sexta-feira, 15 de abril de 2011

Vergílio Alberto Vieira: 40 anos de escrita

Em A Imposição das Mãos (Porto: Campo das Letras, 1999; Grande Prémio de Literatura ITF/DST 2001), Vergílio Alberto Vieira reúne, em jeito de balanço, o melhor de vinte anos da sua produção poética (1977-1997), sujeita a um trabalho de selecção, eliminação e corte.

Às cinco secções iniciais, já editadas, vem juntar-se uma colecção de poemas então inéditos em livro («Cidade irreal e outros poemas») de uma voz revelada em 1971 (Na Margem do Silêncio, Braga: Pax), que viria a repartir o seu labor por outras formas de expressão literária: a narrativa de ficção, a escrita diarística, a literatura para a infância, o texto dramático e a crítica.

Contenção e minimalismo, um quase-apagamento intencional do eu, ligado também à recusa de um lirismo à-flor-do-verso, aproximam por vezes esta poética da do haiku japonês. Daí que, no posfácio que escreveu para este livro, Gil de Carvalho possa falar em «parcimónia». E é recorrendo a essa forma muito própria de exprimir a beleza ou o horror do real que o poeta desagua, por vezes, nessas «fulgurações» (título de uma das séries) de que é feita a sua poesia:

A uma ave

compete

A orla incandescente (p. 68)

Leia-se ainda:

Um ramo

de chuva

Cinge o coração (p. 69)

Ou ainda este outro exemplo:

Tangível à noite, uma figueira cega persiste junto à cal. (p. 95).

Registe-se, contudo, que esta parcimónia evoluirá, já em período posterior ao dos segmentos aqui citados, para uma discursividade de maior fôlego – e de evidente domínio das artes poéticas –, detectável, por exemplo, nas superiores séries de sonetos, por vezes de ressonância mirandina e mesmo camoniana, que abrem a súmula poética de Papéis de Fumar (Porto: Campo das Letras, 2006).

Uma poesia, pois, a reler. Uma singularidade a reavaliar, já que, a 20 de Maio, decorrerá, no Auditório Multimédia do Instituto de Educação da Universidade do Minho, um simpósio sobre a Obra do Autor, que, este ano, completa quarenta anos de vida literária. Organizado pela unidade curricular de Literatura para a Infância e Juventude (Instituto de Educação – Universidade do Minho) e a Tropelias & Companhia – Associação Cultural, o simpósio conta com a participação de José António Gomes, Ana Margarida Ramos, Sara Reis da Silva, João Manuel Ribeiro e as ilustradoras Teresa Lima, Marta Madureira e Anabela Dias, além do próprio autor homenageado.

José António Gomes

(NELA - Núcleo de Estudos Literários e Artísticos da ESE do Porto)