quarta-feira, 27 de outubro de 2021

A escrita de Domingos Lobo e Origens e Derivações do Neo-realismo Literário Português


Domingos Lobo (n. 1946) é natural de Nagozela, Santa Comba Dão. Em 1982 recebeu o Prémio de Melhor Encenador, do Festival de Teatro de Lisboa, distinção que se liga a uma das forças motrizes da sua vida: a actividade teatral, quer como encenador e actor quer como dramaturgo, adaptador de textos para teatro, crítico teatral e de cinema e membro de colectivos de jograis.

 

Director do jornal A Voz do Operário, Domingos Lobo é actualmente um dos poucos colaboradores da imprensa que se dedicam com assinalável regularidade à divulgação crítica, nas páginas do semanário Avante!, no quinzenário As Artes entre as Letras, na Vértice, na Gazeta Literária e noutros periódicos, tendo reunido, por exemplo no volume Palavras que Respiram – 30 olhares sobre a literatura portuguesa (Página a Página, 2016), uma selecção dos seus textos de crítica literária publicados nos últimos anos. 

 

No campo da história e da crítica literárias, Domingos Lobo publicou ainda, recentemente, com a chancela da Página a Página e o apoio da Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo (da qual é indissociável o nome do Presidente da Direcção, António Mota Redol), a obra fundamental Origens e Derivações do Neo-realismo Literário Português – Percursos de Leitura (2021). Neste volume, reúnem-se textos vários, desde os que abordam a influência do marxismo no Neo-realismo português, até aos artigos sobre Redol, Soeiro Pereira Gomes, Mário Dionísio, Cochofel, Joaquim Namorado, Romeu Correia, Orlando da Costa, Manuel da Fonseca, Egito Gonçalves, Cardoso Pires e muitos outros, incluindo precursores do Neo-realismo como Aquilino, ou alguns dos seus críticos principais (Óscar Lopes) a par daqueles em cujas criações literárias se projecta ainda a luz do Neo-realismo (Sttau Monteiro, Ary, Fernando Miguel Bernardes, entre outros). 

 

Não me lembro de nenhuma recolha de artigos em volume que reúna um conjunto tão significativo e diverso (isto é, abrangendo tantos escritores e escritoras) de análises e leituras sobre esse movimento incontornável da literatura portuguesa do século XX. Por isso e por outros motivos, é esta uma obra fundamental para quem queria conhecer em maior profundidade as poéticas neo-realistas e os seus protagonistas.

 

Domingos Lobo é, além do que fica dito, um autor de ficções e de textos para teatro. No primeiro caso (ficcionalizando amiúde a partir do que foi a sua vivência angolana) editou Os Navios Negreiros Não Sobem o Cuando (1993, Prémio de Ficção Cidade de Torres Vedras), Pés Nus na Água Fria (1997), As Máscaras Sobre o Fogo (2000), As Lágrimas dos Vivos (2005), Território Inimigo (2009) e Largo da Mutamba (2015, Prémio Literário Alves Redol 2013).

No domínio teatral, é autor de Cenas de Um Terramoto (2010), Não Deixes que a Noite se Apague (2009, Prémio Nacional de Teatro Bernardo Santareno) e A Fome dos Corvos e Outros Pretextos Teatrais (2020). 

 

Lobo possui ainda uma obra vasta no campo da criação poética: Voos de Pássaro Cego (1998); As Mãos nos Labirintos (2003); Para Guardar o Fogo (2010, Prémio Literário Cidade de Almada 2009); Lisboa, Modos de Habitar (2014); A Pele das Sombras (2011); Os Dias Desarmados (2018); O Rosto em Ruínas (2020); e Quotidianos e Outras Noites (2020). 

 

Em síntese, uma obra ampla e com múltiplas facetas, que abarca os três modos literários fundamentais e que importa conhecer e reconhecer. 

 

José António Gomes

 

IEL-C – Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto