sábado, 14 de fevereiro de 2009

Um soneto de Marica Campo

Marica Campo nasceu em 1948, no Val do Mao, no concelho de Incio, a sul de Lugo. É professora e autora de narrativas, peças de teatro, poesia (Tras as Portas do Rostro. A Corunha: Bahía Edicións, 1992; Pediche Luz Prestada. A Corunha: Espiral Maior, 2001, entre outros) e de um belo livro de poemas para crianças Abracadabras (A Corunha: Ediciós do Castro, 2006).

Sobre a autora, consultar: http://bvg.udc.es/ficha_autor.jsp?id=MarCampo.

 

 

Soneto 17 de Pedinche Luz Prestada

 

 

Tu dizias «viver é andar nos portos,

cantar com os marinheiros desvairados,

beber com o rum da noite tristes fados

de amores que não há ou foram tortos».

 

Eu dizia «viver é carr’gar mortos,

fardos que ferem sempre e são pesados,

encher-se dos adeuses aguardados

a cortar rosas murchas pelos hortos».

 

Agora eu bebo rum nas altas horas

a cantar esse fado de tristura

que põe bagas de lume na garganta.

 

Tu não sei se és feliz nem onde moras,

se a vida te conforta ou se te é dura,

se te seduz a morte que te espanta.

 

 

Marica Campo. Pediche Luz Prestada.

A Corunha: Espiral Maior, 2001.

Tradução de José António Gomes.