
Quantas obras, esteticamente mais conseguidas, poderiam ocupar o lugar desta? Inúmeras, sem dúvida. Mas este é um livro com o condão de emocionar e abalar consciências, fazer ruir preconceitos e ideias feitas, revelar o que de mais humano resistiu no percurso dos que ousaram trocar uma existência «normal» pelo duro quotidiano de uma vida clandestina. Falo do combate ao fascismo, nos seus anos mais negros (década de 40), da luta pela liberdade e pelos direitos dos deserdados, neste caso os operários agrícolas e industriais do Alentejo e Vale do Tejo. De narração viva e empolgante, trazendo à memória o filme 1900 de Bertolucci, e com inesquecíveis ilustrações de um grande pintor, Rogério Ribeiro, é um dos romances mais representativos do neo-realismo português, apesar de publicado décadas depois do zénite desta corrente (anos 40-60). Transcende contudo os limites de escola, sobretudo pela elaboração psicológica de algumas personagens inesquecíveis: os clandestinos Vaz, Paulo, Ramos, Maria, Manuel Rato e tantos outros – faces visíveis, neste livro, da gesta antifascista do Partido Comunista Português, contada por Manuel Tiago, pseudónimo de Álvaro Cunhal.
Ficha bibliográfica
Manuel Tiago, Até amanhã, camaradas,
9ª edição, ilustrada e cartonada
Ilustrações de Rogério Ribeiro e prefácio de Óscar Lopes
colecção Resistência, 2004
José António Gomes
NELA (Núcleo de Estudos Literários e Artísticos da ESE do Porto)