sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um soneto de Pablo Neruda

Oh amor, oh raio louco e ameaça purpúrea,

me visitas e sobes por tua viçosa escada

o castelo que o tempo coroou de neblinas,

as pálidas paredes do coração fechado.

 

Ninguém saberá que foi a delicadeza

construindo cristais duros como cidades

e que o sangue abria túneis inditosos

sem que sua monarquia derrubasse o inverno.

 

Por isso, amor, tua boca, teu pé, tua luz, tuas pernas,

foram o património da vida, os dons

sagrados da chuva, da natureza

 

que recebe e levanta a gravidez do grão,

a tempestade secreta do vinho nas cantinas,

a chama do cereal no solo.

 

 

Pablo Neruda

Cem Sonetos de Amor.

Porto Alegre – RS: L&PM Editores, 1979.

Tradução de Carlos Nejar