sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Louise Glück (n. New York, EUA, 1943) – Dois poemas da Prémio Nobel da Literatura 2020

 






 

 

 

Confissão

Dizer que nada temo

seria faltar à verdade.

A doença, a humilhação

assustam-me.

Tenho sonhos, como qualquer pessoa.

Mas aprendi a ocultá-los

para me proteger

da plenitude: a felicidade

atrai as Fúrias.

São irmãs, selvagens,

que não têm sentimentos,

apenas inveja.

 

 

Primeira recordação

 

Há muito tempo fui ferida. Vivi

para me vingar

do meu pai, não

por aquilo que ele era

mas pelo que fui eu: desde o começo dos tempos,

na infância, acreditei

que a dor significava

que eu não era amada.

Significava que eu amava.

 

 

 

Versão portuguesa: José António Gomes