Éloge de l’Ephemère: Incandescences (2017) 1, introduzido por um «Pequeno exercício de apresentação e louvor», da autoria do poeta e ensaísta Diogo Alcoforado, que é, ele próprio, um desafiador texto pontilhista, de natureza poética.

Alguns destes livros possuem um traço comum: a brevidade textual; e dois deles partilham a condição de livros bilingues. Em Português e em Francês nos são apresentados Pérolas de Vidro e Elogio do Efémero, revelando a afeição de Flor Campino à língua francesa, a que não são alheias a sua longa permanência em França, e uma natural e forte ligação à cultura e à poesia deste país. Creio eu que, além do interesse em disponibilizar estes textos a leitores de ambos os idiomas, existe, sobretudo, o desejo de compartir o efectivo manejo poético de uma língua que, tendo raízes no latim, como a nossa, a ouvidos portugueses soa em geral como uma língua de grande beleza e expressividade rítmico-musical. Estamos a falar da língua de Claudel, Éluard, Guillevic – para apenas referirmos poetas que também fizeram incursões nas formas breves – e de outras grandes vozes. E, naturalmente, estamos a falar de uma cultura que, durante séculos, exerceu enorme influência na produção cultural portuguesa. 

Mas centremo-nos neste livro e escutemos o que, na Nota introdutória, a própria autora tem a dizer sobre o assunto. Começando por declarar que por vezes os poemas lhe surgem, na sua primeira forma, em Português e, outras vezes, em Francês, acrescenta: «em qualquer dos casos tenho curiosidade de ver o que se passa no segundo caso, motivada pela plasticidade e musicalidade próprias de cada língua. Agrada-me o diálogo entre elas e o que cada uma pode trazer por vezes de inesperado, longe da tradução linear.» (p. 5)

Eu diria que este diálogo, no livro de Flor Campino, resulta sempre numa interacção sugestiva (também eu sinto o apelo musical da língua de Racine), estimulando, aqui e acolá, uma leitura em voz alta. Por outro lado, as variações semânticas e fónico-rítmicas entre texto em português e texto em francês constituem um segundo desafio de leitura a que a obra permanentemente convida. Um pequeno exemplo que, na versão francesa, cria uma saborosa ambiguidade permitida pela palavra air, a qual, na sua polissemia, tanto pode significar ar como melodia:

Fonte de sonho:
a luz da manhã
e um fio de música
brincam na cortina.

Source de rêve:
la lumière du matin
et un air très lointain
jouent dans le rideau. (p. 67)
  
Elogio do Efémero é composto por 157 poemas muito breves, sem títulos, sendo primeiramente apresentada, em cada página, a versão portuguesa e depois, em itálico, a francesa (esta última foi revista pelo poeta e tradutor Max de Carvalho). Segue-se, desta maneira, um preceito desejável neste tipo de livros: um poema por página com muito espaço branco à volta, o que em si possui um valor intrínseco. Ou seja, o texto vê-se sublinhado na sua inteireza lapidar, pode ser de imediato relido ou lido terceira e quarta vez, sendo o espaço em branco como que um convite a essa releitura e à reflexão por parte do leitor. Finalmente, insuladas, as palavras dir-se-ia ganharem uma vibração material e de sentidos favorecida pela grande superfície branca e vazia – o que de certa maneira representa visualmente um espaço prestes a ser preenchido por essa subjectividade interpretativa do leitor, muito concentrada, que é própria da leitura de poesia e da construção da significação poética a que esse leitor procede. 

Este tipo de disposição gráfica é comum nos livros de haiku mais bem editados. E é evidente que algo na escrita de Flor Campino é devedor da poética do haiku. Tal não significa, porém, que possamos chamar haikus à maioria dos poemas – nem a poeta o deseja –, isto se nos ativermos às regras mais tradicionais e antigas de composição desta forma breve, que Flor Campino, aliás, afirma não lhe interessarem: as dezassete sílabas métricas; a presença da palavra-estação ou kigo; a sujeição ao princípio de o poema, na sua referencialidade, remeter para uma particular estação do ano.

Mas permito-me recordar ainda outros traços do haiku, pois, apesar de tudo, alguns deles (apenas alguns) encontramo-los na poesia de Flor Campino.

«Essencialmente descritivo», afirma Anthero Monteiro (2002), «o haiku alude a coisas concretas com existência física, reporta-se a um presente geralmente vinculado ao kigo, ou seja à estação do ano, e é expressão do efémero e da transitoriedade de um mundo em permanente mudança. Baseando-se nas sensações físicas, que podem eventualmente fazer disparar o sentimento ou a recordação, sem que seja quase nunca possível o processo inverso, o haiku é uma espécie de instantâneo fotográfico».

Para muitos, a essência do haiku é o «corte» (kiru). Isto é geralmente representado pela justaposição de duas imagens ou ideias e um kireji («palavra que corta») entre elas. Esta marca sinaliza o momento da separação e destaca o modo como os elementos justapostos são relacionados. Possui outros traços: o último verso, por exemplo, tende a ser uma síntese/conclusão e a funcionar como uma revelação.

Expressão de uma atitude contemplativa/reflexiva, o haiku, no Japão, foi influenciado pelo budismo zen e está ligado, muitas vezes, à errância do sujeito pelo mundo, em profunda irmanação com a natureza. Recordo de passagem que Matsuo Bashô (1644-1694), reconhecido como influente poeta, foi um dos mestres do género. Outros foram Taigui (1709-1771), Buson (1716-1783), Enomoto Seifu (mulher – 1732-1815), Ryokan (1758-1831), Issa (1763-1827), Shiki (1869-1902) e Kioshi (1874-1959).

Além de evidenciar o gosto japonês pela caligrafia e pela miniatura, o haiku não tem rima; avesso à metáfora e a excessos retóricos, faz uso do jogo de palavras e da onomatopeia e não recusa o humor.

Nos dias de hoje, o leque temático deste género poético é quase infinito, não apenas no Japão mas também no ocidente, onde foi descoberto entre meados e finais do século XIX.

Ora, ao ler-se Elogio do Efémero, observa-se que constituem traços comuns ao haiku e aos poemas, aliás belíssimos, de Flor Campino, a contenção e a predominância de poemas de três versos (embora existam também dísticos e composições de quatro e cinco versos) e, por outro lado, a atenção extremamente sensível, ao mundo natural (flores, árvores, animais…), a atitude contemplativa (mas igualmente reflexiva) e a arte de captação do instante – do efémero (como refere o título), daquilo que, sendo passageiro, é no entanto essencial reter, porque, na perspectiva do eu, arde.

Deve-se, aliás, acrescentar que, nesta ou naquela composição de Flor Campino, o haiku, no plano formal (dezassete sílabas métricas), é respeitado, mas noutros aspectos – o imagístico, por exemplo – é subvertido. Vejamos um caso:

Com o ouro furtado
a abelha filigrana
a charneca em flor. (p. 16)

Efémero é o que dura pouco. É esse momento da realidade, esse diamante de tempo na sua peculiar vibração, o que o poema tenta capturar e fixar. E por se tratar de pequenas fulgurações, é compreensível que o subtítulo fale em incandescências

Embora breves, do ponto de vista temático, os poemas de Flor Campino são diversos, e permitem ao leitor uma viagem intensa por dentro de uma subjectividade mais que susceptível de o interessar e seduzir. A conferir-lhes unidade, além dos aspectos formais e de um registo poético pessoalíssimo, está uma certa implicação que me permitiria chamar autobiográfica. Ela é sugerida (os textos de Flor Campino sugerem mais do que dizem) no poema da p. 23, e confirma-se nos que se lhe seguem e que se reportam a flores:

Que o corpo
– êxtase e ascese em harmonia –
me guarde inteiro o nome vegetal. (p. 23)

De que fala este sujeito de «nome vegetal» devotado à escuta do mundo? Do espaço íntimo que o rodeia (a casa, a criança, os objectos, as imagens que observa – podem ser as de um pintor, como Klee…), do mundo exterior mais ou menos próximo, que escuta e contempla, que o extasia (ar e céu, jardins, espaços naturais, povoados de plantas, aves, insectos, gatos…). Depois, um tópico, capital nesta poesia: a relação do eu com um tu – a questão do amor, da dor da separação, da falta, da procura, da perda. Uma dimensão que, não raro, se articula com outro eixo essencial do livro: tempo e memória.

O que acabo de apontar não faz, porém, desta escrita, um discurso poético sombrio. Talvez seja até, sobretudo, um discurso serenamente extasiado, ainda que aqui e acolá, dolorido. É que há dias «brunidos de alegria». Mas é, seguramente, um discurso preparado para a sombra: 

Andar os caminhos
sabendo que os dias
brunidos de alegria
nos ocultam o cortejo de sombra. (p. 74)

Vejamos uma dessas sombras que, na sua formulação, respeita quase a regra métrica do haiku:

No avesso sedoso 
do teu casaco, minhas mãos
afagam tua pele. (p. 72)

Outra linha deste mapa poético é a aforística, discretamente gnómica ou sentenciosa, muito própria de algumas formas breves, por vezes articulada com a auto-analítica (ex. p. 99). São traços em que estes micropoemas, aliás, se distanciam efetivamente da poética tradicional do haiku. Eis três exemplos:

Os muros que levantarmos
irão connosco
aonde quer que vamos. (p. 33)

Insuflemos
à simetria do previsível
a graça de uma brisa. (p. 35)

A solidão? Há quem a vista
tão bem cosida à pele
que nem a si mesmo se enxergue. (p. 135)

Apenas dei a conhecer meia dúzia da mais de centena e meia de curtíssimas composições deste poemário de Flor Campino, sensível e poliédrico, mas uno, que me fez companhia durante uns poucos dias, proporcionando-me momentos de fruição poética. Lamentei ter de terminar a leitura inaugural, pois desejava prolongá-la, conviver com esta escrita enraizada no vivido, contida e rigorosa, espécie de breviário da terra, de especiosa delicadeza espiritual, impressivo visualismo e bom gosto – ou não estivéssemos ante a escrita poética de uma pintora e ilustradora.

Nota

1 Flor Campino. Elogio do Efémero: Incandescências / Éloge de l’Ephemère: Incandescences. Porto, Afrontamento: 2017. Todas as citações de textos do livro são retiradas desta edição, indicando-se as respectivas páginas entre parênteses.


Referência bibliográfica

MONTEIRO, Anthero (2002). «À Noite as Estrelas Descem do Céu: João Pedro Mésseder abre à juventude mais uma porta para a poesia», suplemento «Das Artes das Letras», O Primeiro de Janeiro, 30/12.


José António Gomes



IEL-C (Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto)