sexta-feira, 12 de junho de 2009

António Variações (3/12/1944 – 13/6/1984) | 1984-2009: vigésimo quinto aniversário da morte

Não é raro os discursos da cultura de massas surgirem habitados por uma agudeza de observação e um sentido intuitivo surpreendentes, que de quando em vez encontram meios ideais de expressão, como acontece na canção pop e noutras modalidades da chamada «arte popular».

De aparência estilisticamente rudimentar, este modo sintético e muito eficaz de traduzir a «verdade» sociológica (ou até política) de um tempo impõe-se e fica a ecoar na memória.

Sob a forma de uma cantiga, por exemplo, e recorrendo a lugares comuns do linguajar urbano, a estribilhos que são autênticos achados, à anadiplose, à repetição, ao inevitável diminutivo e a jogos rimáticos elementares, restituem-se os essenciais contornos de um período histórico, uma dinâmica social, uma certa cultura, uma sensibilidade… Um arco que vai de Capri, c’est fini a Maria Albertina, passando por L’Amour en Fuite (de Alain Souchon) para nos atermos à esfera da canção dita popular.

 

Maria Albertina

Maria Albertina

Deixa que eu te diga

Esse teu nome eu sei que

Não é um espanto

Mas

É cá da terra e tem

Tem muito encanto

 

Maria Albertina

Como foste nessa

De chamar Vanessa

À tua menina?

 

Maria Albertina

Deixa que eu te diga

Esse teu nome eu sei que

Não é um espanto

Mas

É cá da terra e tem

Tem muito encanto

 

Maria Albertina

Como foste nessa

De chamar Vanessa

À tua menina?

Que é bem cheiinha

E muito moreninha

Que é bem cheiinha

E muito moreninha

António Variações | Humanos, As Canções que António Variações nunca Gravou, 2004

 

 

José António Gomes

NELA (Núcleo de Estudos Literários e Artísticos da ESE do Porto)