terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Ainda a Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina, de Mário de Carvalho

Editado em 2004, Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina (Caminho), de Mário de Carvalho, é uma das mais acabadas obras de ficção que em língua portuguesa se publicaram nas últimas décadas. Dir-se-ia o retrato desapiedado desse país aparentemente inviável que é o nosso: um país onde campeiam ignorantes, provincianos, boçais, incompetentes, oportunistas e patos-bravos. País «sem emenda», cuja imagem o romance nos devolve para que – quem sabe? – possamos lutar pela sua regeneração. Além disso, uma prosa criativa e culta como há muito se não lia em Portugal (saturada de referências intertextuais incrustadas sem artificialismo) e um sapiente manuseamento das técnicas narrativas – em que avulta a metalepse – e do jogo ficcional. Por último, o humor: absolutamente explosivo (perdoe-se o lugar comum) e a merecer figurar em qualquer futura antologia do humor em literaturas de língua portuguesa.

Para abordar a peritextualidade também é perfeito (da capa à contracapa passando pela nota do autor, pela dedicatória e pela epígrafe…). É só experimentar, senhores professores de literatura.

 

 

José António Gomes

NELA (Núcleo de Estudos Literários e Artísticos da ESE do Porto)