Bonita edição é esta – como são sempre as da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, com as belas capas de Augusto Baptista – para cuja visualidade a própria família Roldão concorre: o desenho da capa é do autor e o seu retrato, na badana, é de Rita Roldão. É que este é um livro que repousa em afectos vários. Por onde passam (ainda bem) personalidades e afinidades electivas de diverso tipo: Arnaldo Trindade, Jacques Brel, Rosa Mota...
Infância, juventude, família, curvas e contracurvas da carreira profissional, paixões artísticas, volta ao mundo dos amigos em 80 dias ou talvez menos, um conjunto, em suma, de memórias escritas em modo epistolar a fugir para o ficcional – de tudo isto se faz Correspondência Interceptada (belo título!), de Júlio Roldão. De algum modo, também, um autorretrato, sem autocomplacências nem poses, de quem sempre cultivou a arte de viver acordado e de gostar de viver.
A prosa é viva e flui, aqui e acolá tem laivos de literariedade, e sabe bem lê-la, nesta época de desumanas frialdades em que vivemos.
José António Gomes
IEL-C (Núcleo de Investigação em Estudos Literários e Culturais da ESE do Porto)